Entrevista

Luís Represas com novo disco
As Novas Cores na Música
capa.jpgO músico Luís Represas escolheu "Cores" para título do seu novo álbum. O trabalho discográfico surge seis anos depois do anterior, "Olhos nos Olhos", e quase 40 anos
depois de "Chão Nosso", o primeiro disco do músico, na altura vocalista da banda Trovante. "Tomara" é o tema de avanço de um disco luminoso e com muita cor.
Pegando no título genérico do disco, porquê a escolha de Cores?
É uma escolha que vem depois do disco estar feito. Não é um disco conceptual, são de facto canções, histórias. Surge também pela palavra "cores" aparecer em algumas letras e, depois de tentar ganhar alguma distância em relação ao disco, para o resultado positivista e otimista. Passa pelo modo como as canções se constroem, juntando notas umas às outras; as cores também se juntam para conseguir algo que não seja cinzento ou normalizado, em que tenhamos capacidade de escolha e opção, em que não sejamos mais um número no meio de números. Que essas cores nos apontem algo mais positivo do que sermos empurrados para uma depressão, que já chega o que chega e basta o que basta. Além disso, é muito perigoso quando todos pensamos da mesma forma. Quanto mais cor e mais diversidade imprimirmos à nossa vida melhor futuro conseguiremos. Nós estamos a precisar de muita cor, chega de cinzento.
O primeiro avanço deste álbum é um espelho desse positivismo e de alguma utopia à mistura?
Essa utopia tem de ser encarada como qualquer coisa que sabemos à partida que é inatingível, mas temos de continuar a correr atrás dela. Se deixarmos de correr ela vai definitivamente embora com as pequenas coisas largadas pelo caminho, enquanto se afasta de nós. Tem um lado irónico dizer que era bom que fosse sempre assim, a gente sabe que não é. Ao mesmo tempo, não mandamos a toalha para o chão. Queremos imaginar que será possível que seja sempre assim.
O alinhamento deste álbum apresenta 11 faixas, 10 são originais e uma cover, uma versão de um tema do Fausto. Era uma ideia antiga pegar nesta canção?
É uma ideia que esperava a chegada de um disco novo para a poder registar. Há muito tempo que ando a dizer ao Fausto que  ia gravar o tema. Foi esta ocasião o momento certo para o gravar. Tenho uma enorme amizade e admiração pelo seu trabalho. Ele é de facto um dos músicos portugueses que mais me tocou e influenciou e por isso é sempre muito bom trabalhar o material dele.
Em todo o processo criativo teve algumas participações especiais, mesmo dentro da esfera familiar…
1939846_742941319057803_111.jpgIsso não acontece por capricho de querer ter alguém da minha família a trabalhar comigo, até porque a música e o nosso trabalho não se compadecem disso. Mas sim pela qualidade que vamos buscar aos diversos parceiros que trabalham connosco. Neste caso foi isto que me importou antes de mais nada. Foi essa qualidade que surgiu e fez com que trabalhasse esses textos. A Carolina Represas, a minha filha, revelou-se alguém que pode ser uma boa parceira para coisas futuras. É bom que esta primeira experiência lhe traga segurança para continuar a escrever, isso também é fundamental.
É caso para dizer que a música faz parte do ADN familiar?
Acho que sim. Eu e os meus dois irmãos tocamos e estamos muito ligados à música. Os meus quatro filhos gostam muito de música. Mas nenhum deles está dirigido para seguir ou para viver na música. Serve aqui como elemento de formação. O facto de se entregarem de uma forma completa à música ajuda muito na formação pessoal.
Este disco sucede a "Olhos nos Olhos", passaram já seis anos após a edição desse registo. A edição de cada álbum é uma nova primavera na vida de um artista?
Sem dúvida nenhuma. Há sempre passos que fazem abrir estradas à frente. Não só em termos de desenvolvimento de ideias, propostas, soluções, mas músicas que sustentam novos espetáculos e concertos. Mais do que o disco ser um elemento para colocar no mercado, é um testemunho. Cada disco que se faz é de facto uma nova primavera, um novo começo, uma nova caminhada.
Que tipo de sensações é que tem quando é editado um novo álbum e tem o primeiro contacto físico com o CD?
É muito próxima daquela que tive com o primeiro disco, em 1977, quando editámos "Chão Nosso", com os Trovante (éramos miúdos, tínhamos 20 ou 21 anos). Embora hoje em dia as coisas sejam mais materializáveis; antes tínhamos de esperar que o disco fosse prensado e viesse. Agora podemos ter um CD antes de estar fabricado. Mas esta sensação de pegar e agarrar o disco é qualquer coisa que para mim é muito excitante. Até quando vou comprar um disco de alguém, que quero muito, e o trago para casa, para mim é muito bom. É uma sensação de grande realização.
Há muitos analistas que preveem o desaparecimento físico do CD, em substituição do digital. Na sua opinião, é uma grande perda para quem gosta de ter a música em casa, quem gosta de colecionar e ter os CDs na prateleira?
Não estou muito seguro se esse processo de substituição do CD pelas músicas nas plataformas digitais será tão definitivo. Sabemos que as vendas dos CDs caíram imenso em termos comparativos. Mas há muita gente que vai continuar a ter o prazer e o gosto de ter o disco, como se fosse um livro, para colocar na sua biblioteca, na sua discoteca. Para ouvir no conforto de casa, ou do carro, sem estar em frente a um computador ou passar de equipamento para equipamento. O que acho fundamental é que isto não seja visto como um pretexto para as variadíssimas opções que existem na música do mundo inteiro serem apagadas por uma torrente normalizada, que inunda as plataformas digitais, e põe de lado a capacidade de opção das pessoas em relação ao que querem ouvir.
Foi consensual a escolha para o primeiro avanço do disco, o tema "Tomara"?
Isso é algo que eu entrego a quem sabe disso. Ou seja, não tenho a distância suficiente do disco para poder eleger uma música que tenha essa função. Deixo ao critério de quem chegou de novo e está do outro lado, editoras, equipas de divulgação para poderem nomear a canção que vai ser a primeira representante do disco. É bom quando acabo por olhar para essa escolha e sei que de facto tinham razão. Esta primeira canção de facto faz muito sentido.
Após a edição e a apresentação do disco, agora a tour. Muita vontade em ir para a estrada mostrar estas novas canções ao vivo?
Sem dúvida nenhuma. Para mim o objetivo final é o contacto com o público. Aquilo que gosto de fazer é estar no palco e levar as canções às pessoas. Fazer com que as canções tomem formas diferentes à medida que vão saltando de palco para palco e vão renascendo cada vez que são tocadas.



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