depois de "Chão Nosso", o
primeiro disco do músico, na altura vocalista da banda Trovante.
"Tomara" é o tema de avanço de um disco luminoso e com muita
cor.
Pegando
no título genérico do disco, porquê a escolha de Cores?
É uma escolha que vem depois do
disco estar feito. Não é um disco conceptual, são de facto canções,
histórias. Surge também pela palavra "cores" aparecer em algumas
letras e, depois de tentar ganhar alguma distância em relação ao
disco, para o resultado positivista e otimista. Passa pelo modo
como as canções se constroem, juntando notas umas às outras; as
cores também se juntam para conseguir algo que não seja cinzento ou
normalizado, em que tenhamos capacidade de escolha e opção, em que
não sejamos mais um número no meio de números. Que essas cores nos
apontem algo mais positivo do que sermos empurrados para uma
depressão, que já chega o que chega e basta o que basta. Além
disso, é muito perigoso quando todos pensamos da mesma forma.
Quanto mais cor e mais diversidade imprimirmos à nossa vida melhor
futuro conseguiremos. Nós estamos a precisar de muita cor, chega de
cinzento.
O
primeiro avanço deste álbum é um espelho desse positivismo e de
alguma utopia à mistura?
Essa utopia tem de ser encarada
como qualquer coisa que sabemos à partida que é inatingível, mas
temos de continuar a correr atrás dela. Se deixarmos de correr ela
vai definitivamente embora com as pequenas coisas largadas pelo
caminho, enquanto se afasta de nós. Tem um lado irónico dizer que
era bom que fosse sempre assim, a gente sabe que não é. Ao mesmo
tempo, não mandamos a toalha para o chão. Queremos imaginar que
será possível que seja sempre assim.
O
alinhamento deste álbum apresenta 11 faixas, 10 são originais e uma
cover, uma versão de um tema do Fausto. Era uma ideia antiga pegar
nesta canção?
É uma ideia que esperava a
chegada de um disco novo para a poder registar. Há muito tempo que
ando a dizer ao Fausto que ia gravar o tema. Foi esta ocasião
o momento certo para o gravar. Tenho uma enorme amizade e admiração
pelo seu trabalho. Ele é de facto um dos músicos portugueses que
mais me tocou e influenciou e por isso é sempre muito bom trabalhar
o material dele.
Em todo o
processo criativo teve algumas participações especiais, mesmo
dentro da esfera familiar…
Isso não acontece por capricho de querer ter alguém
da minha família a trabalhar comigo, até porque a música e o nosso
trabalho não se compadecem disso. Mas sim pela qualidade que vamos
buscar aos diversos parceiros que trabalham connosco. Neste caso
foi isto que me importou antes de mais nada. Foi essa qualidade que
surgiu e fez com que trabalhasse esses textos. A Carolina Represas,
a minha filha, revelou-se alguém que pode ser uma boa parceira para
coisas futuras. É bom que esta primeira experiência lhe traga
segurança para continuar a escrever, isso também é
fundamental.
É caso
para dizer que a música faz parte do ADN familiar?
Acho que sim. Eu e os meus dois
irmãos tocamos e estamos muito ligados à música. Os meus quatro
filhos gostam muito de música. Mas nenhum deles está dirigido para
seguir ou para viver na música. Serve aqui como elemento de
formação. O facto de se entregarem de uma forma completa à música
ajuda muito na formação pessoal.
Este
disco sucede a "Olhos nos Olhos", passaram já seis anos após a
edição desse registo. A edição de cada álbum é uma nova primavera
na vida de um artista?
Sem dúvida nenhuma. Há sempre
passos que fazem abrir estradas à frente. Não só em termos de
desenvolvimento de ideias, propostas, soluções, mas músicas que
sustentam novos espetáculos e concertos. Mais do que o disco ser um
elemento para colocar no mercado, é um testemunho. Cada disco que
se faz é de facto uma nova primavera, um novo começo, uma nova
caminhada.
Que tipo
de sensações é que tem quando é editado um novo álbum e tem o
primeiro contacto físico com o CD?
É muito próxima daquela que tive
com o primeiro disco, em 1977, quando editámos "Chão Nosso", com os
Trovante (éramos miúdos, tínhamos 20 ou 21 anos). Embora hoje em
dia as coisas sejam mais materializáveis; antes tínhamos de esperar
que o disco fosse prensado e viesse. Agora podemos ter um CD antes
de estar fabricado. Mas esta sensação de pegar e agarrar o disco é
qualquer coisa que para mim é muito excitante. Até quando vou
comprar um disco de alguém, que quero muito, e o trago para casa,
para mim é muito bom. É uma sensação de grande realização.
Há muitos
analistas que preveem o desaparecimento físico do CD, em
substituição do digital. Na sua opinião, é uma grande perda para
quem gosta de ter a música em casa, quem gosta de colecionar e ter
os CDs na prateleira?
Não estou muito seguro se esse
processo de substituição do CD pelas músicas nas plataformas
digitais será tão definitivo. Sabemos que as vendas dos CDs caíram
imenso em termos comparativos. Mas há muita gente que vai continuar
a ter o prazer e o gosto de ter o disco, como se fosse um livro,
para colocar na sua biblioteca, na sua discoteca. Para ouvir no
conforto de casa, ou do carro, sem estar em frente a um computador
ou passar de equipamento para equipamento. O que acho fundamental é
que isto não seja visto como um pretexto para as variadíssimas
opções que existem na música do mundo inteiro serem apagadas por
uma torrente normalizada, que inunda as plataformas digitais, e põe
de lado a capacidade de opção das pessoas em relação ao que querem
ouvir.
Foi
consensual a escolha para o primeiro avanço do disco, o tema
"Tomara"?
Isso é algo que eu entrego a quem
sabe disso. Ou seja, não tenho a distância suficiente do disco para
poder eleger uma música que tenha essa função. Deixo ao critério de
quem chegou de novo e está do outro lado, editoras, equipas de
divulgação para poderem nomear a canção que vai ser a primeira
representante do disco. É bom quando acabo por olhar para essa
escolha e sei que de facto tinham razão. Esta primeira canção de
facto faz muito sentido.
Após a
edição e a apresentação do disco, agora a tour. Muita vontade em ir
para a estrada mostrar estas novas canções ao vivo?
Sem dúvida nenhuma. Para mim o
objetivo final é o contacto com o público. Aquilo que gosto de
fazer é estar no palco e levar as canções às pessoas. Fazer com que
as canções tomem formas diferentes à medida que vão saltando de
palco para palco e vão renascendo cada vez que são tocadas.