Primeira coluna
A escola e o resto
O Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel
Heitor, voltou a falar da necessidade das instituições de ensino
superior e das empresas se aproximarem, numa lógica de
co-localização de atividades de ensino, investigação e
inovação.
Esta maior aproximação entre o mundo
académico e o tecido empresarial é um objetivo que deve ser
partilhado por quem ensina e por quem produz, sem desconfianças de
qualquer um dos lados, com as devidas adaptações e cedências. Há
muitos fatores que ainda separam a efetiva concretização de
projetos que poderiam ser úteis para as instituições de ensino
superior e para as empresas. O modo de pensar e de agir, os
horários de funcionamento, mas acima de tudo o tempo. O tempo que
demora a academia a responder e o atraso com que muitas vezes os
empresários solicitam soluções às universidades e politécnicos.
Ainda assim, há exemplos muito bem
conseguidos no nosso país, de como quando a academia e o tecido
empresarial dão as mãos é possível inovar e colocam-nos em
situações de destaque em termos internacionais. O setor dos moldes
é um deles, como o das novas tecnologias com o desenvolvimento de
programas e aplicações únicas, já premiadas e reconhecidas.
Certamente que com quadros mais
qualificados as empresas terão uma visão menos redutora e mais
recetiva à investigação, à implementação de novos métodos e
objetivos, o que colocará também ao ensino superior novos desafios
e responsabilidades nessa ligação com o mundo empresarial. O
emprego científico e qualificado surge como algo que também é
necessário implementar, de uma forma realista e sem complexos, com
humildade de parte a parte, e aproveitando os apoios que há, ou que
possam vir a existir, para essa contratação.
Neste caminho de desafios constantes
entre academia e empresas ainda há muitos quilómetros a percorrer.
Mas importa que haja da parte das instituições de ensino superior a
capacidade de mostrar ao nosso tecido económico, na sua maioria
constituído por pequenas e médias empresas, que a solução para
alguns problemas pode passar por elas, e que a inovação está
seguramente associada ao ensino e à investigação. As empresas devem
perder a desconfiança e acreditar que as academias estão
capacitadas para dar resposta em tempo útil aos seus desafios.
Dito desta forma até parece que é
simples e dá a sensação de estarmos perante um discurso mais ou
menos redondo, já ouvido noutras ocasiões. A verdade é que não é
fácil. O modo como as instituições e as empresas funcionam,
individualmente, coloca dificuldades. Da parte das universidades e
politécnicos essa abertura tem que estar associada aos meios,
recursos físicos e humanos, e à sua disponibilidade (temporal e de
desejo) em aplicar o seu conhecimento ao serviço da economia. Da
parte das empresas importa colocar de lado a desconfiança e a ideia
de que cada um está no seu mundo, e que o tempo de resposta é
sempre muito grande.
Uma coisa é certa. O mundo está cada vez mais imprevisível e as
instituições de ensino devem estar preparadas para dar resposta a
essa imprevisibilidade. Ou seja, devem formar e investigar, olhando
para aquilo que existe, mas também para o que pode vir a existir. E
se esta equação tiver em conta aquilo que a economia e as empresas
nos dizem tudo poderá ser mais fácil.