Entrevista

Klepth
A Saudável Hipocondria dos Klepht

Após uma estada na Califórnia para trabalhar nas músicas de um novo disco, a banda portuguesa Klepth regressou com o álbum, Hipocondria. Diogo Dias, vocalista dos Klepht e imagem da MTV Portugal, fa la do primeiro concerto em 3D da banda, de projectos e de "Hipocondria". E sem contradição defende que a música por cá está de boa sáude.

Klepth

Há alguma história associada ao nome deste registo, Hipocondria?

Há sempre uma dificuldade em explicar o porquê de Hipocondria.Quando estávamos a compor o álbum, antes de irmos para os Estados Unidos, estava na altura da Gripe A. Ligávamos a televisão, e todos os dias, a toda a hora, passavam essas notícias. Lembro-me de ler um artigo do Miguel Esteves Cardoso sobre a suposta sociedade hipocondríaca, e achei piada ao conceito. Mais tarde vi outras reportagens, em outras revistas, a falar disso mesmo. A hipocondria é algo que está na nossa cabeça. As doenças estão na nossa cabeça e cabe-nos a nós próprios curá-las. Quando fomos para os Estados Unidos, ficamos fechados durante um mês a tocar e a batalhar nas mesmas músicas. Achamos piada dar este nome, Hipocondria, porque durante esse processo nós próprios duvidamos das nossas músicas e de tudo aquilo que estávamos a fazer. Mas percebemos que era um problema da nossa cabeça e quando nos distanciássemos de tudo as coisas iriam voltar ao normal. A Hipocondria é um bocado o retrato daquilo que estava a acontecer na nossa sociedade e é ao mesmo tempo a introspecção da banda, no sentido em que há certos problemas que só estão na nossa cabeça e que só nós somos capazes dos resolver.

Estão satisfeitos com o feed-back alcançado com os primeiros singles do álbum?

Sim, sem dúvida. Tudo de Novo foi o primeiro single. É sempre um bocado complicado para uma banda escolher singles, ainda mais agora sem editora. Nós acreditamos em todas as músicas, caso contrário as músicas não faziam parte deste álbum. Chegou um ponto em que tínhamos de escolher e O Tudo de Novo pareceu a música que conciliava melhor estes dois universos, o primeiro álbum com este segundo álbum, com um lado mais rock. O segundo single, Explicação, é uma música mais divertida, mais leve, que  queríamos também apresentar ao público. Agora mostramos o lado mais rock com A Idade da Estupidez. É um single que tem alguma violência, coisa que até agora as nossas músicas não tinham. Temos de dosear bem a carreira, temos de ir lançando as músicas que representam o disco. Com um single as pessoas não ficam a conhecer um disco. Mas com quatro ou cinco podem vir a conhecer e é esse o nosso objectivo. 

Gostam de estar sempre na linha da frente na música. Foram a primeira banda em Portugal a gravar um concerto em 3D. Gostaram de ver o resultado final do concerto a três dimensões?

Uma vez que somos uma banda independente temos de chamar a atenção aos meios de comunicação social, de todas as maneiras possíveis. No primeiro álbum tínhamos feito o primeiro concerto no Second Life, uma plataforma da Internet, ao vivo, e para este segundo álbum queríamos algo maior. Numa conversa surgiu a ideia de fazer o concerto 3D. Reparamos que já existiam os meios necessários para fazer um concerto desses em Portugal. Procuramos a parceria da Zon, que já tinha trabalhado connosco também no álbum e a partir daí foi um conjunto de vontades que se juntou e conseguimos realizar.  Apesar de não ser uma produção ao nível dos U2 3D, dos U2, por que não há dinheiro para isso, foi uma experiência muito gratificante e única. 

Toda essa produção envolveu com certeza uma enorme logística, uma grande equipa para produzir o concerto em 3 D?

Sim, aquilo foi uma loucura. Foi na Casa da Música. Não sei ao certo quantos pessoas estavam envolvidas, mas lembro-me perfeitamente que a rotunda da Boavista quase ficou parada. Os camiões da Regi eram tão grandes que quase não conseguiam passar. Houve um conjunto de pessoas que estiveram envolvidas e a quem estamos agradecidos, pela forma como trabalharam connosco, e a toda a equipa técnica que nos ajudou a conceber um espectáculo um pouco diferente, para de alguma maneira surpreender com este 3D. Estamos muito satisfeitos com esta experiência, com o resultado final. 

Ainda em relações a actuações para este ano de 2011. Há muito trabalho na estrada para a Banda?

É um ano complicado para Portugal, de um modo geral, e como é óbvio para a música também. No entanto temos tido várias propostas para concertos. Tenho alguma dificuldade em memorizar coisas e por isso aconselho todas as pessoas que queiram saber quando é que os Klepth vão tocar a ir ao faceboock dos Klepth onde temos as datas dos concertos à agendar. Mas tem estado a correr bem, e passada esta fase em que   não acontecem tantas coisas, agora têm começado a surgir vários concertos e esperamos ter um Verão em cheio a mostrar este Hipocondria. 

O Diogo é a cara da MTV portuguesa. Como é que analisa o estado da produção nacional nesta altura?

A música portuguesa respira muito boa saúde, melhor do que nunca. Apesar, de hoje em dia, as pessoas não ganharem dinheiro com a música, a verdade é que é mais facilmente  possível gravar um disco todo em casa. Há 14, 15 anos era impossível uma coisa dessas. Estamos a viver uma fase muito rica a nível de criatividade. Há todo o tipo de música a ser feito em Portugal; há bandas com muita qualidade, e só é pena não existirem espaços para essas bandas tocarem ao vivo e também maior direito de antena nas nossas rádios. É difícil para as bandas nacionais tocarem nas rádios e aparecerem nas televisões com os vídeoclips. Tudo isso condiciona um pouco. Na parte da concepção e das novas bandas que estão a surgir estamos melhor do que nunca. É uma pena existir tanto talento em Portugal e muitas vezes as pessoas não saberem da existência dele. Muitas caem no esquecimento sem nunca se terem tornado grandes bandas. Mas vivemos uma óptima fase na música portuguesa. Gosto muito de música, estou constantemente a procurar música na Internet, constantemente a ouvir música nacional e sinto-me orgulhoso disso. Chegou à altura, de uma vez por todas, de termos orgulho daquilo que é feito em Portugal. Temos qualidade naquilo que fazemos, mas parece que é necessário as bandas singrarem lá fora para serem respeitadas cá dentro. Isso tem de acabar. 

O Diogo considera-se um sortudo por ser a imagem da MTV em Portugal? É um trabalho especial?

É um trabalho especial. É um trabalho divertido que eu gosto muito de fazer. Surgiu por acaso e neste momento já estou lá há sete anos. Já deu para viver muitas histórias que para sempre vão ficar na minha memória. Na altura, quando entrei na MTV tinha um sonho que era entrevistar o Eddie Vedder, dos Perl Jam. Esse sonho ainda não consegui atingir, mas entretanto já entrevistei 80%  das estrelas que eu gostava de falar e privar.  Estou muito agradecido por ter tido essa oportunidade e muito feliz por estar a trabalhar na MTV  Portugal. Sem dúvida que é um trabalho único e tenho a certeza que muita gente gostaria de estar no meu lugar. Só agradeço o meu momento e vou continuar a fazer o meu trabalho.

Hugo Rafael / Eugénia Sousa
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