Bocas de Galinheiro
Lembrar Elizabeth Taylor
Ultimamente esta coluna está a tornar-se
num obituário da sétima arte, afinal a razão porque ela apareceu
foi exactamente para partilhar o nosso gosto pelo cinema. Uma das
formas é recordar os que partem. Desta vez é a morte de Elizabeth
Taylor, mais uma perda irreparável, desta feita a de uma actriz que
marcou de forma indelével os anos de ouro de Hollywood, mas é
principalmente nos anos sessenta que a estrela de Elizabeth Taylor,
com os seus olhos violeta e um corpo esplendoroso, brilhou de forma
mais resplandecente. Na tela e fora dela.
Nascida a 27 de
Fevereiro de 1932, em Londres, mas filha de pais americanos,
regressou com a família aos states nos primeiros tempos da
II Guerra. Estreou-se no cinema em "There's One Born Every
Minut"e, de Harold Young (1942), para no ano
seguinte aparecer em "Lassie Comes Home", de Fred M. Wilcox, num
papel secundário mas que lhe abriu as portas para um futuro
brilhante no cinema, apesar de ter ainda feito uma mão cheia de
papéis de criança, em filmes como "Jane Eyre", de Robert Stevenson
(1944) e "The White Cliffs of Denver", de Clarence Brwn (1944), é
em "National Velvet", de Brown, também de 1944, ao lado de Mickey
Rooney, outra child star, que Elizabeth Taylor começa
verdadeiramente a sua ascensão e se torna uma estrela, primeiro
infantil, na MGM, depois naquela que todos
conhecemos.
Porém, os seus
atributos físicos depressa a empurraram para papéis mais
condizentes com aqueles do que com o registo no bilhete de
identidade. Em 1947 aparece em "Life With Father", de Michael
Curtiz, ao lado de William Powell e Irene Dune e em 1950 em "O pai
da Noiva" (Father of The Bride), de Vincente Minnelli, onde um
atormentado Spencer Tracy vê o seu orçamento familiar entrar em
crise por vai das despesas de casamento da filha, uma fita que tem
uma publicidade extra: o primeiro dos oito casamentos de Liz, um é
com o mesmo, já sabemos, Richard Burton, desta feita com Conrad
Hilton Jr.. O casamento durou menos de um anos, menos certamente do
que a paixão por Montgomery Clift com quem contracenou em "Um Lugar
ao Sol" (A Place in the Sun, 1951), de George Stevens, onde fazia
de Angela
Vickers, a menina rica apaixonada por Clift. Uma paixão que
virou uma enorme amizade até à morte do actor, em
1966.
Nos anos 50 a
filmografia de Elizabeth Taylor é variada parece não ter descanso:
, "Love is Better Than Ever", 1951, de Stanley Donen,
"Ivanhoe", 1952, de Richard Thorpe, "Rhapsody", 1954, de
Charles Vidor e "A Última Vez Que Vi Paris" (Tha Last Time I Saw
Paris, 1954), de Richard Brooks e esse incontornável "O Gigante"
(The Giant, 1956), de George Stevens, onde contracena com James
Dean e Rock Hudson. Apesar dos inevitáveis episódios picantes de
rodagem, Dean morre durante as filmagens, ao volante do seu
Porsche, e Hudson, três décadas depois vitima de Sida, facto que
levou a actriz nestes últimos anos a dedicar-se à causa da doença
através duma fundação para o efeito. É ainda nesta década que
recebe duas nomeações para os Oscar em interpretações de
personagens saídas de peças de Tenessee Williams,
"Gata em Telhado de
Zinco Quente" (1958), de Richard Brooks e "Bruscamente no Verão
Passado" (1959), de Joseph L. Mankiewwicz, dois papéis que
definitivamente lhe dão o reconhecimento como actriz e não como a
mulher fatal dos olhos violeta, e em 1960 ganha mesmo a estatueta
dourada por "O Número do Amor" (Butterfield 8, 1959), de Daniel
Mann, um Oscar que deu muito que falar, diz-se que o prémio lhe foi
dado porque esteve à beira da morte, e, tendo em conta que ganhou
para uma Shirley MacLaine irrepreensível em "O Apartamento", tudo
leva a crer que sim. Porém, em 1966 volta a ganhar o Oscar desta
vez pelo seu desempenho em "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf"
(1966), de Mike Nichols, ao lado de Richard Burton, o actor inglês
que conheceu em 1963 na rodagem de "Cleópatra", de Mankiewicz e com
quem viria a casar depois de uma escandaleira tremenda na época, os
dois eram casados na altura, a coisa chegou ao Vaticano que pensou
em excomungar o casal, mas lá deram o nó, vivendo uns longos 10
anos de matrimónio. Divorciaram-se e voltaram a casar, desta vez
por apenas uns meses. Deste casa descasa ficou a célebre diamante
que Burton deu a Liz, daqueles com muitos quilates, para além dos
que já tinha antes e dos que recebeu depois. Para Liz eram mesmo os
"girl's best friends" e o estrondoso fracasso de Cleópatra, fita em
que a actriz recebeu um milhão de dólares, coisa nunca vista até
aí. Pelo meio tiveram tempo para fazer 11 filmes. Além
dos já referidos, "The V.I.P.s"
(1963), de Anthony Asquit, "Under Milk Wood
(1972), "The Taming of the
Shrew" (1967), de Franco Zeffirelli, "Adeus
Ilusões" (1965), de Vincente Minnelli, "Hammersmith is
Out" (1972) de Peter Ustinov, "Doctor
Faustus" (1967), de Neville Coghill, Os Comediantes
(1967), de Peter Glenville e Choque
(1968), de Joseph Losey.
A partir dos anos
70 a filmografia da actriz diminui exponencialmente à medida que se
avolumaram os seus problemas de saúde, alguns na sequência de
excessos com bebida e comida, com passagens várias por clínicas de
desintoxicação, e se dedicou mais a causas filantrópicas, entre as
quais a sua fundação para a Sida.
Morreu no passado
dia 23 de Março, em Los Angeles de problemas cardíacos. Deixou
expressa a vontade de chegar atrasada ao seu funeral. Uma das
últimas lendas vivas de Hollywood a
deixar-nos.