Crónica
Seguro de plástico
Quando Seguro, o novíssimo
Secretário-geral do PS, for mandado pelos seus para o lugar de onde
veio, irá para o contentor vermelho, que é onde se depositam os
plásticos usados. Recordo o dia em que o cadáver político de
Sócrates ainda fumegava e já ele se vestia de elevador para
anunciar o que haveria de anunciar noutro registo, sendo que aquele
momento não era ainda o momento adequado para dizer o que dito
estava. Tal como o previsto, aí o temos. Moderno, reciclável, sem
nódoas, todo em plástico.
Ao contrário deste,
Louçã é, pelos anos de casa e anúncio maldoso de raposa velha, o
mais velho líder partidário. É uma ruindade.
Os próprios
companheiros de jornada agarraram o mote e disseram que sim senhor,
que todos eles devem tomar novo rumo. Não sei se, como dizia um
amigo meu, para formarem novo partido entre quatro, ficando dois no
comité central e dois nas bases, uma vez que é difícil encontrar a
cor certa para um contentor colectivo e tão
diverso.
Agora é Seguro que irá
expurgar o PS dos resíduos tóxicos do seu antecessor e dos outros,
menos ácidos, que resultaram de parcerias estratégicas com o velho
Bloco.
António José não é
homem de sorrisos gratuitos, suponho que também não de zangas a
sério. Essa será certamente a sua postura perante aqueles com quem
vai confrontar-se, e a quem não tem nada de novo para acrescentar,
limitando-se aos nins do costume, cujo objectivo central é
manter o banho-maria, a contenção no sal e a função multiusos,
própria do plástico tupperware.
O país, entretanto,
definha. Tudo é liberalizado para despedir, para sacar
salários até à última gota, para cortar nas condições de vida de
quem trabalha, para aumentar impostos e entregar depois, a contado,
o dinheiro aos usurários que tanto zelam por todos nós, enquanto
não arranjam a cor adequada do contentor para onde nos querem
atirar.
As respostas mais
coerentes e sérias ao fatalismo da dependência externa, ao
inconformismo dos que dizem que devemos aceitar, para bem de todos
ser espoliados, vêm daqueles que afirmam ser urgente a renegociação
da dívida pública e o desenvolvimento da produção nacional, que
contraria o programa de submissão e agressão
estrangeira.
Para além das habituais
diatribes anticomunistas, os alvos de manchete de Seguro, serão
Coelho e Portas, a juventude. O contestado pelos seus barões de
irresponsável aventureiro, bem como o ex-noviço da
vichyssoise são para si gente credível. Mais que não seja
porque, em termos práticos, face aos acordos internacionais que
amarram o país aos ditames do capital financeiro internacional, o
nível de autoridade é igual a zero para os três, com a reciclagem
dos portugueses e Portugal posto no lixo a céu
aberto.