Opinião
O papel da sociedade na escola atual
"La educación ha perdido el norte, ha caído en la
indefinición y ha olvidado su objetivo principal: la formación de
la personalidad. Una formación que corresponde, sobre todo, a la
familia, pero también a la escuela, a los medios de comunicación,
al espacio público en todas sus manifestaciones".
(Victoria Camps)
Sempre se buscou a
importância desta instituição na sociedade uma vez que interfere na
formação dos indivíduos, sobretudo atualmente, onde as mudanças
ocorrem de forma tão rápida que o fator humano muitas vezes não
consegue acompanhar. Diante desta velocidade com que a informação
se desloca, envelhece e morre, diante de um mundo em constante
mudança, seu papel vem se transformando, senão na essencial tarefa
de educar, pelo menos na tarefa de ensinar, de conduzir a
aprendizagem e na sua própria formação que se tornou
permanentemente necessária como refere Moacir Gadotti em seu livro
"Boniteza de um sonho: Ensinar e Aprender com
Sentido".
Tem-se perguntado frequentemente
qual o papel da escola na sociedade atual e a resposta incide em
que é através dela que formaremos cidadãos competentes,
conscientes, críticos e preparados para viver em sociedade. Em
inúmeras formas e diversos prismas, conhecemos discursos que
definem o papel da educação, da escola, como sendo, reconstrutores
da sociedade, por meio da homogeneização das desigualdades, com a
produção de indivíduos críticos e conscientes estimulados para o
desenvolvimento cognitivo e socioeconómico.
Sempre estamos nos perguntando qual
é a finalidade da educação? Ao longo dos anos, muitos autores, se
compeliram em compreender o real papel da escola, perante a
sociedade. A instituição de ensino foi concebida com o principal
objetivo de originar grandes transformações que causariam nos
indivíduos e na sociedade. Ir à escola, ocupar um lugar nas salas
de aula, deixou de ser um lugar privilegiado, sacralizado e de
acesso restrito ao conhecimento e a informação, para ser um recinto
aberto, amplo, onde todos poderiam aprender e desenvolver suas
capacidades de inter-relacionar-se, construindo assim, múltiplos
saberes. Existem ainda, muitas ideias que estão enraizadas na nossa
forma de pensar sobre a educação e seu papel junto à sociedade.
O professor Mario Sergio Cortella
em seu livro "Educar para transformar", diz que, discutir o papel
da escola, é procurar uma compreensão política da própria
finalidade do trabalho pedagógico. Assim, estamos sempre a nos
perguntar, "qual o papel da escola para a sociedade?" Formar
indivíduos críticos, preparados para a sociedade, uma escola de
inclusão, mas infelizmente, a escola está muito longe de ser um
ambiente seguro e imparcial, que impede que as diferenças que
existem fora dos seus portões, adentrem o recinto escolar e
massacrem vários discentes e inclusive docentes e demais membros da
comunidade educativa por suas diferenças que a sua vez estão
completamente legitimadas pelo simples facto de ser "humano". Então
creio que chegou a hora de nos perguntarmos qual o papel da
sociedade atual na escola? Poderá a escola enquanto instituição de
ensino atemporal mudar a sociedade deste tempo? Poderá a escola com
seus recursos humanos e materiais atuais mudar a sociedade atual
como se fosse o único agente de mudança a quem atribuir
responsabilidades? Poderá a sociedade continuar a terceirizar a
educação de "berço" para escola em situação de verdadeira
impunidade e imunidade parental, social e política?
Isto ocorreu à proporção que as
famílias, muitas delas, declinaram do dever de educar seus filhos.
Por esta razão, a par de ser responsável pelo processo de ensino e
de aprendizagem de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando
de crianças e adolescentes, a escola assumiu a atribuição de formar
o cidadão, construindo com ele não só conhecimentos, competências e
habilidades, mas a escala de valores, a ética e a moral em uma
tentativa de suprir a referida terceirização da educação de
"berço".
Diante disso, entendo que a
educação não conseguirá transformar a sociedade sozinha e a
sociedade por sua vez, não conseguirá mudar sem a educação.
Enquanto, a sociedade não
compreender que deve investir colaborar e corroborar com a melhoria
da educação, estará fadado a "criar" profissionais frustrados,
obsoletos, irresponsáveis, duvidosos e que não passam de meros
expectadores da ruína humana, e mal querem saber de aniquilar as
desigualdades entre seres humanos nas quais fazem parte, pois,
preferem continuar no lamaçal da ignorância a terem que "perder
tempo" adquirindo a fórmula do crescimento cognitivo, pessoal e
social que se chama Educação como refere a pedagoga Cláudia
Stochi.
Professora Elisabete Pogere
Doutorada em Ciências da Educação: Intervenção Psicossocioeducativa