Editorial

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Dentro das paredes da escola

João Ruivo

Nas escolas produz-se uma mútua relação entre a contribuição dos docentes para a eficácia dessas instituições, e a própria organização da escola, enquanto promotora do desenvolvimento e do eficiente desempenho dos profissionais que nela trabalham.

As competências profissionais dos professores desenvolvem-se em instituições muito particulares. São elas que dão sentido e ajudam a organizar o seu mundo conceptual sobre educação, que possibilitam essa transferência conceptual para a prática educativa, e os enquadram dentro de um grupo profissional, cuja ética e deontologia os impulsionam ao empenhamento numa diversidade de complexas tarefas inerentes aos processos educativos.

No seu dia-a-dia, a maior parte da actividade docente desenvolve-se dentro das paredes da escola, espaço em que se elaboram complexas redes de controlo, de estruturas hierárquicas de poder, as quais obrigam à reciprocidade de atitudes, de valores e de comportamentos, que determinam, significativamente, as escolhas e as opções de cada docente quanto às suas práticas educativas.

Por outro lado, a organização formal da escola, coagida pelas exigências do poder político e da sociedade civil, determina também que, em certa medida, a autonomia se traduza numa "realidade virtual", já que se considera como adquirido que o Estado e a sociedade têm o direito e o dever de saber o que se faz na escola, elaborando, para esse fim, um indeterminado número de normativas apropriadas ao exercício desse controlo.

Dentro da escola, o desenvolvimento da profissionalidade docente desenvolve-se entre dois vectores: 1 - os endógenos, que "empurram" o professor para o crescimento pessoal e profissional, que o motivam para a busca de soluções inovadoras e que determinam um desempenho gratificante, quando alcançado o sucesso dos alunos; 2 - e os exógenos, que confinam o docente ao cumprimento de rotinas, mais ou menos burocráticas, e que inibem o seu despertar para a formação permanente e para a inovação educativa.

Esta estrutura organizacional pode provocar que cada professor se concentre no trabalho na sala de aula, com os seus alunos, sem promover qualquer tipo de intercâmbio experimental com os seus colegas, os quais reproduzem os mesmos comportamentos na sala ao lado.

Em nosso entender, esta situação traduz-se num enorme obstáculo à formação continuada dos professores, sobretudo dos que se encontram em início de carreira, já que estes ainda têm representações indefinidas, e até confusas, da sua actividade profissional, e em que a escola surge como um mundo, por vezes caótico, no qual há que encontrar, necessariamente, um sentido e uma ordem.

O sentimento de pertença a um grupo profissional, o estabelecimento de mecanismos de colaboração e de partilha, são factores decisivos para incrementar, ou não, o desenvolvimento profissional dos docentes. Sobretudo, quando se proporcionam, ou não, atitudes de autonomia, de participação nas decisões, de repartição das responsabilidades organizacionais e, finalmente, de gestão participada dos curricula, dos métodos e dos recursos.

Muitas dessas renovações terão que passar pela formação ao longo da vida, em contexto escolar, numa perspectiva de ajuda e apoio às actividades profissionais, pressupondo um compromisso institucional entre o Estado, as instituições formadoras, as escolas, os professores, os alunos, e as famílias. Este é, talvez, um dos maiores desafios que, todos os anos, as escolas e os professores devem saber enfrentar.

João Ruivo
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ruivo@rvj.pt
 
 
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