Entrevista

Mundo Secreto
A Revelação continua

ensino_jovem_1.jpgA banda portuguesa, Mundo Secreto, está a preparar o novo disco, Néons & Lasers. Duarte "Sistema" Dias, na produção instrumental, diz que o prazo para a conclusão do álbum é o próximo mês de agosto. O tema de apresentação, Leva o Meu Mundo, já é conhecido do público e a aceitação é boa. O Hip Hop manifesta-se nas ruas e não está em crise.

É conhecido o primeiro avanço do novo disco. Nos outros temas, o trabalho em estúdio já está concluído?

O trabalho em estúdio ainda não está cem por cento concluído. Era para lançarmos o disco em maio, mas achámos que seria melhor aguardar para o final do ano. O disco já estava quase fechado, mas como estamos com esta vontade toda para compor, de certeza que, entretanto, surgirão músicas novas.

No que toca ao trabalho já realizado, a sonoridade tem continuidade em relação aos trabalhos anteriores?

Sim. Isso foi uma preocupação que sempre tivemos, que não houvesse rutura com o que fizemos no passado. Aos poucos vamos refinando a nossa sonoridade. Para as pessoas ouvirem e dizerem: "isto é Mundo Secreto". É ótimo quando uma banda consegue uma sonoridade própria, como as grandes bandas têm, por exemplo, quando ouvimos Coldplay, dizemos logo que é Coldplay. Obviamente, que os Mundo Secreto são uma banda que abraçaram sempre sonoridades diferentes. Mas quando fazemos isso - e estamos a fazer isso agora -, tentamos sempre que aquilo seja genuíno e genuinamente marcado com o carimbo dos Mundo Secreto.

Há alguma possibilidade de surgirem remisturas deste novo avanço? De convidarem produtores para darem novas leituras ao tema?

Sim, já pensámos nisso. Como andamos sempre na estrada, tivemos oportunidade de conhecer DJs e produtores, com alguns dos quais até criamos empatia. Pensámos que faria sentido dar as pistas a um, ou outro, e ver o que é que saía. No Hip Hop também gostamos de "samplar" outras músicas. O Hip Hop também é dar uma abordagem diferente a uma música. Já ouvimos remixs de músicas nossas antigas, sem que tivéssemos dado autorização. Mas não temos qualquer problema, gostamos que as pessoas abordem as nossas músicas. Também nos dão um ponto de vista diferente, ou algo que não tivéssemos visto naquela música. O que é ótimo.

Quais são as perspetivas de trabalho, para o Verão de 2013?

O Verão de 2013 vai ser um misto de estúdio e de estrada. Nós estamos a receber convites para concertos para as Festas de Verão. Contamos também acabar o disco em final de agosto, é esse o nosso deadline. Já marcamos o estúdio para agosto.

Nos espetáculos ao vivo vão apresentar as novas composições para testar a reação do público?

ensino_jovem_2.jpgSim. Já fizemos isso. Tivemos oportunidade de tocar ao vivo este ano e já experimentamos algumas músicas novas. A música Leva o Meu Mundo, no primeiro concerto em que a tocámos, as pessoas já cantavam o refrão. Sentimos que as pessoas gostam da música. Outras músicas que as pessoas ainda não conhecem, mas já tivemos oportunidade de as tocar ao vivo, também estão a resultar muito bem.

Já há contactos com editoras, há boas perspetivas de o disco poder sair com o selo de uma multinacional?

Há algumas perspetivas, não muitas. Comparativamente com o primeiro disco, que lançamos pela Universal, os tempos eram diferentes. Havia um grande orçamento para gravar discos e para promoção. Também se nota esta crise no mercado da música. Mas com o sentido de trabalho e de responsabilidade de querer fazer algo novo, as próprias editoras oferecem outras alternativas às bandas, como seja gravar EPs, ou apenas singles, em vez de discos. Estamos a tentar perceber o que as editoras têm para nos oferecer. Se não for com nenhuma editora, será independente. Temos os nossos canais de promoção, não podemos é ficar parados.

A edição de um disco de forma independente, constitui um custo acrescido para o grupo?

Sim. Um custo "acrescidíssimo". É preciso gostar muito, para gastar tanto dinheiro num disco. Mas a verdade é que nós gostamos e temos plena confiança naquilo que fazemos. Isto é um negócio, há que investir para depois colher.

Os Mundo Secreto estão incluídos na linha do hip hop e outras sonoridades transversais. Como é que analisa a situação nesta altura?

Se tivessemos que definir a banda num só estilo seria o Hip Hop. Mas tentamos fazer um Hip Hop um pouco diferente do habitual. O que acontece dentro desta perspetiva do Hip Hop nacional é que têm surgido novos nomes e também temos assistido à afirmação de artistas mais antigos, como por exemplo os Dilema, Sam de Kid, que nos últimos anos têm tido uma aceitação ainda maior do público. Há quem diga que o Hip Hop se tornou Pop e que o verdadeiro Hip Hop é o Underground. Não partilho dessa opinião: Hip Hop é Hip Hop, tem de ser feito, e, cada um à sua maneira. No Hip Hop há muita gente a tentar copiar algo, não criam o seu próprio estilo. O Hip Hop tem de ser feito dessa diferença de estilos. Dentro da mesma sonoridade, todos temos de marcar pela originalidade. Aparecer com algo novo, diferente e fresco.

Os Mundo Secreto estão a sentir também na pele a austeridade?

Sim. Para além de haver menos concertos, os orçamentos para as festas das cidades são cada vez menores. Algumas autarquias, devido aos cortes orçamentais, optaram até por não ter bandas. Estão até à última hora a tentar decidir. Há muitos contactos para concertos, mas as confirmações são cada vez mais feitas em cima da hora por causa dessa dificuldade. O que nós sentimos, também, é que há muita gente que está aí para tentar inverter a crise. Nós também estamos a tentar inverter a crise, mostrando algo novo às pessoas e tentando adaptar ao mercado.

Esta falta de investimento na música, a médio prazo poderá ser uma tremenda perda para a cultura portuguesa?

Claro que sim. Aqui estamos a falar de música, obviamente, que a pintura, a escultura, o teatro, o cinema também padecem dos mesmos males. A partir do momento que deixamos de ter um Ministério da Cultura, para ter uma Secretaria de Estado da Cultura, há cortes orçamentais. Nós que vivemos da, e para, a cultura achamos que a cultura é o que faz subsistir e faz valer a história de um país. São os valores culturais que fazem a identidade de um país. Quando se corta nisso, corta-se também na identidade e até na ideia que os outros têm de nós. Mas há pessoas ligadas à cultura que, com trabalho e com sacrifício pessoal, tentam inverter ao máximo a crise. Temos de nos concentrar nos casos de sucesso, andar para a frente e pensamento positivo.

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