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High Noon, de Fred Zinneman

high-noon-gary-cooper-excerpt.jpgNão sendo um tema recorrente, a verdade é que de vez em quando temos que revisitar o western. Desta feita a propósito da fascinação do Joaquim Cabeças por esta fita dos anos 50 do século passado, década a que particularmente dedica a sua enciclopédica sabedoria cinéfila.

No início da década de 50 o western era um género que transpirava saúde. Muitos cineastas já com créditos firmados escolheram o género para as suas primeiras experiências a cores, casos de Delmar Daves e Anthony Mann, ou George Stevens, com "Shane" (1952), um marco dos filmes de "cóbois". Não estranha que longas metragens como "The Gunfighter" (1950), de Henry King e "High Noon" (1952), de Fred Zinnemann, sejam considerados mais ambiciosos, porque "ainda" a preto e branco, mas também porque apontavam para novos horizontes no chamado cinema americano por excelência.

Assim, quando em 1952 "High Noon" (O Comboio Apitou Três Vezes) chegou ao grande público, quer Fred Zinnemann, quer o argumentista Carl Foreman, a que podíamos acrescentar o produtor independente Stanley Kramer, melhor nesta sua faceta do que em muitos dos filmes que realizou, foram muito elogiados pelo grande público, mas também por alguma crítica. De facto, para os muitos que gostamos dele, este filme marca uma nova etapa na evolução do western, quase sempre estigmatizado como acolhimento de fitas de mera diversão, pecado de que já padecera, entre outros "Cavalgada Heróica" (1939), de John Ford. No western, sabemos que os ingredientes q.b. são as grandes cavalgadas, pancadaria entre bons e maus, os grandes espaços das pradarias, os ajustes de contas e o duelo final. Porém os argumentos evoluíram para a exploração de factores sociais, psicológicos e até políticos, de que são bons exemplos "The Bib Trail", de Raoul Walsh, "Rio Vermelho", de Howard Hawks ou "A Flexa Quebrada", de Samuel Fuller e, claro, este "High Noon", de Fred Zinnemann.

A propósito de Fred Zinnemann, deste e doutros dos seus filmes, é elucidativa a declaração de Betrand Tavernier, cineasta e crítico francês, na sua obra "50 Anos de Cinema Norte-Americano", quando afirma que tanto ele como toda a crítica francesa foram muito cruéis com o realizador que retratou à época como "esse tarefeiro de prestígio cujos filmes se distinguem por uma total ausência de estilo e personalidade, mediocremente compensados por duvidosas aspirações e audácias convencionais que nunca chegam a passar o nível do guião", dando como exemplos filmes como "From Here To Eternity", de 1953, "A Hatful of Rain", de 1957 e "Oklahoma", de 1955 que, diz, só podem suscitar descontentamento, para depois considerar agora que "também há ali preocupações humanistas e uma obra com uma coerência temática".

Em "O Comboio Apitou Três Vezes", Zinnemann dirige com rigor e talento o argumento de Carl Foreman. São 10:30 horas e Will Kane, o xerife da pequena cidade de Hadleyville, no dia do casamento com uma jovem quaker, Amy Fowler (uma aparição relevante de Grace Kellt), que significava abandonar o cargo e deixar a cidade, tem conhecimento do regresso do fora da lei Frank Miller, que havia encarcerado anos atrás, e que este o espera na estação com três cúmplices, para se vingar. Está criado o ambiente dramático que vai perpassar toda a intriga à medida que o xerife, um poderoso desempenho do veterano Gary Cooper, procura desesperadamente ajuda na população e amigos para a luta que se avizinha, que sucessivamente lhe vai sendo negada, vamos acompanhando o tic tac do relógio, que parece marcar o bater do coração de Kane, no aproximar da hora fatídica: meio-dia! Entre deixar a cidade e começar uma nova vida com a esposa quaker, conhecidos pelo seu pacifismo, Kane assume o seu dever (e da cidade, o que não é assumido pelos seus concidadãos) de enfrentar os seus inimigos. O que se segue é filmado com um ritmo que transmite toda a tensão, refletida nos planos do rosto de Kane. Angústia? medo? ou ambos?, até à luta final, um jogo de gato e ratos, com Kane a abater os fora da lei, contando com a preciosa ajuda de Amy que abate um deles antes de ser aprisionada por Miler que em desespero a quer usar como escudo, acabando por ser morto por Kane. Os que o abandonaram rejubilam agora com a sua vitória, mas Kane parte com a sua jovem esposa, não sem antes lançar a estrela, símbolo do xerife, para o chão, mostrando toda a sua indignação para com a cidade que o abandonou e a que agora ele vira costas. Uma personagem marcante do western, tal como Shane, exemplos de coragem moral, lúcida e adulta, ou, retomando Tavernier, as tais preocupações humanistas da obra de Zinnemann, um austro-húngaro, nascido em Rzeszów em 1907, que começou por estudar violino, depois dedicou-se ao direito em Viena, até que o cinema se impôs. Depois de algumas experiências na Europa, rumou aos Estados Unidos, onde se naturalizou americano e fez uma carreira de êxito em Hollywood de que o filme que escolhemos é disso exemplo acabado.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa com Joaquim Cabeças
Vanity Fair
 
 
Edição Digital - (Clicar e ler)
 
 
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