Suplemento

Análise ao livro
Contributos para a História do Sistema Educativo

IMG_7588.jpgComeçamos agradecendo a honra que nos concederam de intervir nesta ocasião tão relevante, para comentar a presente obra da autoria de João Ruivo e João Carrega (coordenadores) que vem na sequência do livro "Políticas e Políticos da Educação" editado em Março 2011.

Pouco tempo decorreu… muitas mudanças se verificaram, outras concepções, outros protagonistas, outras ideologias, outro ambiente na sociedade portuguesa…refira-se a insegurança provocada no sistema educativo, em consequência de vários factores dos quais se destaca a decisão inexorável de reduzir os custos da educação, incluindo o financiamento da ciência.

Mas algo ficou imutável, indiferente às atitudes e propósitos de quem mantém o primado da decisão política em vários planos e patamares… ou seja, a perenidade da Educação, ela própria o elemento decisivo no chamado progresso da espécie humana nas múltiplas dimensões que a caracterizam e nesta conformidade, as oscilações da vontade de quem se sente momentaneamente protagonista, não belisca a importância da Educação… apenas consegue, ou não consegue, atrasar a sua interacção com as sucessivas gerações que dela dependem.

livro4.jpgA obra que hoje faz o encontro connosco, segue a forma utilizada anteriormente, apresentando entrevistas a responsáveis, intervenientes e líderes de opinião do fenómeno Educação, proporcionando um efeito de proximidade a todos os títulos notável, que o "Ensino Magazine" conseguiu levar a cabo com o sucesso que francamente reconhecemos e mais do que isso agradecemos.

Fica assim caracterizada uma época de encontros e desencontros, de sentimentos muitas vezes contraditórios entre quem decide, quem observa, quem interpreta e investiga e quem executa, ou tenta executar, no dia a dia, os ditames da Educação, com maior ou menor sucesso, soe dizer-se.

Constitui por isso um testemunho de inegável e extraordinário valor, representando um documento histórico, sociológico e sobretudo uma base segura para inspirar quem venha a seguir, proporcionando os elementos que permitem ajudar a não cometer os erros do passado seja o passado que for, no tempo, no espaço, ou na trajectória de cada um.

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A obra inicia-se com um prefácio à 1ª edição da autoria do professor Luciano de Almeida que permite ao leitor alcançar uma ideia concreta sobre a evolução das políticas de educação em Portugal. Aponta o atraso estrutural existente e a ausência de uma estratégia nacional. Trata-se de um documento imprescindível para quem quiser conhecer, apreciar, ou trabalhar a problemática da Educação em Portugal, com os avanços e recuos, tentativas frustradas ou não que o passar do tempo evidencia e inexoravelmente reclama.

Permitam que enfatize a referência à reforma do sistema educativo protagonizada pelo professor Veiga Simão em 1973 cujos efeitos perduraram até muito recentemente, pois dificilmente se poderá encontrar depois de Veiga Simão algo tão envolvente e profundo. Todos os que no passado se preocuparam ou que no presente se preocupam com a educação muito lhe devem, ou seja os que dela dependem que afinal somos todos nós.

livro5.jpgTemos depois a oportunidade de apreciar a opinião de Eduardo Marçal Grilo que nos premeia com a sua habitual clarividência e experiência como ministro da Educação, traçando uma visão sobre os diferentes níveis de ensino, mencionando algo que em nossa opinião traduz um dos mais graves problemas que tem sido apanágio da acção de todos os governos, ou seja que é muito difícil na política assumir a Educação como "a prioridade…"

Satisfaz-nos registar a opinião abalizada de um riquíssimo conjunto de ex-ministros da educação, espelhando as suas ideias esclarecidas, convicções e dificuldades encontradas no exercício dos seus mandatos. Mencionamos Augusto Santos Silva (a ciência faz-se em todo o mundo), Júlio Pedrosa (avaliação e planeamento estratégico) Pedro Lynce (procura de novas formas de financiamento), David Justino justificando a ausência de visão de futuro para a Educação. Lançou a obra "Difícil é educá-los" contribuindo com este ensaio para uma discussão sobre o sistema educativo. Mostra não existir visão estratégica para o que se pretende para o sector… ao investimento na educação, não corresponde a qualidade que dele se espera. Mariano Gago, com a sua longa experiência, estabelecendo metas para os níveis de formação da população portuguesa, importância de acordos e parcerias institucionais, assim como a reorganização e estatuto da carreira do ensino superior. Maria de Lurdes Rodrigues, as escolas vão mudar, na gestão, formação contínua, incremento de cursos de cariz profissional.

