Cuca Roseta
«Estamos a fazer chegar o fado aos jovens»
O terceiro álbum de Cuca Roseta é uma
viagem até ao outro lado do Atlântico. Com produção do brasileiro
Nelson Motta, «Riû» surpreende ao alargar as influências musicais e
estéticas da fadista portuguesa.
O
novo disco, «Riû», tem muitas surpresas. O produtor é o brasileiro
Nelson Motta, que assinou discos de Elis Regina, Marisa Monte ou
Daniela Mercury. Porquê esta escolha?
Quis o olhar de um produtor
brasileiro sobre este disco. O meu público diz que o meu fado é um
fado mais leve, mais fresco, mais positivo. Apesar de gostar de
falar de sentimentos, como todos os fadistas, foco-me mais na parte
positiva das experiências difíceis do que na parte negativa. E isso
lembra o samba antigo, que é uma música muito melancólica, onde os
brasileiros pegam na tristeza para a transformar em arte, leveza e
positividade. O objetivo foi, portanto, criar um disco leve, cheio
de esperança.
O que
a levou a escolher o título «Riû»?
É uma palavra com dois
significados. É o «riu» de rir e o «rio» de água, porque existem
sempre elementos da natureza nos meus discos. O primeiro tinha uma
pena, o segundo uma raiz e agora a água. O fado, para mim, é
comparável à natureza. Tem a sua beleza única, é natural, sem
máscaras. É totalmente puro e genuíno.
A
composição deste álbum tem colaborações de nomes sonantes. Um
exemplo é o brasileiro Djavan.
Foi incrível! Foi das
experiências mais maravilhosas da minha vida. Viajei até ao Rio de
Janeiro e fui a casa do Djavan, onde estive com ele e com o Nelson
Motta uma tarde inteira. Criámos uma música de uma forma muito
fluida. Admiro a forma como Djavan continua a chegar ao público
mais jovem. Tem uma carreira fantástica e, por isso, é uma honra
fazer este casamento entre o fado e a música brasileira.
Do
Brasil viajamos até ao Canadá. Outro nome sonante, Bryan Adams,
colaborou na composição de um tema. Como foi a
experiência?
A música do Bryan Adams fez
parte da minha vida durante muito tempo. Ele dizia que sente uma
grande nostalgia quando ouve falar de Portugal, porque viveu aqui
em pequenino; eu respondia-lhe que sinto uma grande nostalgia
quando ouço a música dele, porque me lembra a minha infância e
adolescência. Ouvir a voz dele quando recebi a música foi incrível.
A canção é linda e reconhece-se perfeitamente como sendo dele,
apesar de a transformarmos em algo mais português. Ele é também
responsável pela fotografia que dá capa ao disco.
Uma
capa onde surge a Cuca Roseta a sorrir.
É, sem dúvida, das minhas
fotografias preferidas que me tiraram. Quando conheci o Bryan Adams
fiquei impressionada com o seu trabalho como fotógrafo. É um
artista fantástico, seja em que área for. É uma fotografia
lindíssima que capta a alma de quem fotografa. E tem tanto a ver
comigo!
Além
destes dois nomes, há outros pesos pesados da música no disco.
Jorge Palma, Sara Tavares ou João Gil são nomes que o
enriquecem.
Sem dúvida. São três grandes
nomes da música que me influenciaram muito.
Como
foram as primeiras reações à sonoridade deste álbum que funde a
música portuguesa e a música popular brasileira?
Todas as pessoas têm dito
maravilhas deste disco. Tem mais maturidade e as pessoas gostam de
ouvir este fado mais leve. É um encontro do fado com outros géneros
musicais. Estou muito feliz com a forma como este disco tem tocado
as pessoas.
A
colaboração com Djavan e a sonoridade dos novos temas poderão
ajudar a Cuca Roseta a entrar no mercado brasileiro?
Acho que sim. O Nelson Motta
diz que o meu fado é muito bem recebido no Brasil. Já fiz uma turné
longa nesse país e, no Facebook, tenho muitos fãs do Brasil. Este
disco, em particular, tem o Djavan e o Ivan Lins, que é um dos
melhores compositores do mundo, e tem também duas canções que
integram apenas a edição brasileira. Penso que vai ter uma resposta
fantástica no Brasil. É tão bom quando somos embaixadores de
Portugal e ajudamos o fado a conquistar mais países. É importante
termos orgulho neste nosso país, que tem fragilidades, mas também
tem qualidades únicas.
Há
vontade de editar o disco noutros mercados?
Sim. Este disco foi pensado
para isso. Um pouco como resposta ao facto de nos receberem tão bem
lá fora. Tenho também uma canção em italiano. Acho que vai chegar a
muitos países, levando o nosso fado.
Como
é pertencer à nova geração do fado? Sente a responsabilidade de dar
continuidade a este género musical bem português?
Fico encantada com esta nova
geração de fadistas. Admiro-os a todos. Acho que estamos a fazer
chegar o fado aos jovens, porque eles identificam-se com as nossas
letras. Desta forma, o fado passa a ser de todos. Temos a
responsabilidade imensa de continuar esta música que é só
nossa.
Hugo Rafael
Texto: Tiago Carvalho
Facebook Oficial Alberto Matos