Entrevista

Flor de Lis
Flor de Lis em Signo Solar

Flor de Lis

Encontraram inspiração no Folk e no World Music chamam-se Flor de Lis e representaram Portugal no Festival da Eurovisão, em 2009, com o tema Todas as Ruas do Amor. Dona de um "World Smile" DanielaVarela, a vocalista da banda fala do  percurso dos Flor de Lis, da reedição do álbum de estreia Signo Solar e das parcerias com Paulo de Carvalho e Luís Represas. 

Em breve o vosso registo de estreia Signo Solar vai ter direito a uma reedição. Uma das faixas, o tema Obrigado, tem um dueto bem especial, trata-se de Paulo de Carvalho, um dos nomes sonantes da música portuguesa. Como é que surgiu a oportunidade dessa colaboração?

Flor de LisEsta oportunidade surgiu por que o nosso produtor é o mesmo produtor do Paulo de Carvalho. Uma das músicas que nós temos é mais ou menos entre o Folk português e o Folk cabo-verdiano, ou as mornas. Houve uma das vezes em que o Paulo Carvalho ouviu o tema e gostou dessa música. Ele gosta muito de música cabo-verdiana, inclusive já vez várias parcerias com o Tito Paris. Acabamos por conseguir este tema, Obrigado. Adoro o Paulo de Carvalho, o seu tom Jazzísta e meio Cabo-verdiano. 

 

O vosso som dentro da linha folk apresenta uma mão cheia de influências. É agradável fazer toda essa mistura?

É muito agradável. Principalmente porque toda a banda gosta de músicas do mundo. Ouvimos muita coisa diferente e passamos uns para os outros. Não só música do mundo, também ouvimos bastante jazz, é uma das nossas referências. Torna-se também muito divertida a própria pesquisa de registos sonoros e musicais de outros países, ou mesmo de folk português, que passamos uns para os outros. 

O vosso grupo já ultrapassou os dois anos de existência. Depois deste tempo de carreira a relação entre os membros da banda é ainda mais sólida?

Flor de LisIsso naturalmente acontece. Às vezes chegamos a sítios onde os objectivos das pessoas são diferentes e cada um toma naturalmente o seu rumo. Por enquanto estamos cada vez mais sólidos. É a única forma de também solidificarmos a nossa carreira. As pessoas também se vão conhecendo melhor, vamos sabendo melhor respeitar o espaço dos outros, até onde podemos ou não interferir, tanto a nível musical, como pessoal. Isso ajuda as pessoas a compreenderem-se e a crescerem juntas. Na nossa banda isso acontece. 

 

Estiverem recentemente em estúdio a gravar novos temas e em breve sairá a reedição do vosso primeiro trabalho Signo Solar. Haverá mais surpresas associadas com esta reedição?

Uma das novidades é a adição de um DVD, com extras, vídeo, concertos nossos ao vivo, alguns videoclips, que também estamos a planear fazer. Outra das novidades é termos a colaboração no álbum do Luís Represas. É um Cover que fizemos de uma música dele. Transformamo-la para ficar ao modo Flor-de-Lis. E o Luís teve a gentileza de gostar da música e de colaborar connosco. 

Tendo em conta que o vosso som se encaixa perfeitamente na chamada World Music está nos vossos horizontes uma tentativa de saltarem fronteiras?

Flor de LisSim. Esse é um dos objectivos desde o inicio da banda, podermos ir lá para fora. A banda é muito de mochila às costas e "Bora Lá"  - desculpem a expressão - é um bocado livre e nós gostamos imenso de viajar. Até porque é nas viagens que absorvemos em grande parte as influências de Musicas do Mundo. Mesmo para escrever uma letra é sempre bom ter essa experiência. 

 

Passaram cerca de dois anos após a vossa vitória no Festival da Canção. O que é que mudou na vossa vida desde essa altura?

Mudou muito. Antes do Festival da Canção éramos uma banda com quatro, seis meses, por volta disso, e não éramos conhecidos. Tocávamos só em Lisboa, em sítios que ainda hoje adoramos ir, em sítios como a Fábrica do Braço de Prata, o Chapitô, que fazem parte de um percurso mais "Underground" da cidade. Depois do Festival da Canção tivemos uma exposição massiva quase para todo o mundo e foi a partir daí que pudemos ter o nosso primeiro ano de concertos ao vivo, em 2009, e uma quase tournée durante o Verão. Foi também nesse ano que começamos a gravar o álbum. Provavelmente se não tivesse sido o Festival da Canção teríamos levado muito mais tempo a gravar o álbum. 

A experiência de representarem o nosso país num palco europeu foi extremamente interessante?

