Joaquim Mourato, presidente do Instituto Politécnico
Portalegre com estratégia definida
O Instituto Politécnico de Portalegre (IPP)
assume-se como o grande motor no desenvolvimento do distrito de
Portalegre e da região em que se insere. Com o plano estratégico
definido, o Politécnico aposta na qualificação do corpo docente,
com doutorados acima dos 60%; no aumento da internacionalização e
no desenvolvimento do projeto educativo, científico, cultural e
desportivo do Politécnico. Um projeto que o presidente da
instituição vê como estratégico para transformar o instituto e
garantir a sua sustentabilidade. Joaquim Mourato define como áreas
estratégicas "as novas tecnologias ligadas ao design de
comunicação, os biocombustíveis (será construída uma central, num
projeto de cerca de dois milhões de euros), as rochas ornamentais,
a cortiça - cujos setores estão fortemente ligados à região -, e o
agroalimentar, isto para além das fileiras de suporte mais
abrangentes como as ciências agrárias, a saúde ou as ciências
empresariais".
O presidente da instituição
reforça a importância daquele projeto, que depois de começar a ser
implementado, permitirá abrir uma nova discussão, relacionada com a
revisão de estatutos do IPP.
Joaquim Mourato não tem
dúvidas sobre o impacto do Politécnico de Portalegre na região e dá
como prova o estudo que mede essa mesma influência. "Esse estudo
demonstrou aquilo que nós já sabíamos. O IPP tem um impacto de
quase 10% da população ativa, e mais de quatro euros de retorno por
cada euro que vem do Orçamento de Estado".
Joaquim Mourato explica que "cada
vez que nós ouvimos dizer que vem menos dinheiro do Orçamento de
Estado para o nosso instituto, teremos que multiplicar essa
diminuição por quatro, e obtemos o valor que teremos a menos na
economia local". O presidente do IPP dá o exemplo: "quando vem
menos um milhão de euros do Orçamento de Estado para o politécnico,
significa que são menos quatro milhões de euros que vão ser
distribuídos na economia local".
O presidente do Politécnico de
Portalegre esclarece que "esta é uma forma muito simples para
percebermos o impacto do IPP. Portanto, de cada vez que surgem
regras, como no despacho de vagas ou de cursos, que penalizam a
procura de estudantes para o nosso instituto, estamos a falar de um
forte impacto negativo". Joaquim Mourato diz que "este é um assunto
muito importante. Foi importante todas as entidades perceberem o
impacto que o IPP tem na região, e temos que saber ler muito bem
estes números para se tomarem decisões para a região".
No entender de Joaquim Mourato,
"este impacto é também significativo nas áreas culturais e
desportivas da região. Sem a comunidade académica da nossa
instituição, certamente que seria inviável a realização de
determinados eventos, pois não haveria gente suficiente. E esse
tipo de impacto também irá ser medido".
Uma das formas de conseguir
atrair jovens para o IPP e para outras instituições de ensino
superior pode passar pela atribuição de bolsas para a
interioridade. O programa Mais Superior do Ministério da Educação
prevê isso mesmo e pode avançar já no próximo ano. "Essa foi uma
ideia que começou a ser construída nas reuniões que mantivemos
[Joaquim Mourato é também presidente do Conselho Coordenador dos
Institutos Superiores Politécnicos - CCISP] com o secretário de
Estado do Ensino Superior e com as Comissões de Desenvolvimento das
diferentes regiões", explica.
Uma medida que Joaquim Mourato vê
com bons olhos: "é necessário existirem estímulos para contrariar o
despovoamento. Nós não podemos impedir os jovens do interior de
quererem ir para o litoral. Por isso temos que trabalhar o sentido
inverso, criando estímulos para quem cá está possa ficar e para que
quem quiser possa vir". O presidente do IPP reforça a ideia de que
"no interior do país existe qualidade de ensino, capacidade
instalada, uma excelente qualidade de vida e um ótimo ambiente
académico. E isto é dito pela tutela, pelo que faz todo o sentido o
aparecimento destes estímulos para que os jovens do litoral possam
vir a descobrir esta oportunidade".
A operacionalização desta medida
depende agora da articulação entre as instituições de ensino e as
comissões de coordenação das diferentes regiões. "Vamos perceber se
estamos mais interessados em construir rotundas ou em apostar na
qualificação dos portugueses e no povoamento do interior do país",
diz Joaquim Mourato, para quem "esta tem que ser uma aposta muito
forte das comissões de coordenação".
