BOCAS do galinheiro
É verão, ninguém leva a mal
Vem aí o Verão e com ele os chamados
blockbusters para animar a malta, ajudar a dizimar baldes
de pipocas e umas colas. Uma receita infalível, a que não pode
faltar o belo filme sobre catástrofes, ataques terroristas ou de um
qualquer insecto ou animal insuspeito que se infiltre algures. Se
tudo isto for acompanhado por uns gritinhos adolescentes, é
brutal!
Este ano a época abriu com "Arranha--Céus", de Rawson Marshall
Thurber, protagonizado pelo ex-lutador de Wrestling, Dwayne "The
Rock" Johnson, uma montanha de músculos que enche a tela. Conhecido
de outra saga, "Velocidade Furiosa", desta vez o nosso homem vê-se
sozinho em Hong Kong no prédio mais alto e seguro do mundo, agora
em chamas e ele foi injustamente culpado por isso. Ele é Will Ford,
um antigo líder de uma equipa de resgate do FBI e veterano de
guerra, que agora avalia a segurança de arranha-céus. Quando a
polícia o quer deter para interrogatório, Will apenas encontra uma
solução: fugir para poder encontrar os culpados, limpar o seu nome
e descobrir uma forma de salvar a sua família que se encontra presa
dentro do edifício, acima da linha de fogo. Lembra-nos alguma
coisa? Eu diria que é uma versão com mais massa muscular por
centímetro quadrado de "Die Hard", dirigido em 1988 por John
McTiernan, e que teve em Bruce Willis um dos protagonistas
improváveis, o outro é Alan Rickman, o líder do bando de
terroristas que assalta o arranha-céus. Willis, que na altura
fazia-nos inveja ao lado de Cybill Shepherd na séria "Modelo e
Detective", deu neste filme o grande salto para o estrelato, com o
seu personagem John McClane que voltaria à acção em "Assalto ao
Aeroporto" (1990), dirigido por Renny Harlin, "Die Hard: A
Vingança" (1995), novamente dirigido por John McTiernan, "Die Hard
4.0: Viver ou Morrer" (2007), com realização de Len Wiseman e "Die
Hard: Nunca é Bom Dia para Morrer" (2013), de John Moore. Uma saga
que marcou uma nova abordagem do cinema de acção, imitado até à
exaustão.
Mas, como tudo tem um começo, esta nova onda de filmes de
acção/catástrofe teve a sua origem nos anos 70 do século passado,
desde logo com "Aeroporto" (1970), realizado por George Seaton e
Henry Hathaway (este não creditado), adaptação de uma novela de
Arthur Hailey, cheio de estrelas, como se tornou regra nestes
filmes catástrofe, à semelhança dos grandes épicos, no caso Burt
Lancaster, o piloto, a que lhe fizeram companhia no ar e em terra
Dean Martin, Jacqueline Bisset, George Kennedy, Jean Seberg, para
só mencionar estes, cujo mote era a existência de uma bomba no
avião. O resto já se sabe, há os bons, os maus e o herói improvável
que dá cor à coisa. E de "Aeroportos" foram também uma mão cheia
deles. As sequelas são outra das imagens de marca deste cinema, no
caso dos aviões ainda deu para dar protagonismo ao Concorde, numa
fita de 1979, realizada por David Lowel Rich, com Alain Delon e
Robert Wagner, o homem que quer derrubar o avião. Nada de novo,
portanto.
Mas nem só por prédios altos e aviões o cinema se interessou. Os
barcos também não escaparam em "A Aventura do Poseidon" (1972), de
Ronald Neame, em que um transatlântico se vira e um grupo de
passageiros tenta sobreviver ao desastre, aqui com Gene Hackman,
Ernest Borgnine e Shelley Winters e em 1977 foi uma montanha russa
alvo de ameaça do maluco de serviço que obviamente quer um resgate
para não mandar a geringonça pelos ares, num filme realizado por
James Golstone, com George Segal, Richard Widmark e Henry Fonda.
Mas, em 1974 Jonh Guillermin já tinha posto à prova Steve McQueen e
Paul Newman em "A Torre do Inferno". Adivinharam, é um arranha-céus
de 135 andares e em chamas. Também por lá estão Faye Dunaway e Fred
Astaire, porque era dia de festa. Mas, mesmo assim ainda houve
tempo e lugar para a terra se agitar com uma magnitude inimaginável
em "Terramoto" (1974), de Mark Robson, com Charlton Heston
(protagonizou também "Aeroporto 75"), Ava Gardner e George Kennedy,
um habitué no género.
Como se conclui, estes filmes catástrofe não são novos, e os novos
tendem a retomar os temas e as situações, como é o caso da recente
saga "Speed". Começou com "Speed - Perigo a Alta Velocidade"
(1994), realizado por Jan de Bont, com Keanu Reeves e Sandra
Bullock, bem acompanhados pelo construtor de bombas Dennis Hopper,
seguiu-se o 2, "Perigo a Bordo" (1997), também realizado por de
Bont, o autocarro deu lugar a um barco, e Keanu foi substituído por
Jason Patrick e o mau é Willem Dafoe. E por aí adiante. A receita é
simples, mas resulta há décadas, Verão após Verão. Se a isto
juntarmos o facto de The Rock ser um dos actores mais bem
pagos da actualidade, estará tudo dito.
Claro que filmes como "Cassandra Crossing" (1976) de George Pan
Cosmatos, "Deep Impact" (1998), de Mimi Leder ou mesmo "Titanic"
(1997), o incontornável super êxito de James Cameron, também estão
no rol. Mas, ficamos por aqui.
Está aí a aparecer mais uma "Missão Impossível". Não é sobre
desastres naturais ou provocados, mas é dos blockbusters
mais rentáveis. Talvez um dia tenha lugar nas Bocas.
Luís Dinis da Rosa
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
Glamurama