Entrevista
Frankie Chavez onde os «blues» se redescobrem na esperança
Frankie Chavez é um dos mais aclamados novos
talentos da música portuguesa.
De guitarra na mão, constrói
melodias envolventes que unem blues, folk e rock 'n' roll. «Heart
& Spine» é o seu novo álbum e tem sido apresentado nos
festivais portugueses.
«Heart & Spine» é o sucessor do aplaudido «Family Tree»,
de 2011. O que podemos ouvir no novo álbum?
Funciona um bocadinho como o
retrato dos últimos dois anos da minha vida. Penso que consegui
transportar para o disco os altos e baixos que vivi nesse período.
É um disco que se encaixa nos três géneros fundamentais da minha
música, nomeadamente o blues, o folk e o rock. Dentro destes três
géneros, as canções vão desde uma sonoridade acústica e doce até
temas bastante agressivos e mais rock 'n' roll.
O
disco apresenta um lado negro, mas fala também de
esperança.
Sim. Acho que esses dois
«picos» são focados neste disco. O próprio título pode ser
entendido nesse sentido. Foram dois «picos» que vivenciei neste
período da minha vida, desde coisas muito boas a coisas muito más.
Portanto, fala um bocadinho de esperança. Fala de tempos que
passaram e que não foram os melhores, seja para mim ou até para o
país, mas sempre numa perspetiva de melhoria no futuro.
As
letras abordam as dificuldades em sustentar uma família na
atualidade, revelando o lado pessoal do artista. Está preocupado
com a situação de Portugal?
Estou preocupado do mesmo
modo que toda a gente está preocupada. Vimos acontecer muitas
coisas mal feitas ou que deveriam ter sido feitas de outra maneira.
Isso faz com que todos estejamos um bocadinho cansados, que
questionemos até se há alguma perspetiva de futuro. Os governos vão
mudando mas parece que as coisas não mudam.
Conforme referiu, a linha musical deste novo disco é
semelhante à do anterior. A inspiração para a sonoridade vem dos
grupos da velha guarda ou de referências contemporâneas?
Acaba por ser uma mistura das
duas coisas. Neste disco quis desenvolver uma sonoridade mais
elétrica, explorando mais as guitarras elétricas. Isto porque
sempre ouvi muito hard rock e punk rock, mas os últimos dois
trabalhos, tanto o EP [homónimo] como o longa-duração «Family
Tree», foram predominantemente acústicos. Apesar de querer
continuar a dar enfâse a essa sonoridade, também quis neste disco
explorar mais as guitarras elétricas. As influências são uma
mistura de tudo aquilo que vou ouvindo, desde nomes mais antigos a
outros que vão surgindo agora.
Uma das grandes fontes de inspiração
foram certamente os concertos e as tours.
Sim. Desde que editei o
«Family Tree», em 2011, tenho dado bastantes concertos, felizmente.
As músicas foram surgindo na estrada e houve até temas escritos em
aeroportos e fora de Portugal. Gosto de deixar que as músicas
surjam quando querem surgir, embora obviamente também me force a
compor. Mas gosto do lado da inspiração e tento apanhar o comboio
quando a canção aparece. Este disco foi definitivamente
influenciado por viagens.
Participou este ano no festival Rock in Rio Lisboa. Como foi
tocar num festival desta dimensão?
Foi uma experiência muito
enriquecedora. Não contava que estivesse tanta gente a ouvir-me,
uma vez que toquei por volta da seis da tarde. Tive a sorte de
tocar num dia muito forte, em que tocaram também os Rolling Stones
e o Gary Clark Jr, pelo que houve muita gente a ir mais cedo para o
recinto do festival. Com isso tive a oportunidade de mostrar a
minha música a muitas pessoas que provavelmente não a
conheciam.
Tem
dado concertos na Europa e não só. Qual tem sido a resposta do
público além-fronteiras?
Tem sido positiva. Tenho
tocado bastante em Itália. Excetuando Portugal, é o país onde
toquei mais vezes. Nos últimos anos tenho feito várias tours por
lá, mas também toquei recentemente na Alemanha. As coisas têm
estado a correr bem com este disco. Noto isso nos concertos e nas
redes sociais, que são uma ferramenta que nos ajuda a perceber o
feedback das pessoas.
Este
disco conta com um interessante naipe de convidados especiais,
inclusive músicos internacionais.
O único músico internacional
é a [americana] Erica Buettner, uma artista que conheci em 2012 num
festival em que ambos tocámos. Curiosamente, ela está a viver em
Portugal e quando escrevi o tema «Don't Leave Tonigh», convidei-a
para o cantar. Ainda bem que aceitou, porque o tema ganhou bastante
com a sua participação. Os outros convidados são músicos com quem
eu já me tinha cruzado anteriormente, desde o João Correia, à Selma
Uamusse, Nuno Lucas, Daniel Lima, Pedro Pinto e Fred Martinho, além
dos Groove Quartet na sua formação completa.
Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Tiago Carvalho