Para Portalegre aquela medida
terá "um impacto muito positivo. Nós temos uma excelente
notoriedade com os nossos diplomados, os quais na sua maioria são
de fora da região (grande Lisboa, Setúbal, Santarém e Leiria). Se
nós conseguirmos ter estas condições e as divulgarmos bem, podemos
ter resultados positivos na captação de novos estudantes".
O presidente do IPP considera que
o "ensino superior pode funcionar como uma medida de combate às
assimetrias regionais" e até para reorganização da própria rede de
ensino superior. "Muitas vezes assistimos a instituições do litoral
a reclamarem por mais recursos do Estado porque estão sobrelotadas
e têm professores a menos do que aquilo que deveriam ter para esse
número de alunos. O raciocínio que essas instituições fazem é:
dêem-nos mais recursos, e não o inverso, não podemos ter tantos
estudantes! Isto enquanto no interior há uma capacidade instalada
para receber mais alunos. Eu poderia ter aqui no Politécnico mais
mil estudantes, sem necessitar de mais um euro do Estado, nem de
mais professores ou funcionários. Não se continua a entender esta
lógica de eficiência e de racionalização do país, pois num lado do
país assiste-se a um desaproveitamento dos recursos existentes, e
no outro há uma sobrelotação. Eu costumo dizer que nós (Portugal)
somos muito incompetentes. Há 500 anos conseguimos conquistar o
mundo e estar em todo lado. E nos dias de hoje não conseguimos dar
conta deste pequeno retângulo, que está despovoado na maioria do
seu território".
Joaquim Mourato acrescenta: "de
uma vez por todas, o ensino superior, em parceria com o
desenvolvimento regional, pode ser um instrumento estratégico para
combater o desequilíbrio acentuado do nosso território".
O presidente do IPP olha para o
futuro com a lição bem estudada e no que respeita à reorganização
da rede de ensino superior, esclarece que não é favorável a fusões.
"Não é possível trabalharmos de forma isolada, devemos trabalhar em
rede, e devemos ter parceiros. O caminho passa por parcerias
estratégicas, as quais devem ser consolidadas, mantendo o IPP a sua
personalidade jurídica. A fusão está fora de questão. Essa não é a
solução. A nossa realidade não é a mesma que Lisboa. Estamos a
falar de instituições distantes por mais de 100 quilómetros".
Joaquim Mourato adianta: "o que
nos parece mais correto é estabelecer parcerias, como o fizemos
recentemente com a Universidade de Évora e o Politécnico de Beja, o
qual envolve a partilha de recursos. Quando planeamos os anos
letivos, antes de contratar novos docentes vamos à nossa rede. O
mesmo acontece com recursos laboratoriais. Ao nível da
investigação, faz também todo o sentido trabalhar em rede e
pertencer ao mesmo centro de investigação. E isto são parcerias
estratégicas, não só com aquelas instituições, mas também com
outras como Castelo Branco!".
O presidente do IPP diz que
"aquela ideia de partida - que todos nós sentimos - que era de
haver uma racionalização do ensino superior à custa do interior do
país, já foi afastada. É uma ideia que o próprio governo já
percebeu, o qual já referiu que as instituições que existem são
para continuar e não estão em causa. O problema que existe é o da
sua sustentabilidade, e é nisso que estamos a trabalhar".
Uma tarefa que passa também pela
oferta formativa e pela aposta em áreas estratégicas. Joaquim
Mourato refere que no próximo ano o IPP apresentará um novo
mestrado, relacionado com um setor da região: rochas ornamentais.
"É uma área relacionada com os nossos recursos endógenos e a
proposta resulta de um pedido do próprio setor. Esperamos poder
abri-la já no próximo ano". O presidente do Politécnico recorda que
a aposta em áreas ligadas à região é estratégica. "No ano passado
apostámos nos biocombustíveis, e este ano será o das rochas
ornamentais", explica.
A este propósito Joaquim Mourato
recorda ainda a "construção de uma central de biocombustíveis, num
projeto de dois milhões de euros. Ficaremos com equipamentos e
estruturas únicas no país, e com parceiros como a Galp Energia
vamos afirmar este setor, captar mais alunos não só ao nível
formativo, como também na investigação e desenvolvimento".