Quatro Rodas
Gracias amigos, ¡jamás lo olvidaré!
Quinta-feira, pelas 18h recebo um telefonema do meu
amigo madrileno, Pepe de La Parte que começou por dizer: "Paulo,
tenemos un problema…".
Sabia que nesse fim de semana uma
equipa constituída pelos irmãos António Martin e Javier Martin,
pelo Carlos e Marcos Kremers (pai e filho) e também o Pepe, iriam
competir, nas 24 horas de Braga, num ZX preparado pelos irmãos de
Valladolid. Tratava-se de uma prova organizada por uma escuderia
espanhola, para carros pré clássicos, que escolhera o circuito de
Braga para realizar uma corrida de resistência automóvel, onde
equipas de 5 pilotos se iriam revezando em turnos de mais ou menos
duas horas.
Mas afinal qual era o problema? O
telefonema tinha a ver com o facto de, à ultima hora, o Marcos
Kremers, não poder estar presente. Faltava pois um piloto, para
completar o team Clasicos de Madrid, na véspera da entrada em
pista. Com alguma inteligência o Pepe, foi-me "lançando a escada"
para ver se conseguíamos em Portugal arranjar um piloto, para
completar a equipa. À boa maneira dos políticos, foi descrevendo o
perfil da pessoa que queriam para preencher o lugar. Lá fui
descascando o perfil até que verifiquei que, na verdade, ele estava
a convidar-me, de uma forma subtil, pois só eu encaixava naquele
perfil. Claro que as qualidades de condutor eram o que menos
interessava. O ponto fundamental deste perfil era a amizade que nos
une, desde há alguns anos.
Fiquei algo assustado, nos momentos
iniciais. Com uma idade destas não me estava a ver entrar numa
corrida de velocidade, pois a última vez que vesti o fato de
competição já foi no longínquo ano de 95.
Não tive muito tempo de reflexão,
pois parece que de repente a minha mente, voltou aos anos loucos de
juventude, onde o desejo de aventura se sobrepõe a qualquer atitude
mais prudente.
Superada alguma logística, o certo
é que no sábado de manhã, estava no circuito de Braga, equipado a
preceito, com capacete fato e luvas, usufruindo do convite "de mis
amigos españoles".
Já nas boxes, tomei o primeiro
contacto com o carro, uma obra prima dos "hermanos Martin", que
passaram os últimos 3 meses a construir este ZX, tendo em conta as
regras da corrida, onde o consumo do carro é importante, para
reduzir o número de paragens na box.
Como os companheiros de equipa já
tinham rodado na véspera, fui eu o primeiro a ir para a pista na
sessão de treinos. Dei quatro voltas e passei o lugar. Como
entretanto começou a chover e a pista ficou mais lenta, foi o meu
tempo que contou para a grelha. Nada mau! - um sétimo lugar em mais
de 30 participantes. Devo, no entanto, reconhecer que grande parte
deste feito se deveu à qualidade do carro.
Lá planeámos a corrida, cabendo ao
Carlos Kremers o primeiro turno. A corrida começou às 13h e houve
muita confusão à partida, mas sabíamos que a calma do Carlos
poderia dar frutos. O certo é que acabou o turno em terceiro ou
quarto. Depois seguiram-se os 3 turnos dos meus colegas e eu
iniciei a condução, perto das 23h00, após o aproveitamento de
entrada de um "pace car". Partia com a responsabilidade de ter
recebido o carro em 2º lugar da
geral.
As primeiras voltas foram um
autêntico choque. Neste circuito, a diferença entre conduzir de dia
e de noite é abismal. No início todos me passaram e a moral veio
abaixo, mas depois pus em prática o conselho do António, e
coloquei-me atrás de alguém com andamento semelhante ao meu para me
guiar pelas suas luzes, o certo é que entrei no ritmo. Passadas
cinco voltas, comecei a identificar os pontos de travagem, as
trajetórias menos escorregadias, e como se diz na gíria, lá comecei
a aviar, uns quantos. O certo é que a partir daí só devo ter sido
ultrapassado uma ou duas vezes. Passadas duas horas, lá acendeu a
luz da reserva, sinal que iria acabar o meu turno e teria de
regressar à box também para reabastecer.
Acabei um pouco cansado, mas feliz
porque mantivemos a segunda posição. Era uma da manhã e
preparava-me para dormir um pouco na "motorhome", pois daí a 8
horas deveria entrar de novo.
Quando tudo parecia controlado e
calmo, lá para as duas e meia da manhã, entra o Carlos na box com o
motor a soluçar… alarme na box e todos acordámos. O Javier e o
António começaram a trabalhar no carro a um ritmo louco, para
tentar reparar a avaria. Estiveram mais de meia hora a tentar
resolver, mas a situação foi declarada irremediável e consumámos a
nossa desistência, quando seguíamos em segundo lugar. Coisas das
corridas!
Já passava das três da manhã quando
tirámos esta foto com os 5 elementos da equipa. Fomos depois beber
um refrigerante, tertuliámos um pouco e lá fomos dormir, com a
promessa de haver uma próxima.
Normalmente no final das minhas
histórias há uma pequena conclusão ou mesmo provocação, mas neste
caso, a história acaba com um enorme agradecimento aos meus amigos
António, Carlos, Javier e Pepe, que me confiaram o volante numa
competição automóvel, onde me senti um autêntico "piloto de
fábrica", pelo tratamento que me proporcionaram. "Gracias amigos,
jamás lo olvidaré!"