Politécnico

Políticas para o ensino superior no interior do país
Não há ensino superior a mais
DSC_0374.jpg"As instituições de ensino superior do interior do país constituem uma enorme oportunidade". As palavras são do Secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes. O governante falava durante o debate promovido pelo Sindicato Nacional de Ensino Superior (SNESup), em Castelo Branco, numa iniciativa onde intervieram os responsáveis pelos politécnicos e universidades do interior do país, organizada pelo docente João Leitão, e que foi moderada pelo diretor do Ensino Magazine, João Carrega.
José Ferreira Gomes voltou a salientar a importância do novo ciclo "de dois anos", os chamados Cursos Técnicos Superiores Profissionais (aos quais os institutos politécnicos já demonstraram a sua discordância). "Só 35 por cento dos alunos que termina o ensino secundário é que entra no superior. Temos que nos preocupar em aumentar o número de jovens para entrarem nas instituições, para isso temos que garantir que a diferenciação da oferta aumente. É nesse quadro que estamos a propor o novo ciclo de dois anos, o qual existe na maioria dos países europeus e e em estados americanos", explicou.
José Ferreira Gomes falava depois de ouvir António Vicente (Presidente do SNESup) - o qual entregou um documento com propostas claras ao Governo-, e Carlos Maia, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco, que lembrou "estar-se a assistir a uma litoralização do ensino superior", dando como exemplo que 53% das vagas está em Lisboa, Porto e Coimbra. "Estamos a falar de equidade e coesão territorial", disse Carlos Maia, acrescentando que se tem verificado uma desvalorização do ensino superior: "os jovens acham que não é uma mais valia tirar um curso superior".
DSC_0094.jpgA intervenção do presidente do IPCB acabaria por ser reforçada quer pelo vice-presidente da Câmara de Castelo Branco, Arnaldo Brás, que sublinhou a questão da regulação das vagas, quer pelos presidentes dos intituitos politécnicos de Portalegre (Joaquim Mourato) e de Bragança (Sobrinho Teixeira).
"O ensino superior no interior representa apenas 17% das vagas e 16% do total do Orçamento do Ensino Superior", disse Joaquim Mourato, que é também o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos. "30% dos 4.689 cursos estão concentrados em 3% do território nacional (distrito de Lisboa). Para além disso, quase metade dos 4.689 cursos encontram-se nos distritos de Lisboa e Porto (concentrados em 5,6% do território nacional)", acrescentou.
Joaquim Mourato lembrou ainda que "o impacto direto destas instituições nas respetivas regiões varia entre os 27 e 171 milhões de euros. O seu peso médio no PIB varia entre os 5% e os 11% da região onde estão inseridas. São responsáveis pelo emprego de mais de 12% da população ativa dos concelhos. Por cada euro investido pelo Estado no financiamento destas instituições, existe um retorno médio de 4,22 euros, podendo atingir o máximo de 8,07 euros".
DSC_0337.jpgPara os intervenientes não há "ensino superior a mais". Sobrinho Teixeira colocou o dedo na ferida, ao referir que "dá a sensação que somos um cargo para o país", destacando depois os estudos da OCDE e a EUA sobre o ensino superior em Portugal. "Nós (Portugal) nunca valorizamos esses estudos, parece que se quer arranjar um que sirva", acrescentou, para depois se mostrar contra as fusões de instituições, defendendo isso sim as parcerias, como as que o seu politécnico tem com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A questão das vagas de acesso foi também abordada pela maioria dos intervenientes. O Secretário de Estado lembrou que há pessoas que lhe dizem que "se tirarem 5 a 10 por cento das vagas em Lisboa e Porto faria toda a diferença para a instituições do interior. Mas estamos numa democracia e a maioria dos candidatos ao ensino superior escolhe o litoral, e nem sempre a mobilidade é bem acolhida pelas famílias". No entender de José Ferreira Gomes, "o regime administrativo de controlo de vagas não tem grande futuro. Surge-nos então a questão, qual é a alternativa? há que atrair os jovens para estas regiões e dizer-lhes que há uma oportunidade. Aquilo em que estamos a trabalhar é criar um incentivo financeiro para os alunos virem estudar para o interior do país, onde as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento das Regiões têm uma palavra a dizer".
Democratizar
o ensino

DSC_0381.jpgO ex-secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, lembrou que a criação das universidades e politécnicos tiveram a razão de democratizar o ensino e foram também uma política de território. Sobre a questão das vagas, Valter Lemos referiu que "se a política de ensino superior for apenas a de mercado, sem a regulação do estado, todas as instituições de ensino superior do interior vão fechar", acrescentando que "quando dá jeito usam-se os instrumentos de regulação, quando não dá, não se usam. No litoral foram criadas mais quatro mil vagas, e no interior diminuiram-se 200", disse. Valter Lemos voltou a frisar que o desaparecimento de instituições de ensino superior não traz nenhuma mais valia. Isto não quer dizer que não se façam parcerias". Sobre os cursos de dois anos, Valter Lemos disse não "dislumbrar nenhuma diferença, a não ser um semestre a mais, e a entrada ser aberta a alunos com o 11º ano". No entender daquele docente da ESE de Castelo Branco, "estes cursos não podem caraterizar o subsistema de ensino politécnico. Se assim for, vamos de mal a pior".
DSC_0409.jpgPedro Saraiva, da CCDRC, lembrou que as "instituições de ensino superior deveriam ter na sua agenda a promoção ou o apoio ao aparecimento de empresas gazela", as quais são fundamentais para a promoção do emprego e do desenvolvimento. Aquele responsável salientou o facto de Portugal "ter uma rede equilibrada de ensino superior".
João Canavilhas (vice-reitor da UBI), apresentou como sugestões a "coesão territorial, os apoios à mobilidade e os incentivos à criação de emprego, bem como os estímulos à cooperação regional", enquanto que o vice-reitor de Évora, Cancela D'Abreu, falou de quatro eixos que considera importantes para o ensino superior no interior do país: "qualidade, exigência, comunicação e atratividade". Também de Évora, Manuel José Lopes, da Escola de Enfermagem S. João de Deus, abordou a questão da investigação e a falta de apoios que se sentem na área.
Numa visão autárquica, Armindo Jacinto falou do território "do interior como um espaço de oportunidades", criticando o facto de Portugal não ter conseguido a coesão económica e social, e de ser gerido com base em números. O autarca que em Idanha-a-Nova tem a Escola Superior de Gestão do IPCB tem defendido o desenvolvimento do interior do país, e na área da educação concretizou alguns projetos com a Universidade de Berkeley, da Califórnia, os quais envolveram também a Escola Superior de Gestão.



 
 
 
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