Opinião
O PISA e a política do preconceito
"Onde
está o bando do anti-eduquês? Não está. Escondeu-se… porque a OCDE
usa o conhecimento e não o preconceito como mecanismo de ação
política"
O PISA é hoje o mais importante
indicador educativo em termos internacionais. Os seus resultados
são anunciados nas televisões e jornais de todo o mundo e não há
nenhum governo que possa furtar- -se ao seu impacto público e
político (embora alguns, como o português, não deixem de tentar).
São testadas as competências dos alunos de 15 anos de idade, em
leitura, matemática e ciências. A primeira edição teve lugar em
2000, repetindo-se de três em três anos (2003, 2006, 2009 e 2012) e
Portugal tem participado em todas as edições.
Na apresentação de resultados, a
OCDE não só compara os países, mas relaciona os resultados obtidos
e a sua evolução, com diversas variáveis como a origem social das
famílias, a organização das escolas e das turmas e as políticas
públicas de educação implementadas pelos diversos países.
Os resultados obtidos por Portugal
têm sido sempre abaixo da média, mas têm vindo a melhorar ao longo
do tempo, como se pode ver no gráfico.
As melhorias de Portugal merecem
referência positiva no relatório da OCDE, bem como as políticas
educativas seguidas e o bom caminho que as mesmas trilharam nesse
período. A escola portuguesa não só se tornou mais eficaz e
eficiente como mais inclusiva, porque os resultados dos alunos mais
fracos melhoraram, e não à custa dos melhores (como alguns tentavam
vender como um facto e que se verifica agora completamente falso)
porque estes também melhoraram.
Estes dados e o conteúdo dos
relatórios não podem deixar de chamar a atenção para como eram
falaciosos os argumentos daqueles que, ao longo desses anos,
criticaram a escola portuguesa e as políticas de educação, fazendo
inflamados discursos contra "o facilitismo". Onde estão o Nuno
Crato, a Filomena Mónica, o José Manuel Fernandes, a Fátima
Bonifácio, o Guilherme Valente e o bando do "anti-eduquês" na
discussão destes resultados? Não estão. Esconderam-se. Apesar de já
terem o seu ministro. E fazem--no, porque, tal como todos nós,
sabem que o seu argumentário nada tem de objetivo a suportá-lo, mas
somente ideologia e preconceito.
O que,
aliás, está bem provado, nos resultados da Suécia, país apresentado
como exemplo de alteração, nesta década, das políticas de educação,
no sentido da pretensa "liberdade de escolha", do "cheque-ensino" e
do "anti-eduquês". Ora a Suécia é o país em que os resultados mais
caíram (já está abaixo de Portugal nas três áreas). O gráfico
mostra bem o resultado das políticas seguidas no quadro da
ideologia que hoje ilumina o governo, o ministro da educação e os
seus correligionários.
Não vindo a terreno as luminárias
da teoria, restam alguns bloggers de encomenda a tentar contrariar
o óbvio (como os que vieram dizer que a queda da Suécia se devia
aos resultados dos emigrantes, o que o próprio relatório contraria
objetivamente). Suspeito que não tardaremos a ver os ataques ao
PISA e à própria OCDE, numa reedição do "orgulhosamente sós". Esta
gente não gosta dos estudos da OCDE. Curioso. Tratando-se de uma
organização defensora assumida da economia liberal parece que assim
não devia ser. Mas é, porque, ao contrário deles, a OCDE usa o
conhecimento e não o preconceito como mecanismo de ação
política.
Esperemos também que os resultados
do PISA (aliás, como diversos outros estudos e relatórios da OCDE)
ajudem a que professores e académicos que têm dedicado a sua vida à
educação e à formação de professores reajam finalmente a uma
campanha que, para além querer simplesmente impor uma ideologia, o
tem feito somente com base na exploração de preconceitos, tentando
afetar a imagem de muitos que têm dedicado a sua vida à procura de
uma educação mais inclusiva, mais eficiente, mais eficaz e de maior
qualidade para todos e degradar as instituições de formação de
professores (talvez com o objetivo de as fechar - veremos - como
fez Carneiro Pacheco nos anos 40). Esta campanha teve algum êxito,
sem nunca apresentar dados objetivos, mas só conversa charlatã,
porque muitos dos que sabem isso não reagiram (e, alguns,
infelizmente, com a cegueira da oposição ao Governo Sócrates, até
foram cúmplices). Mas é o tempo.
Mas é cada vez mais claro que a
escolha é, afinal, entre o conhecimento e a crença e entre a
liberdade de pensamento e o preconceito.
Valter Lemos
Ex-secretário de Estado da Educação