Entrevista
Um lugar ao sol
Ricardo Oliveira ficou conhecido em concursos de
música da televisão portuguesa. Na primeira edição do Ídolos (SIC)
conseguiu o segundo lugar, quase dez anos depois, com A Voz de
Portugal (RTP1), alcança a mesma posição. Do prémio fazia parte a
gravação do álbum, O Vento Mudou, com hits de grandes nomes da
canção nacional. Ele gosta de baladas, de cantar em português, e
espera gravar um disco de originais. A glória também pertence aos
segundos.
Tudo
começou com a participação num concurso televisivo. Foi a primeira
grande experiência de ter visibilidade à escala nacional?
Já tinha participado, na década de
90, no Big Show Sic. Mas não estive tão exposto como a partir do
programa Ídolos, em 2003. O Ídolos foi uma grande rampa de
lançamento. Só a partir daí é que as pessoas começaram a
conhecer-me e ao que gosto de fazer. Todos os Sábados entrava na
casa das pessoas, elas gostavam de ver o programa. Depois, houve
aquele tempo entre o Ídolos e a Voz de Portugal. Saiu o meu
primeiro álbum a seguir ao Ídolos. Não tive sorte. Foi um álbum
muito pouco divulgado, que acabou por não andar muito para a
frente. Continuei a fazer o meu trabalho de bar e casamentos.
Surgiu a oportunidade de ir à Voz de Portugal e a fasquia ficou
mais alta.
Houve um
hiato, de quase 10 anos, entre as participações em programas
televisivos. Este espaço deu para ganhar mais experiência e vontade
para trilhar outros rumos?
Sim. O Ricardo Oliveira que
participou no Ídolos, não tem nada a ver com o Ricardo Oliveira que
participou n` A Voz de Portugal. Ganhei experiência, amadureci
durante estes anos. Ao nível do projecto de lançar Cd`s, estou
muito mais preparado neste momento. Na altura tinha 23 anos e
talvez ainda não tivesse a maturidade suficiente para assumir um
contrato com aquela envergadura. Talvez não tenha surtido efeito
por causa disso, e não tenha chegado às pessoas, como gostava de
chegar. Agora, com este álbum, tenho uma atitude distinta.
A mais
recente aventura televisiva foi com A Voz de Portugal, onde chegou
à final, tendo conquistado o segundo lugar. Como é ser quase o
vencedor?
Cheguei à mesma posição, nos dois
programas. Há pessoas que dizem que fui "o primeiro dos últimos"; e
há os que dizem que fui o segundo, e é isso que eu também acho,
afinal, havia mais gente atrás, do que à frente. Foi um segundo
lugar merecido. Dei tudo o que tinha para tentar ganhar o programa,
não consegui, mas fiz um bom trabalho. Não me aborrece nada estar
em segundo lugar. Tenho o mesmo contrato que o primeiro
classificado.
O prémio
para o vencedor era um contrato para a gravação de um álbum. No
entanto, a editora, a Universal Music, acabou por convidar também o
segundo classificado…
Exactamente. A ideia do Programa era essa: quem
ganhasse, ganhava um CD. Quando fiquei em segundo lugar, tive a
minha reacção normal. Passados 10 minutos, duas pessoas da
Universal perguntaram-me se estava interessado em também gravar.
Fiquei extremamente contente. O meu grande objectivo, quando
participei no concurso, era ter um contrato com uma editora, a
nível nacional. O meu objectivo foi cumprido.
Os
programas de televisão são rampas de lançamento que dão
visibilidade em grande escala. Mas por vezes não há continuidade, e
os músicos não conseguem manter uma carreira…
Isso é certo. Muitas das vezes não
passa só pelo artista, também por quem está atrás do nosso
projecto. Tenho a certeza absoluta quem está por detrás do meu
projecto tem capacidade, além de querer que ande para a frente.
Tenho sorte, tenho a maior editora a nível nacional a apoiar o meu
trabalho. Eles vão fazer todos os esforços para uma boa promoção,
as pessoas ficarem a conhecer o meu trabalho e gostarem. Mas também
temos de olhar por nós próprios. É preciso ter maturidade e estar
preparado. Não podemos culpabilizar ninguém. Por vezes, só cantar
não chega ao público, por muito que se cante bem. Temos de saber
cativar o público.
Muitas
vezes, há vozes incríveis que simplesmente desaparecem…
Há vozes que desaparecem ou ficam à
sombra de algum artista. São objectivos de vida, não tenho nada
contra, pelo contrário. Sou amigo de muitos cantores que fazem esse
trabalho e são bons. Há cantores portugueses que eu gosto e não me
importava de fazer vozes, fazer parte do grupo deles. Mas o meu
objectivo é ser um artista, tentar ser alguém na música em
Portugal, e que a música em Portugal continue a fazer furor.
No
alinhamento do seu trabalho há temas intemporais da música
portuguesa. Participou na escolha do alinhamento final do CD?
O alinhamento final do CD foi
escolhido entre todos. Nós funcionamos como uma família. A ideia de
um é exposta para todos, e se todos concordarem, avançamos. Em
relação às músicas foi exactamente assim que se passou. Cada uma
tinha uma lista com os hits que achava mais correctos para o álbum.
Depois, fomos a votos para ver qual as músicas que mais agradavam a
todos. Foi assim que escolhemos os temas.
Nos temas
escolhidos para o álbum há alguma música que tenha gostado mais de
gravar?
Adorei gravar todas as músicas. São
temas intemporais, como disse, muito diferentes umas das outras.
Consegui criar um ambiente muito idêntico para todas elas.
Considero-me um cantor mais baladeiro e as baladas acabam por
marcar um pouco mais. Estou a falar do Adeus Tristeza, Flor sem
Tempo, Sol de Inverno. Estas músicas são como o meu habitat
natural. Acabo por interiorizar mais estes temas. Mas também adorei
gravar outras músicas. Por exemplo: O Pensando em Ti, o tema da
banda Gemini, os "ABBA portugueses"; O Só nos Dois é que Sabemos,
que também é um tema calminho.
Há muita
responsabilidade em pegar em clássicos da produção nacional e
dar-lhe novas roupagens e leituras?
Sim, obviamente. Estamos a falar de
cantores que são imbatíveis em personalidade, em versatilidade.
Pessoas que tem uma forma de cantar única: Carlos do Carmo, Paulo
de Carvalho. Quando cantam é como se explicassem realmente o que
diz a música. É impressionante a forma como dizem as palavras. É
uma grande responsabilidade para mim, como artista novato, agarrar
em músicas, que para muitas pessoas querem dizer algo. Mas é também
uma vantagem estar a cantar músicas sobejamente conhecidas do
público português. É complicado, mas é uma mais valia.
Após a
gravação de um trabalho com estas características, estão abertas as
portas para um álbum de originais?
Se Deus quiser um álbum de
originais há-de surgir. As coisas estão preparadas para que isso
aconteça. Mas como costumo dizer desde o Ídolos, e depois na Voz de
Portugal, isto tudo pode acontecer, se o público português
quiser.
Gostaria de
gravar um álbum recorrendo a êxitos internacionais?
Desde sempre fui um grande defensor
da música portuguesa. Não digo que não o farei, a vida dá muitas
voltas e nunca se sabe o que pode acontecer, mas será muito difícil
fazer um álbum com temas internacionais.