Entrevista

Entrevista
Frankie Chavez onde os «blues» se redescobrem na esperança

F_CHAVEZ6562_ritacarmo-cópia.jpgFrankie Chavez é um dos mais aclamados novos talentos da música portuguesa.

De guitarra na mão, constrói melodias envolventes que unem blues, folk e rock 'n' roll. «Heart & Spine» é o seu novo álbum e tem sido apresentado nos festivais portugueses.

«Heart & Spine» é o sucessor do aplaudido «Family Tree», de 2011. O que podemos ouvir no novo álbum?

Funciona um bocadinho como o retrato dos últimos dois anos da minha vida. Penso que consegui transportar para o disco os altos e baixos que vivi nesse período. É um disco que se encaixa nos três géneros fundamentais da minha música, nomeadamente o blues, o folk e o rock. Dentro destes três géneros, as canções vão desde uma sonoridade acústica e doce até temas bastante agressivos e mais rock 'n' roll.

O disco apresenta um lado negro, mas fala também de esperança.

Sim. Acho que esses dois «picos» são focados neste disco. O próprio título pode ser entendido nesse sentido. Foram dois «picos» que vivenciei neste período da minha vida, desde coisas muito boas a coisas muito más. Portanto, fala um bocadinho de esperança. Fala de tempos que passaram e que não foram os melhores, seja para mim ou até para o país, mas sempre numa perspetiva de melhoria no futuro.

As letras abordam as dificuldades em sustentar uma família na atualidade, revelando o lado pessoal do artista. Está preocupado com a situação de Portugal?

Estou preocupado do mesmo modo que toda a gente está preocupada. Vimos acontecer muitas coisas mal feitas ou que deveriam ter sido feitas de outra maneira. Isso faz com que todos estejamos um bocadinho cansados, que questionemos até se há alguma perspetiva de futuro. Os governos vão mudando mas parece que as coisas não mudam.

Conforme referiu, a linha musical deste novo disco é semelhante à do anterior. A inspiração para a sonoridade vem dos grupos da velha guarda ou de referências contemporâneas?

Acaba por ser uma mistura das duas coisas. Neste disco quis desenvolver uma sonoridade mais elétrica, explorando mais as guitarras elétricas. Isto porque sempre ouvi muito hard rock e punk rock, mas os últimos dois trabalhos, tanto o EP [homónimo] como o longa-duração «Family Tree», foram predominantemente acústicos. Apesar de querer continuar a dar enfâse a essa sonoridade, também quis neste disco explorar mais as guitarras elétricas. As influências são uma mistura de tudo aquilo que vou ouvindo, desde nomes mais antigos a outros que vão surgindo agora.

IMG_0005.jpgUma das grandes fontes de inspiração foram certamente os concertos e as tours.

Sim. Desde que editei o «Family Tree», em 2011, tenho dado bastantes concertos, felizmente. As músicas foram surgindo na estrada e houve até temas escritos em aeroportos e fora de Portugal. Gosto de deixar que as músicas surjam quando querem surgir, embora obviamente também me force a compor. Mas gosto do lado da inspiração e tento apanhar o comboio quando a canção aparece. Este disco foi definitivamente influenciado por viagens.

Participou este ano no festival Rock in Rio Lisboa. Como foi tocar num festival desta dimensão?

Foi uma experiência muito enriquecedora. Não contava que estivesse tanta gente a ouvir-me, uma vez que toquei por volta da seis da tarde. Tive a sorte de tocar num dia muito forte, em que tocaram também os Rolling Stones e o Gary Clark Jr, pelo que houve muita gente a ir mais cedo para o recinto do festival. Com isso tive a oportunidade de mostrar a minha música a muitas pessoas que provavelmente não a conheciam.

Tem dado concertos na Europa e não só. Qual tem sido a resposta do público além-fronteiras?

Tem sido positiva. Tenho tocado bastante em Itália. Excetuando Portugal, é o país onde toquei mais vezes. Nos últimos anos tenho feito várias tours por lá, mas também toquei recentemente na Alemanha. As coisas têm estado a correr bem com este disco. Noto isso nos concertos e nas redes sociais, que são uma ferramenta que nos ajuda a perceber o feedback das pessoas.

Este disco conta com um interessante naipe de convidados especiais, inclusive músicos internacionais.

O único músico internacional é a [americana] Erica Buettner, uma artista que conheci em 2012 num festival em que ambos tocámos. Curiosamente, ela está a viver em Portugal e quando escrevi o tema «Don't Leave Tonigh», convidei-a para o cantar. Ainda bem que aceitou, porque o tema ganhou bastante com a sua participação. Os outros convidados são músicos com quem eu já me tinha cruzado anteriormente, desde o João Correia, à Selma Uamusse, Nuno Lucas, Daniel Lima, Pedro Pinto e Fred Martinho, além dos Groove Quartet na sua formação completa.

Hugo Rafael (Rádio Condestável)
Texto: Tiago Carvalho
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
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