Politécnico

Joaquim Mourato, presidente do Instituto Politécnico
Portalegre com estratégia definida
IMGP4934.jpgO Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) assume-se como o grande motor no desenvolvimento do distrito de Portalegre e da região em que se insere. Com o plano estratégico definido, o Politécnico aposta na qualificação do corpo docente, com doutorados acima dos 60%; no aumento da internacionalização e no desenvolvimento do projeto educativo, científico, cultural e desportivo do Politécnico. Um projeto que o presidente da instituição vê como estratégico para transformar o instituto e garantir a sua sustentabilidade. Joaquim Mourato define como áreas estratégicas "as novas tecnologias ligadas ao design de comunicação, os biocombustíveis (será construída uma central, num projeto de cerca de dois milhões de euros), as rochas ornamentais, a cortiça - cujos setores estão fortemente ligados à região -, e o agroalimentar, isto para além das fileiras de suporte mais abrangentes como as ciências agrárias, a saúde ou as ciências empresariais".
O presidente da instituição reforça a importância daquele projeto, que depois de começar a ser implementado, permitirá abrir uma nova discussão, relacionada com a revisão de estatutos do IPP.
Joaquim  Mourato não tem dúvidas sobre o impacto do Politécnico de Portalegre na região e dá como prova o estudo que mede essa mesma influência. "Esse estudo demonstrou aquilo que nós já sabíamos. O IPP tem um impacto de quase 10% da população ativa, e mais de quatro euros de retorno por cada euro que vem do Orçamento de Estado".
Joaquim Mourato explica que "cada vez que nós ouvimos dizer que vem menos dinheiro do Orçamento de Estado para o nosso instituto, teremos que multiplicar essa diminuição por quatro, e obtemos o valor que teremos a menos na economia local". O presidente do IPP dá o exemplo: "quando vem menos um milhão de euros do Orçamento de Estado para o politécnico, significa que são menos quatro milhões de euros que vão ser distribuídos na economia local".
O presidente do Politécnico de Portalegre esclarece que "esta é uma forma muito simples para percebermos o impacto do IPP. Portanto, de cada vez que surgem regras, como no despacho de vagas ou de cursos, que penalizam a procura de estudantes para o nosso instituto, estamos a falar de um forte impacto negativo". Joaquim Mourato diz que "este é um assunto muito importante. Foi importante todas as entidades perceberem o impacto que o IPP tem na região, e temos que saber ler muito bem estes números para se tomarem decisões para a região".
No entender de Joaquim Mourato, "este impacto é também significativo nas áreas culturais e desportivas da região. Sem a comunidade académica da nossa instituição, certamente que seria inviável a realização de determinados eventos, pois não haveria gente suficiente. E esse tipo de impacto também irá ser medido".
Uma das formas de conseguir atrair jovens para o IPP e para outras instituições de ensino superior pode passar pela atribuição de bolsas para a interioridade. O programa Mais Superior do Ministério da Educação prevê isso mesmo e pode avançar já no próximo ano. "Essa foi uma ideia que começou a ser construída nas reuniões que mantivemos [Joaquim Mourato é também presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos - CCISP] com o secretário de Estado do Ensino Superior e com as Comissões de Desenvolvimento das diferentes regiões", explica.
Uma medida que Joaquim Mourato vê com bons olhos: "é necessário existirem estímulos para contrariar o despovoamento. Nós não podemos impedir os jovens do interior de quererem ir para o litoral. Por isso temos que trabalhar o sentido inverso, criando estímulos para quem cá está possa ficar e para que quem quiser possa vir". O presidente do IPP reforça a ideia de que "no interior do país existe qualidade de ensino, capacidade instalada, uma excelente qualidade de vida e um ótimo ambiente académico. E isto é dito pela tutela, pelo que faz todo o sentido o aparecimento destes estímulos para que os jovens do litoral possam vir a descobrir esta oportunidade".
A operacionalização desta medida depende agora da articulação entre as instituições de ensino e as comissões de coordenação das diferentes regiões. "Vamos perceber se estamos mais interessados em construir rotundas ou em apostar na qualificação dos portugueses e no povoamento do interior do país", diz Joaquim Mourato, para quem "esta tem que ser uma aposta muito forte das comissões de coordenação".
