Europa discute energia nuclear
Almaraz aqui tão perto
O encerramento da
Central Nuclear de Almaraz, localizada em Espanha a 100 quilómetros
da fronteira portuguesa, nunca esteve em cima da mesa das
negociações em Bruxelas. Quem o refere é Massimo Garribba, diretor
na Direção de Energia da Comissão Europeia e responsável pela
energia nuclear e segurança. "O assunto discutido não foi esse, mas
sim a construção de um armazém temporário de recolha de resíduos
(...) Se a Espanha decidir fechar Almaraz, ou decidir discutir essa
questão, é uma responsabilidade sua".
Massimo Garribba
respondia a uma questão levantada pela comunicação social à margem
da Conferência promovida nas Termas de Monfortinho, no passado dia
24 de junho, pela Câmara de Idanha-a-Nova e pela eurodeputada
socialista Ana Gomes.
Aquele responsável
abordava, deste modo, o acordo alcançado entre os dois países no
que respeita à construção daquele depósito, e a continuidade de
funcionamento daquela Central Nuclear em Espanha para lá de 2020,
como é desejo dos seus responsáveis. Uma intenção que já levou à
oposição dos presidentes de Câmara de Castelo Branco, Luís Correia,
de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, e de Vila Velha de Ródão, Luís
Pereira.
Na conferência,
subordinada ao tema "Almaraz: Uma bomba relógio aqui ao lado",
Armindo Jacinto lembrou que Idanha-a-Nova, à semelhança dos
restantes municípios portugueses, "não foi chamada a pronunciar-se
sobre a instalação da Central Nuclear de Almaraz, mas agora é o
momento crucial para dizermos não à sua continuidade para além de
2020", a data de encerramento que está determinada.
Na perspetiva de Ana
Gomes, eurodeputada socialista que promoveu este debate, "somos nós
cidadãos que temos de voltar a colocar esta questão [encerramento
da Central Nuclear de Almaraz] na agenda". A eurodeputada criticou
o facto desta questão não ter sido discutida na última cimeira
ibérica realizada este ano em Portugal.
Em seu entender, "o facto
da questão da Central Nuclear de Almaraz, não ter feito parte da
Agenda da Cimeira Ibérica resulta da insuficiente consciência dos
cidadãos do que está em causa. Isso quer dizer que nós, aqueles que
sabem o que está em causa com o funcionamento desta central,
devemos fazer ouvir a nossa voz e obrigar os dois governos a
colocar este assunto na agenda política, e a Europa a acionar os
mecanismos para não deixar prolongar o funcionamento desta central
de alto risco".
Ana Gomes fala de
inúmeros incidentes que não foram comunicados a Portugal. "Os
governos não podem por tudo isto debaixo da mesa. Nós, cidadãos,
vamos obrigá-los a colocar isso na agenda. Vamos apostar nas
sinergias, entre aqueles que em Espanha também se preocupam, e
beneficiar do conhecimento que os espanhóis têm do que está em
causa com os riscos associados ao prolongamento do funcionamento
dessa central".
A eurodeputada socialista
diz que "com os desenvolvimentos tecnológicos em matéria de
energias renováveis, não há nenhuma razão para a existência de
centrais nucleares na Europa. Pois as centrais nucleares produzem
resíduos tóxicos para gerações. E os depósitos desses resíduos são
um problema que ainda não está resolvido".
Ana Gomes diz que em
Portugal "é impensável construírem-se centrais nucleares, pois
estamos expostos a fraturas sísmicas. Mas estamos numa península
que tem várias centrais nucleares, pelo que temos que nos
mobilizar, hoje por Almaraz e amanhã por outra, pois se houver um
acidente, ele não conhece fronteiras". A eurodeputada dá um
exemplo: "o acidente de Fukushima teve um impacto grande na
política energética alemã que decidiu descontinuar as centrais
nucleares. É isso que temos que fazer em Espanha e sobretudo em
França, onde há interesses económicos das companhias elétricas
ligadas ao nuclear".
Para Ana Gomes, "este é
um processo em que nós, portugueses, devemos ter a capacidade e o
interesse de agitarmos, de melhoramos o nosso conhecimento e de
fazer sinergias com os povos de Espanha e de outros países, no
sentido de acabar com esses interesses económicos que poderiam ter
alguma justificação há muitas décadas atrás, quando não havia as
tecnologias das renováveis que hoje existem". Por isso defende que
os "os recursos científicos e financeiros devem ser desviados para
outro tipo de energia limpa e renovável que não tem o perigo de
vida que as centrais nucleares representam".
O encerramento da central voltou a ser reclamado pelo presidente
da Câmara de Idanha-a-Nova, na abertura da conferência que contou
com a presença de diversos especialistas nacionais e
internacionais, como por exemplo Carlos Zorrinho (eurodeputado),
Luísa Schmidt (Universidade Nova), Massimo Garribba (Comissão
Europeia), Pedro Soares (deputado, presidente da Comissão de
Ambiente na Assembleia da República), ou Nuno Sequeira (Quercus),
num debate que teve como moderadores os jornalistas Fernanda
Gabriel (Associação Europeia de Jornalistas Parlamentares) e Diego
Carcedo (presidente da secção espanhola de Jornalistas
Europeus)