Justino contra fecho de instituições de ensino superior público
As Políticas e Práticas Educativas de David e Rodrigues
O ex-ministro da Educação e atual
presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino,
opôs--se ao encerramento de instituições de ensino superior
públicas em Portugal. Aquele responsável abordou a questão do
reordenamento da rede de ensino superior durante a conferência
"Políticas e Práticas Educativas no Século XXI", em Castelo Branco,
onde também participou a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues.
Em resposta a uma questão da
plateia, David Justino acrescentou ainda que "tem que se pensar que
há cursos que não têm procura nem saída profissional, mas que
também há cursos que mesmo tendo poucos candidatos não podem ser
fechados".
No debate, realizado pela Escola
Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco,
David Justino acrescentaria, ainda sobre a mesma matéria, que tem
"que haver um processo de especialização" por parte das
instituições. "Querer ter tudo em todo o lado, não dá", disse. O
ex-ministro defendeu também que deve haver por parte das
instituições a capacidade de decidirem. "Se a decisão vier do
Ministério das Finanças vai tudo a eito".
O presidente do Conselho Nacional
de Educação destacou os resultados positivos obtidos por Portugal
no estudo do PISA realizado pela OCDE - Organização para o
Desenvolvimento e Cooperação Económico. "Estes resultados não
aparecem de forma isolada". Ainda assim lembra que "temos
progredido no PISA mas nada impede que isto seja reversível".
David Justino apresentou também
algumas reflexões que considera importantes para no futuro termos
mais e melhor educação, a saber: "generalizar esta nova cultura
escolar (orientada para os resultados), mobilizando todos os
recursos e instrumentos para os diferentes objetivos comuns e
reconhecidos; ter melhores professores. Hoje temos melhores
professores que há 20 anos; Mas, hoje preocupa-me o excessivo
enfase em formar os jovens em função do mercado de trabalho. Isso
pode-nos hipotecar uma estratégia de longo prazo", disse, para
depois se mostrar contra a privatização da escola.
A terminar, disse ainda que "se
deve reforçar a formação inicial", acrescentando "há que reconhecer
que nem todos têm capacidade de ser professores da escola
pública".
Escolaridade
obrigatória
Na conferência, que encheu por
completo o auditório da escola, falou-se sobretudo de educação e de
políticas educativas. Maria de Lurdes Rodrigues, apontou como um
dos desafios das políticas educativas para o século XXI, a
concretização da escolaridade obrigatória. O século XX foi o
período onde se desenvolveu essa ideia, a qual foi debatida em todo
o mundo". A ministra da educação do Governo de José Sócrates
recordou que "em 1990 Portugal fazia campanhas contra o trabalho
infantil com o propósito de trazer para a escola todas as crianças
e os jovens".
No entender de Maria de Lurdes
Rodrigues, a "escola foi a melhor instituição que inventámos". A
ex-ministra falou da importância do pré-escolar, lembrou que hoje
apesar das crianças e jovens estarem na escolaridade obrigatória,
uma grande percentagem desses alunos "faz um percurso longo na
escola, mas não concluem com êxito a escolaridade obrigatória. Este
problema, o do sucesso, muitos países o enfrentam". Por isso, diz,
o desafio "é aproximar os dois conceitos de escolaridade
obrigatória e de conclusão com sucesso dessa mesma escolaridade". E
lança uma questão: "porque é que é mais fácil definir legalmente os
termos da escolaridade obrigatória e é tão difícil de se
concretizar com sucesso?".
Maria de Lurdes Rodrigues lembra
que os "professores são atores decisivos para que todos os alunos
aprendam. Mas hoje sabemos que essa questão, de elevada
dificuldade, não pode ser deixada apenas aos docentes. As condições
que lhes proporcionam são fundamentais. Mas as famílias, as
entidades locais e governamentais, os sindicatos, as instituições
de formação de professores, todos, devem contribuir para a
solução".
A ex-ministra da Educação fala em
quatro dimensões para se obter uma nova geração de políticas
educativas. A primeira diz respeito às convicções. Como exemplo
surge a escolaridade obrigatória até aos 18 anos e ao
12º ano. "Será que acreditamos que
todos os jovens conseguem isso com sucesso? Se há países em que 90%
dos jovens conseguem, não há uma razão para pensar que somos
diferentes!".
A segunda dimensão está relacionada
com o "conhecimento técnico-pedagógico. Qual é a melhor forma de
ensinar, para que todos aprendam?" A terceira dimensão refere-se à
governabilidade do sistema e implica "a escola como organização,
como centro de política educativa. Só assim se supera a falta de
recursos". A quarta dimensão diz respeito à afetação de recursos.
Hoje é mais fácil prever os recursos que são necessários. E essa
afetação deve ter em conta cada escola, em função dos problemas
específicos de cada uma".
Já em resposta a questões do
público, recordou que a prova de entrada para a profissão docente
por ela proposta, "nada tinha a ver com a que está hoje em
discussão. Não havia nenhuma intenção de abranger os professores do
sistema. A ideia era colocar em pé de igualade todos os alunos
finalistas".
Esta conferência faz parte de um
ciclo de colóquios que se vai prolongar até junho, e que garante
créditos ECTS aos interessados, que no final terão que elaborar um
relatório de todo o ciclo. O ciclo de colóquios é organizado pelos
docentes Valter Lemos (coordenação), Natividade Pires, Margarida
Morgado, Eduarda Santos, Madalena Leitão, Maria João Moreira, João
Petrica e Fátima Paixão.