Linda Martini
A «Sirumba» joga-se ao som do rock
Os
portugueses Linda Martini estão de volta com o quarto disco de
originais. «Sirumba», com nome de jogo infantil, promete levar a
banda a novas alturas. O vocalista, André Henriques, fala sobre os
novos tempos, mais maduros, de um dos mais respeitados nomes do
rock nacional.
O
título do disco é o nome de um jogo da década de 90, «Sirumba».
Porquê este nome?
Nós [membros dos Linda
Martini] já nos conhecemos há muito tempo. E o primeiro sítio onde
me lembro de reparar em cada um dos meus colegas foi na escola
preparatória - andámos todos na mesma escola - numa altura em que
ainda não pensávamos em bandas. E nessa zona era muito comum
jogar-se Sirumba, um jogo infantil também conhecido como Policias e
Ladrões. Jogava-se na rua, com o traçado do jogo marcado a giz no
alcatrão. Não sei se por via do acaso chegámos a jogar juntos,
porque na altura nem todos nos conhecíamos. Mas achámos que o
conceito era tão engraçado, por remeter para esse passado comum,
que ficava bem para nome do disco.
O
álbum foi apresentado no Coliseu de Lisboa, no passado dia 2 de
abril. Como foi essa noite?
Correu acima das nossas
expectativas. Assumimos o risco de apresentar o disco no Coliseu.
Já tínhamos apresentado o álbum anterior numa sala com capacidade
para algumas centenas de pessoas e, desta vez, achámos que
conseguíamos dar o passo para uma sala maior. A aposta correu-nos
bem. O Coliseu estava praticamente cheio para nos receber. É uma
noite que vai ficar nas nossas memórias durante muito
tempo.
Qual
foi a sensação de pisar pela primeira vez esse palco
emblemático?
Antes de subirmos ao palco,
ao vermos a multidão que preenchia a sala, ficámos algo nervosos.
Mas em cima do palco transmitimos calma, segundo nos contaram mais
tarde os nossos amigos. Talvez por ser uma experiência tão surreal,
por termos sido tão surpreendidos, houve essa calma aparente. Foi
quase uma experiência fora de corpo, como se não fossemos nós que
ali estávamos a tocar. É uma sensação curiosa.
As
novas músicas introduzem uma sonoridade diferente. O que inspirou
essa mudança?
Nós funcionamos sempre por
reacção. Por isso, diria que a primeira inspiração para um novo
disco vem sempre do disco anterior. No «Turbo Lento» e «Casa
Ocupada», discos anteriores, estávamos numa fase em que usávamos
muito a distorção nas guitarras, baixo e mesmo na voz. Mais tarde,
depois dos discos estarem feitos, sentimos que muitas vezes se
perdiam pormenores, nomeadamente pequenas harmonias ou melodias de
guitarras ou voz, no desejo de mostrar esse lado mais nervoso e
urgente. Portanto, a primeira inspiração foi olharmos para aquilo
que tinham sido os discos anteriores, aquilo que nos deixou menos
satisfeitos em termos de produção. Então, surgiu a ideia de
privilegiar o espaço de cada instrumento, deixar que as guitarras e
a voz desenhem as suas linhas melódicas.
«Unicórnio de Sta. Engrácia» é o single de apresentação do
disco. O vídeo cruza a tensão da música tocada ao vivo com imagens
de animais selvagens na luta pela sobrevivência. Porquê esta
escolha?
Queríamos um conceito simples
para o vídeo, realizado por Vasco Mendes, cujo trabalho com outros
artistas admirávamos. A ideia foi fazer um vídeo de performance, ou
seja, nós a tocarmos, e depois introduzir uns planos de corte com
zebras e leões, que joga bem com a letra da música, que coloca a
questão de se ser "presa ou predador".
De onde
vem o curioso nome da canção?
O nome da música tem uma
história curiosa. Chama-se «Unicórnio de Sta. Engrácia» porque
demorou uma eternidade a fazer. Há músicas que se fazem numa tarde
e há outras que, por uma razão ou outra, não se encontra uma
solução que agrade. Por estarmos meio perdidos, surgiu este título
provisório para a canção, ainda antes de termos letra. Agradou-nos
pela mitologia associada às obras de Sta. Engrácia que, por estarem
amaldiçoadas, nunca acabavam, e pela ideia do unicórnio como animal
mitológico, perseguido por caçadores que nunca o conseguem
encontrar.
Ainda
em relação ao novo álbum, está disponível em diversos formatos,
incluindo em vinil. O que vos levou a editar nesse formato mais
vintage?
Nos últimos anos tem-se
assistido ao ressurgimento deste formato. Nós somos fãs do vinil,
até porque nascemos nos anos 80, quando ainda era muito popular.
Gostamos do objeto e de toda a simbologia que lhe está associada: o
ritual de abrir o vinil, o art-work das capas, os lados A e B. Não
quero anunciar a morte do CD, porque ainda tem uma fatia grande de
mercado, mas com o advento do digital, o CD acaba por se tornar um
formato mais perecível. Enquanto isso, o vinil tem estado a
regressar.
O que
se segue nos próximos tempos?
Esperamos tocar ao vivo um
pouco por todo o país. Já temos alguns concertos agendados e
estamos com muita vontade de mostrar o novo disco ao maior número
de pessoas possível.
Hugo Rafael - Rádio Condestável
Texto: Tiago Carvalho
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