Para Portalegre aquela medida terá "um impacto muito positivo. Nós temos uma excelente notoriedade com os nossos diplomados, os quais na sua maioria são de fora da região (grande Lisboa, Setúbal, Santarém e Leiria). Se nós conseguirmos ter estas condições e as divulgarmos bem, podemos ter resultados positivos na captação de novos estudantes".
O presidente do IPP considera que o "ensino superior pode funcionar como uma medida de combate às assimetrias regionais" e até para reorganização da própria rede de ensino superior. "Muitas vezes assistimos a instituições do litoral a reclamarem por mais recursos do Estado porque estão sobrelotadas e têm professores a menos do que aquilo que deveriam ter para esse número de alunos. O raciocínio que essas instituições fazem é: dêem-nos mais recursos, e não o inverso, não podemos ter tantos estudantes! Isto enquanto no interior há uma capacidade instalada para receber mais alunos. Eu poderia ter aqui no Politécnico mais mil estudantes, sem necessitar de mais um euro do Estado, nem de mais professores ou funcionários. Não se continua a entender esta lógica de eficiência e de racionalização do país, pois num lado do país assiste-se a um desaproveitamento dos recursos existentes, e no outro há uma sobrelotação. Eu costumo dizer que nós (Portugal) somos muito incompetentes. Há 500 anos conseguimos conquistar o mundo e estar em todo lado. E nos dias de hoje não conseguimos dar conta deste pequeno retângulo, que está despovoado na maioria do seu território".
Joaquim Mourato acrescenta: "de uma vez por todas, o ensino superior, em parceria com o desenvolvimento regional, pode ser um instrumento estratégico para combater o desequilíbrio acentuado do nosso território".
O presidente do IPP olha para o futuro com a lição bem estudada e no que respeita à reorganização da rede de ensino superior, esclarece que não é favorável a fusões. "Não é possível trabalharmos de forma isolada, devemos trabalhar em rede, e devemos ter parceiros. O caminho passa por parcerias estratégicas, as quais devem ser consolidadas, mantendo o IPP a sua personalidade jurídica. A fusão está fora de questão. Essa não é a solução. A nossa realidade não é a mesma que Lisboa. Estamos a falar de instituições distantes por mais de 100 quilómetros".
Joaquim Mourato adianta: "o que nos parece mais correto é estabelecer parcerias, como o fizemos recentemente com a Universidade de Évora e o Politécnico de Beja, o qual envolve a partilha de recursos. Quando planeamos os anos letivos, antes de contratar novos docentes vamos à nossa rede. O mesmo acontece com recursos laboratoriais. Ao nível da investigação, faz também todo o sentido trabalhar em rede e pertencer ao mesmo centro de investigação. E isto são parcerias estratégicas, não só com aquelas instituições, mas também com outras como Castelo Branco!".
O presidente do IPP diz que "aquela ideia de partida - que todos nós sentimos - que era de haver uma racionalização do ensino superior à custa do interior do país, já foi afastada. É uma ideia que o próprio governo já percebeu, o qual já referiu que as instituições que existem são para continuar e não estão em causa. O problema que existe é o da sua sustentabilidade, e é nisso que estamos a trabalhar".
Uma tarefa que passa também pela oferta formativa e pela aposta em áreas estratégicas. Joaquim Mourato refere que no próximo ano o IPP apresentará um novo mestrado, relacionado com um setor da região: rochas ornamentais. "É uma área relacionada com os nossos recursos endógenos e a proposta resulta de um pedido do próprio setor. Esperamos poder abri-la já no próximo ano". O presidente do Politécnico recorda que a aposta em áreas ligadas à região é estratégica. "No ano passado apostámos nos biocombustíveis, e este ano será o das rochas ornamentais", explica.
A este propósito Joaquim Mourato recorda ainda a "construção de uma central de biocombustíveis, num projeto de dois milhões de euros. Ficaremos com equipamentos e estruturas únicas no país, e com parceiros como a Galp Energia vamos afirmar este setor, captar mais alunos não só ao nível formativo, como também na investigação e desenvolvimento".



 
 
 
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