Annia
O rosto do R&B em Portugal
É a voz que está a aquecer o R&B em
Portugal. A iniciar uma carreira auspiciosa, Annia reúne todos os
atributos para se afirmar com um dos grandes talentos da sua
geração. Em entrevista revela-se determinada a desbravar novos
caminhos para a música portuguesa.
A tua carreira ainda é muito jovem. Quem é a Annia no mundo
da música?
Ainda um bebezinho. A minha carreira nasceu no ano passado, com o
single "Chuva". Estou a explorar um género pouco usual em Portugal,
que é o R&B. E a fazê-lo com um grau de dificuldade acrescido
que é cantar em português, o que é ainda menos comum. Estou a dar o
melhor de mim para trazer as minhas influências, principalmente
norte-americanas, para a língua portuguesa, e tentar manter ainda
assim a essência que caracteriza este estilo musical.
De facto, o R&B é um género pouco produzido em
Portugal. Sentes responsabilidade por ser umas das suas
representantes?
Sinto esse peso. Tenho consciência que se tivesse escolhido outro
género talvez o meu caminho fosse mais fácil ou mais rápido. Tenho
pena que não haja mais pessoas associadas ao R&B. Tens o Gutto,
mais tarde o TT, e talvez sejam esses os nomes mais sonantes do
género. Portanto, cai sobre mim e mais alguns artistas uma certa
responsabilidade. Dada a reduzida expressão de músicos em Portugal
pode parecer um estilo musical pouco promissor, mas é a música que
eu amo.
É com o R&B que te identificas?
Sim! Eu considero-me uma artista de R&B. Gosto de outras coisas
também, desde o Hip Hop ao Pop. Mas o R&B é a música que me faz
sentir feliz. E também tenho um certo gosto por causas difíceis!
Abrir esta janela para o R&B e fazer o género vingar em
Portugal é um desafio que me estimula, até porque considero que o
R&B nunca teve oportunidade para proliferar no nosso
país.
Lá fora é frequente o cruzamento do R&B com o Pop e o
Hip Hop. Esse é um caminho possível?
É verdade. Isso também acontece com as minhas canções. Acho
importante explorar e criar coisas novas. É das fusões que nascem
as coisas mais bonitas.
Já deste a conhecer dois singles: "Chuva" e "Password". Não
te revelas apenas cantora, mas também letrista, compositora e
produtora. Tens várias facetas musicais?
Sim. Até acho que onde me sinto mais feliz é a escrever. Ainda mais
do que a cantar. Tento também fazer parte do processo de produção
das canções. Tenho opiniões muito vincadas! Acabo por estar
envolvida em todo o processo de criação dos temas, desde o início
até ao palco. Por isso, se a crítica for menos positiva dói-me
mais, uma vez que não tenho hipótese de fuga à responsabilidade. A
culpa é minha (risos).
Por outro lado, deve ser enriquecedor para uma artista
estar envolvida em todo o processo…
O trabalho final tem um sabor especial. É muito prazeroso quando o
suor é teu, quando tens consciência do esforço que fizeste para
chegar ali. O valor que dás às coisas é diferente.
É em português que decidiste cantar. Por alguma razão em
especial?
Pela nossa conversa já deves ter percebido que eu tenho gosto por
coisas difíceis (risos). Em primeiro lugar, sou portuguesa, falo
português e estando em Portugal faz sentido cantar em português. A
nossa língua é uma das línguas mais faladas do mundo. Temos uma
comunidade portuguesa grande e ainda os PALOP's. Por isso, para mim
faz todo o sentido explorar a nossa língua. É verdade que acho mais
difícil escrever em português do que em inglês. No entanto, a
língua portuguesa é a nossa identidade e chega melhor aos
portugueses. A maioria das pessoas da minha geração até fala inglês
fluentemente, mas isso não acontece com toda a gente em Portugal.
Iria criar uma barreira linguística escusada.
Os temas "Chuva" e "Password" soam-me
bastante diferentes.
Talvez a nível instrumental. O "Chuva" foi feito em 2016 e o
"Password" em 2018/19. Em 2016 estávamos a viver uma vaga de
R&B muito anos 90/2000 e o instrumental está de acordo com
isso. Hoje em dia estamos com um R&B repleto de influências de
Soul Trap. Talvez seja essa a diferença. A minha essência é muito
anos 90 e 2000, que é o R&B de onde bebi mais.
"Password" é o teu single mais recente. Revelas-nos aqui a
tua palavra-chave?
Não faço questão de esconder a minha password… Posso dar a password
da Netflix para verem filmes (risos). Na verdade, a canção
"Password" baseia-se numa traição real que aconteceu comigo. Os
jovens hoje em dia estão muito ligados ao telemóvel. E ele
denunciou-se precisamente porque a relação dele com o telemóvel era
visceral, e comecei a reparar em alguns sinais dessa traição, por
serem tão óbvios.
Já que não tens segredos, o que podemos esperar do
futuro?
Quero sair um pouco da temática das relações. Quero explorar
vertentes novas, sonoridades e assuntos diferentes. Tenho o
objetivo de fazer um álbum, mas numa primeira fase irei
provavelmente lançar um EP. Tenho alguns temas na minha caixinha de
Pandora! Algumas canções já estão na fase de videoclip e outras
ainda estou a escrever. Nestes trabalhos deverei ter algumas
colaborações de outros artistas. Acho que podemos esperar,
portanto, uma Annia ainda mais evoluída (risos)!