Editorial
Tempos que exigem um impulso renovador
Por várias vezes, temos afirmado que a
educação é, simultaneamente, um projecto de cultura, de
humanização, e de solidariedade. O que exige uma grande abertura
aos novos horizontes, às novas solicitações, às novas
oportunidades, para que não sejam, mais tarde, oportunidades
historicamente perdidas. É por isso que, para os educadores de
qualquer nível de ensino, a mudança controlada deveria ser uma das
formas de dar sentido à realidade do que fazem, clarificando a
dimensão social e ética das suas práticas.
As reformas dos sistemas educativos necessitam de profissionais que
sejam capazes de aproveitar as condições optimizantes inerentes a
todos os processos de inovação, potenciando as suas características
específicas, através da identificação das funções e competências
que esse impulso renovador lhes irá exigir.
Mas, para que esse investimento pessoal e profissional resulte em
eficiência organizacional, torna-se, a nosso ver, indispensável que
se conjuguem cinco condições, ou objectivos básicos de
intervenção:
1ª-
Conceder aos educadores autonomia de decisão quanto à elaboração de
projectos curriculares, a partir de um trabalho sistemático de
indagação, partilhado com os seus colegas.
2ª-
Prestar especial atenção à integração da diversidade dos formandos,
num projecto de educação compreensiva, que atenda às
características e necessidades individuais.
3ª- Manter um alto nível de preocupação quanto ao
desenvolvimento de uma cultura de avaliação do trabalho individual
e do funcionamento organizacional das escolas.
4ª-
Associar a flexibilidade à evolução, face ao reconhecimento que os
formadores detêm diferentes ritmos para atingirem os objectivos que
os aproximem dos indicadores sociais da mudança.
5ª-
Manter, finalmente, uma grande abertura às propostas e às
expectativas de participação de todos os elementos da comunidade
educativa, enquanto condição para promover a ruptura que conduz à
renovação.
À falta de poder e de controlo dos
professores, no que respeita ao seu trabalho, transformando-os em
simples executores de decisões tomadas por hierarquias distantes e
sem rosto (a partir das quais as "ordens" se tornam impessoais e
difusas, e em que as responsabilidades se diluem), temos chamado de
desprofissionalização, a qual atribuímos a muitos factores, dos
quais salientamos: o cansaço físico e moral, a falta de
reconhecimento social do seu papel, a falta de protecção perante o
vandalismo e a violência com que acrescidas vezes se deparam nas
escolas, a falta de recursos, os horários inadequados à sua função
formadora, a escassa formação para gerir os novos programas, a
pressão dos pais e outros agentes sociais, a intensificação da
atribuição de novas tarefas e funções para as quais nem sempre se
sentem preparados...
Esta desprofissionalização, que alastra em boa parte dos sistemas
educativos europeus, é uma das razões apontadas para a criação de
um progressivo clima de erosão profissional entre os docentes, que
atinge significativamente Portugal e uma boa parte dos países da
Europa.
Infelizmente, os tempos não vão para optimismos. Razões alheias ao
crescimento profissional dos professores, como o são as ancoradas
na crise demográfica, ou nas medidas administrativas que diminuem,
artificialmente, a necessidade de contratação de novos docentes,
anunciam tempos de ruptura e contestação. A não ser que,
atempadamente, se racionalizem os modos de agir, com a participação
adulta dos principais actores deste novo palco educativo.