Entrevista

Cuca Roseta
«Estamos a fazer chegar o fado aos jovens»

1243261_639132836117975_1437078055_fotodeAlfredoMatos.jpgO terceiro álbum de Cuca Roseta é uma viagem até ao outro lado do Atlântico. Com produção do brasileiro Nelson Motta, «Riû» surpreende ao alargar as influências musicais e estéticas da fadista portuguesa.

O novo disco, «Riû», tem muitas surpresas. O produtor é o brasileiro Nelson Motta, que assinou discos de Elis Regina, Marisa Monte ou Daniela Mercury. Porquê esta escolha?

Quis o olhar de um produtor brasileiro sobre este disco. O meu público diz que o meu fado é um fado mais leve, mais fresco, mais positivo. Apesar de gostar de falar de sentimentos, como todos os fadistas, foco-me mais na parte positiva das experiências difíceis do que na parte negativa. E isso lembra o samba antigo, que é uma música muito melancólica, onde os brasileiros pegam na tristeza para a transformar em arte, leveza e positividade. O objetivo foi, portanto, criar um disco leve, cheio de esperança.

O que a levou a escolher o título «Riû»?

É uma palavra com dois significados. É o «riu» de rir e o «rio» de água, porque existem sempre elementos da natureza nos meus discos. O primeiro tinha uma pena, o segundo uma raiz e agora a água. O fado, para mim, é comparável à natureza. Tem a sua beleza única, é natural, sem máscaras. É totalmente puro e genuíno.

A composição deste álbum tem colaborações de nomes sonantes. Um exemplo é o brasileiro Djavan.

Foi incrível! Foi das experiências mais maravilhosas da minha vida. Viajei até ao Rio de Janeiro e fui a casa do Djavan, onde estive com ele e com o Nelson Motta uma tarde inteira. Criámos uma música de uma forma muito fluida. Admiro a forma como Djavan continua a chegar ao público mais jovem. Tem uma carreira fantástica e, por isso, é uma honra fazer este casamento entre o fado e a música brasileira.

Do Brasil viajamos até ao Canadá. Outro nome sonante, Bryan Adams, colaborou na composição de um tema. Como foi a experiência?

A música do Bryan Adams fez parte da minha vida durante muito tempo. Ele dizia que sente uma grande nostalgia quando ouve falar de Portugal, porque viveu aqui em pequenino; eu respondia-lhe que sinto uma grande nostalgia quando ouço a música dele, porque me lembra a minha infância e adolescência. Ouvir a voz dele quando recebi a música foi incrível. A canção é linda e reconhece-se perfeitamente como sendo dele, apesar de a transformarmos em algo mais português. Ele é também responsável pela fotografia que dá capa ao disco.

Uma capa onde surge a Cuca Roseta a sorrir.

É, sem dúvida, das minhas fotografias preferidas que me tiraram. Quando conheci o Bryan Adams fiquei impressionada com o seu trabalho como fotógrafo. É um artista fantástico, seja em que área for. É uma fotografia lindíssima que capta a alma de quem fotografa. E tem tanto a ver comigo!

Além destes dois nomes, há outros pesos pesados da música no disco. Jorge Palma, Sara Tavares ou João Gil são nomes que o enriquecem.

Sem dúvida. São três grandes nomes da música que me influenciaram muito.

Como foram as primeiras reações à sonoridade deste álbum que funde a música portuguesa e a música popular brasileira?

Todas as pessoas têm dito maravilhas deste disco. Tem mais maturidade e as pessoas gostam de ouvir este fado mais leve. É um encontro do fado com outros géneros musicais. Estou muito feliz com a forma como este disco tem tocado as pessoas.

A colaboração com Djavan e a sonoridade dos novos temas poderão ajudar a Cuca Roseta a entrar no mercado brasileiro?

Acho que sim. O Nelson Motta diz que o meu fado é muito bem recebido no Brasil. Já fiz uma turné longa nesse país e, no Facebook, tenho muitos fãs do Brasil. Este disco, em particular, tem o Djavan e o Ivan Lins, que é um dos melhores compositores do mundo, e tem também duas canções que integram apenas a edição brasileira. Penso que vai ter uma resposta fantástica no Brasil. É tão bom quando somos embaixadores de Portugal e ajudamos o fado a conquistar mais países. É importante termos orgulho neste nosso país, que tem fragilidades, mas também tem qualidades únicas.

Há vontade de editar o disco noutros mercados?

Sim. Este disco foi pensado para isso. Um pouco como resposta ao facto de nos receberem tão bem lá fora. Tenho também uma canção em italiano. Acho que vai chegar a muitos países, levando o nosso fado.

Como é pertencer à nova geração do fado? Sente a responsabilidade de dar continuidade a este género musical bem português?

Fico encantada com esta nova geração de fadistas. Admiro-os a todos. Acho que estamos a fazer chegar o fado aos jovens, porque eles identificam-se com as nossas letras. Desta forma, o fado passa a ser de todos. Temos a responsabilidade imensa de continuar esta música que é só nossa.

Hugo Rafael
Texto: Tiago Carvalho
Facebook Oficial Alberto Matos
 
 
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