Opinião

Crónica
Seguro de plástico

João de Sousa TeixeiraQuando Seguro, o novíssimo Secretário-geral do PS, for mandado pelos seus para o lugar de onde veio, irá para o contentor vermelho, que é onde se depositam os plásticos usados. Recordo o dia em que o cadáver político de Sócrates ainda fumegava e já ele se vestia de elevador para anunciar o que haveria de anunciar noutro registo, sendo que aquele momento não era ainda o momento adequado para dizer o que dito estava. Tal como o previsto, aí o temos. Moderno, reciclável, sem nódoas, todo em plástico.

Ao contrário deste, Louçã é, pelos anos de casa e anúncio maldoso de raposa velha, o mais velho líder partidário. É uma ruindade.

Os próprios companheiros de jornada agarraram o mote e disseram que sim senhor, que todos eles devem tomar novo rumo. Não sei se, como dizia um amigo meu, para formarem novo partido entre quatro, ficando dois no comité central e dois nas bases, uma vez que é difícil encontrar a cor certa para um contentor colectivo e tão diverso.

Agora é Seguro que irá expurgar o PS dos resíduos tóxicos do seu antecessor e dos outros, menos ácidos, que resultaram de parcerias estratégicas com o velho Bloco.

António José não é homem de sorrisos gratuitos, suponho que também não de zangas a sério. Essa será certamente a sua postura perante aqueles com quem vai confrontar-se, e a quem não tem nada de novo para acrescentar, limitando-se aos nins do costume, cujo objectivo central é manter o banho-maria, a contenção no sal e a função multiusos, própria do plástico tupperware.

O país, entretanto, definha. Tudo é liberalizado para despedir, para sacar salários até à última gota, para cortar nas condições de vida de quem trabalha, para aumentar impostos e entregar depois, a contado, o dinheiro aos usurários que tanto zelam por todos nós, enquanto não arranjam a cor adequada do contentor para onde nos querem atirar.

As respostas mais coerentes e sérias ao fatalismo da dependência externa, ao inconformismo dos que dizem que devemos aceitar, para bem de todos ser espoliados, vêm daqueles que afirmam ser urgente a renegociação da dívida pública e o desenvolvimento da produção nacional, que contraria o programa de submissão e agressão estrangeira.

Para além das habituais diatribes anticomunistas, os alvos de manchete de Seguro, serão Coelho e Portas, a juventude. O contestado pelos seus barões de irresponsável aventureiro, bem como o ex-noviço da vichyssoise são para si gente credível. Mais que não seja porque, em termos práticos, face aos acordos internacionais que amarram o país aos ditames do capital financeiro internacional, o nível de autoridade é igual a zero para os três, com a reciclagem dos portugueses e Portugal posto no lixo a céu aberto.

João de Sousa Teixeira
 
 
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