Entrevista

Banda em digressão
Norton: Ventos de Mudança

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Norton, a banda de Castelo Branco, lançou em 2011 o terceiro álbum, Layers of Love United. O novo trabalho vem assinalar uma fase de viragem da banda, que se aventura por uma sonoridade mais Pop. Pedro Afonso, o novo vocalista, fala da importância deste trabalho discográfico, do single de apresentação do álbum, do papel da Internet na divulgação e promoção da música e na internacionalização.

Com o terceiro disco a marcar uma nova etapa no vosso projecto, 2011 vai ser um ano importante na vossa carreira?

Estamos num processo de viragem na vida da banda. O terceiro álbum para uma banda é, a meu ver, dos álbuns mais importantes. O primeiro álbum é o cartão de visita, a banda mostra-se um bocado, não há muita preocupação e a imprensa gosta sempre de ter coisas novas; ao segundo disco a imprensa não liga tanto, porque a banda já não é novidade; mas o terceiro disco é aquele onde se tem de mostrar algo realmente bom. Isto acabou por acontecer connosco. Somos uma banda com nove anos. Quando começamos a pensar no terceiro disco da banda reunimos e decidimos o que é que tínhamos de mudar e o que queríamos trazer de novo para as pessoas, e, acima de tudo, para nós. Acabamos a mudar, um pouco, a sonoridade. Tornamo-nos menos introspectivos - era uma característica da banda fazer música intimista. Assumimos as nossas músicas numa perspectiva de canção Pop, com muitos refrões.

As mudanças também se devem à entrada de novos elementos na banda?

O Manel Simões entrou para a banda, em Dezembro de 2009. Ele já tocava com os Norton, é nosso amigo há vários anos, mas em 2009 formalizou-se como elemento da banda. Trouxe uma "lufada de ar fresco". Ele toca guitarra e faz segundas vozes. No início de 2010, o anterior vocalista, o Alexandre Rodrigues, saiu da banda e eu acabei por assumir as vozes principais. Foi um desafio novo para a banda e de uma forma quase natural teria de haver uma mudança. Mudaram-se vozes na banda, há uma guitarra nova e um terceiro disco a ser feito, já com a ideia de alterar alguma coisa na sonoridade dos Norton.

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Foi um desafio aliciante tomar o lugar principal do projecto e dar voz ao grupo?

Sempre gostei muito de "estar no meu cantinho"e trabalhar na composição a nível instrumental. Sempre foi o meu forte e o lado onde me sentia melhor. Em bandas anteriores já cantava, mesmo em Norton já assumia as segundas vozes da banda. Mas, ser a voz principal é um desafio enorme para qualquer pessoa. É o assumir de novas responsabilidades, de uma nova postura e de novos desafios. Há um compromisso diferente, onde a comunicação com as pessoas é muito importante. Nessa perspectiva foi aliciante, apesar de ser um desafio enorme e de me ter tirado umas boas horas de sono.

O cartão de visita do vosso terceiro longa duração, o single Two Points, conquistou rapidamente airplay nas rádios, de norte a sul do país. Foi uma boa surpresa?

Confesso que sim. Apesar de termos a certeza que a música é bastante alegre e podia chegar às pessoas. Ainda não estávamos a trabalhar no terceiro álbum e já tínhamos o Two Points praticamente feito. Quando começamos a trabalhar no disco, fomos ao baú e pensamos logo que a música tinha de estar no disco novo. É precisamente esta linha que queremos trazer para este trabalho. O que acabou por acontecer é que música está em todo o lado e a imprensa aceitou muito bem. Foi um feedback muito positivo.

A Internet é uma forte ferramenta de promoção das bandas e dos temas. Pegando num comentário, numa conhecida plataforma de vídeos, que dizia mais ou menos o seguinte :« Era este tipo de música que Portugal deveria levar à Eurovisão». No futuro gostavam de ter uma experiência com estas características?

Penso que não. O Festival da Eurovisão é um espectáculo que está montado e direccionado para um mercado que não tem nada a ver com o nosso mercado, nem tem nada a ver com a postura com que estamos na música. Também vi esse comentário e achei engraçado. De uma forma geral, também concordo com essa pessoa. Temos muito melhor produto para ir à Eurovisão, do que aquele que tem ido nestes últimos anos. Mas o próprio concurso também é direccionado para aquele tipo de música. Agora se gostaríamos, ou não, de ir a um concurso desse género, para já, penso que não. Não faria grande sentido para uma banda como nós.
No vosso currículo já tem uma Tour Europeia. No entanto, Espanha continua a ser o ponto forte da vossa internacionalização. No mês de Maio tiveram alguns espectáculos lá e em Junho regressaram. Os "Nuestros Hermanos" estão muito receptivos ao vosso som?
Felizmente temos tido muita sorte e temos tocado bastante em Espanha. É um país que nos tem acolhido, logo desde o início, muito bem. Principalmente com os dois últimos discos. Com o Kersche, em 2007, e agora com o Layers..., em 2011. Fazendo contas por alto, chegamos a tocar mais com o Kersche, em Espanha, do que no nosso país, o que nos deixa, por um lado, tristes. É verdade que eles têm um mercado enorme. Um mercado alternativo e indie, três vezes ou quatro, maior que o nosso. Têm muitas salas, uma impressa escrita de grandes dimensões, programas de televisão direccionados mais para o mercado alternativo e vários estilos de música. As coisas têm corrido melhor em Espanha, do que no nosso país. As coisas vão acontecendo sem estarmos à espera.

A escolha da língua Inglesa para as vossas canções é uma escolha natural?

Essa tem sido uma pergunta que nos têm feito frequentemente. Nós crescemos todos a ouvir música cantada em inglês. Esta é a forma mais fácil que encontramos de nos expressarmos e de comunicarmos a nossa música ao mundo. Acredito que há espaço para toda a gente e que a música tem uma linguagem universal. Não será por cantarmos em inglês, ou chinês, ou noutra língua qualquer que deixamos de ser portugueses e de fazer boa música. Há mercados para toda a gente. As nossas influências foram maioritariamente, e continuam a ser, de bandas a cantar em Inglês. Quanto a isso, para já, não há muito a fazer. Não seria honesto da nossa parte fazer música em português só por que o mercado português assim o exige, ou está mais aberto a isso, neste momento.

Conseguiram provar que a música não tem barreiras e o facto de estarem no interior do país, em Castelo Branco, não vos impediu de dar todos os passos que pretendiam?

Pode ter dificultado em alguns aspectos, mas, de forma geral, diria que cada vez menos nos deparamos com esse problema. A Internet é uma ferramenta enorme de promoção e divulgação de artistas. Para nós, tem sido mesmo a maior ferramenta. Vamos editar este novo disco no Japão, já editamos o Kersche, e surgiu tudo por contactos via Internet. Temos pessoas a ouvir o disco na Indonésia, na Tailândia, em Inglaterra, no Canadá, em Espanha, etc. Hoje em dia, com a Internet, a interioridade é cada vez menos um problema para as bandas. É tudo uma questão de postura, profissionalismo e de continuar a trabalhar.

Eugénia Sousa/Hugo Rafael
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