IMG_7491.jpgTorna-se curioso verificar que da opinião esclarecida de cada uma das individualidades, torna-se difícil, no seu conjunto, segregar algo que corresponda a uma política nacional de Educação no nosso país, entendida acordada e sucessivamente seguida por todos os intervenientes responsáveis, na vigência dos seus mandatos.

Também, neste contexto, a opinião de Nuno Crato, difícil é educá-los… defende investimento mais eficiente na Educação, insiste na formação de professores (os professores são heróis na batalha da educação, afirmou...), cultura do rigor e avaliação permanente…

Foi sem dúvida uma ideia feliz ouvir a opinião de individualidades da sociedade não orgânica, o que se considera fundamental num documento desta natureza, pois constituem um teste às políticas oficiais, transportando assim, de alguma forma, o sentimento dos portugueses que estão longe das estruturas de decisão e que afinal nos abarca a todos. Está assim presente o testemunho de pessoas como Eduardo Lourenço, José Barata Moura, Francisco José Viegas Odete Santos, Garcia Pereira, José Gomes Ferreira, Luís Nazaré, Paulo Morais, Sérgio Godinho, Carlos do Carmo, Mega Ferreira…

livro2.jpgOutras pessoas foram também envolvidas, as quais estamos habituados a reconhecer como líderes de opinião e que constantemente influenciam muitos de nós ou pelo menos alguns, em diferentes planos de audiência…. Marcelo Rebelo de Sousa, Padre Vitor Melícias, Guilherme de Oliveira Martins, Vasco da Graça Moura, Bagão Felix, Sobrinho Simões, Eduardo Lourenço, Eduardo Catroga, Silva Lopes, Fernando Rosas, João Lobo Antunes, Mira Amaral, Pedro Lourtie, Isabel Moreira, Marques Mendes, Campos e Cunha, Carlos Fiolhais

Bom! Chegamos ao fim da consulta desta obra e qual a sensação com que ficamos? Em primeiro lugar que os intervenientes foram bem seleccionados. Cobrem a quase totalidade da das idiossincrasias da população portuguesa. Em segundo lugar ficamos com a certeza que o conjunto das intervenções permitem uma análise completa do que é do que tem sido a problemática da Educação em Portugal e é por isso um documento fundamental… depois disto, falta elaborar uma síntese da qual resulte uma política da Educação que seja digna da perenidade, importância e transversalidade da Educação e não algo que sirva de arma de arremesso dos partidos políticos, os quais não têm sistematizado na prática aquilo que admitem na teoria e no discurso, ou seja que a Educação não é apenas uma prioridade mas sim, a prioridade, que em boa verdade se situa acima, bem distante, de qualquer outra.

IMG_7706.jpgE terminamos dizendo, rebuscando algo que tivemos já oportunidade de afirmar noutra ocasião mas que consideramos adequado neste importante acontecimento:

"A Educação no sentido lato, reserva para si o enorme privilégio de fazer a distinção entre o que se entende por Nação e o que define o País, especialmente nos momentos de infortúnio como os que hoje caracterizam a nossa sociedade. Através da perenidade da Educação, tudo se filtra, a informação que pode ou não conduzir ao conhecimento e este algumas vezes à sabedoria, a cultura que transporta no seu âmago a milenar trajectória das sucessivas gerações, a arte e a literatura, que pintam as cores do belo, do sofrimento, dos estados de alma. O País, preocupado com a economia, as finanças, com os equilíbrios espúrios de quem manda e de quem vai mandar, com as conjunturas e obediências, consegue em determinados períodos da História, violar os pilares da sociedade, logrando inverter o processo natural da hierarquia dos valores. São exemplos, a tentativa quase irresistível de se pretender subalternizar a Educação, colocando-a entre duas tenazes que a comprimem, a teologia do mercado e a instrumentalização política, económica e financeira".

Leopoldo J. M. Guimarães (Reitor aposentado da Universidade Nova de Lisboa)
Texto escrito segundo a antiga ortografia
Paulo Goulart
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
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