Sim, claro. Só que às vezes a responsabilidade acaba por ser um bocadinho esmagadora. Mas também tenho de admitir que foi só a principio. Depois de ganhar o Festival da Canção e começar a pensar "Oh meu Deus! Vou à Eurovisão" senti um bocado mais o peso da responsabilidade. Depois em cima do palco, embora um pouco nervosa, senti mais a honra por estar a representar o país. 

Na sua opinião a língua portuguesa é uma grande barreira para a vitória nacional na Eurovisão?

Sou da opinião que mais do que a língua ser uma barreira, a política é uma barreira. Já há muito tempo que me tinham dito que a Eurovisão é uma questão muito política. Claro que eu não sou ninguém para dizer que é verdade ou mentira. Este ano vamos ver quem é o próximo a vencer, mas duvido que nos próximos anos seja "alguma língua" fora do inglês, infelizmente. 

Qual é a sua análise à vitória dos Homens da Luta, com o tema A Luta é Alegria, sendo certo que eles cumpriram todas as regras e conseguiram a vitória mesmo na ponta final do concurso?

Fiquei contente. O ano passado quando eles concorreram acabaram por ser desclassificados, porque a música já tinha sido editada, ou algo assim. Gosto muito dos Homens da Luta, já os conheço há bastante tempo e identifico-me com a mensagem que passam em vários extractos das suas músicas. Tudo o que eles deram este ano ao Festival é bom, nomeadamente a atenção da parte das pessoas, que estava adormecida. Este ano eles conseguiram ir e conseguiram vencer. Sempre acreditei que eles iam ganhar, independentemente da opinião de muita gente que conheço. Acho que o povo votou bem e o povo é quem manda. 

O público votou no tema em questão, ou mais naquilo que o grupo representa, ou seja, nas mensagens que os seus temas trazem e nos quais as pessoas se identificam nesta altura?

Flor de LisAcho que as pessoas votaram mais pela situação actual. Eles passam uma mensagem que as pessoas partilham, vieram numa altura que a crise está a atingir o auge e mais sentido faz a sua mensagem.O povo português quer dizer que temos de abrir os olhos e as coisas não estão assim tão bem. Mas isso toda a gente já sabe. Eles simplesmente foram a manifestação desse desejo popular. Mesmo que muita gente diga que faz sentido cá dentro, mas que na Alemanha não vão compreender. Mas com as entrevistas que eles têm dado, até para o Japão, e com o interesse que têm suscitado na imprensa internacional, talvez as pessoas acabem por compreender. Visto que é um Festival da Europa e a Europa está em crise, talvez as coisas se arranjem para Os Homens da Luta. Espero muito honestamente que sim. 

A palavra crise não se adequa com o actual cenário da produção nacional, no que toca a novos valores têm surgido uma mão cheia de bons talentos e de grupos. Qual é a sua leitura do actual cenário da música portuguesa?

Flor de LisEsta é uma questão que já tenho discutido com vários amigos. Nos últimos anos esta é provavelmente uma das melhores fases da música portuguesa. Não é só o surgimento de bandas é também uma reinvenção da música popular e tradicional portuguesa, em muitas bandas que surgem, e isso é absolutamente fantástico. Ainda há pouco tempo falava com uma pessoa da rádio do Seixal e ele dizia que quando nós ganhamos na altura o Festival da Canção, que não acharam muita piada. Até porque fomos das primeiras bandas dentro desta onda da música folk a mostrar-nos e na altura foi um bocado estranho. Mas com o surgimento destas bandas todas as pessoas foram-se habituando. O que gosto também nestas novas bandas são as letras. As letras são na sua grandes maioria letras inteligentes, as músicas são bem pensadas.

Nos anos 80, 90 a música portuguesa não era muito considerada, era mais a música estrangeira. Eu gosto muito de musica estrangeira, nem quero dizer o contrário. Mas  actualmente se formos ver o nosso Top +, as bandas e os músicos que estão lá em cima  são muito conceituados. O nosso Pop não tem nada a haver com o Pop do resto da Europa, ou dos EUA e é um grande orgulho Portugal estar a inventar a sua própria música, mesmo porque começa a dar os seus frutos lá fora. Pode-se ver isso com o Prémio que os Deolinda receberam agora, o Songlines, um grande prémio de músicas do mundo, assim como já tinha recebido a Mariza. 

Para os próximos tempos quais são as novas metas para os Flor de Lis?

Estamos a começar a compor o segundo álbum e esperamos para o ano já ter o segundo álbum cá fora. Esperamos também este ano ir para o que mais queremos, a par das festas populares, os festivais de Folk e de World Music e a partir daí aprendermos muita coisa e gravarmos temas cada vez melhores. Queremos colaborar com muitos artistas portugueses e contribuir o máximo que pudermos para a música portuguesa.

Hugo Rafael e Eugénia Sousa
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