Entrevista

Fernanda Serrano
«O público português é o melhor do mundo»

_MG_4996[2].jpgÉ uma das atrizes mais cotadas do panorama artístico nacional e regressa aos palcos com a peça «40 e então». Fernanda Serrano na primeira pessoa.

Está de volta aos palcos com a peça «40 e então», na companhia da Ana Brito e Cunha e Maria Henrique, desta feita no Casino de Lisboa, até 8 de março. Para quem ainda não viu, de que fala este espectáculo com textos, entre outros, de Ana Bola e Helena Sacadura Cabral?

São várias autoras, todas elas muitíssimo diferenciadas entre si, abordando um tema tão comum e transversal como é a idade, sob perspetivas totalmente diferentes, tornando este espectáculo despretensioso, sério, elegante e muito feminino, com pitadas de humor, sarcasmo e emotividade, todas ao rubro.

Esta peça está em cena dez anos depois do sucesso de «Confissões das mulheres de 30», protagonizado pelas mesmas atrizes. Visto que alguns textos das peças também são vossos, de alguma forma estes espectáculos funcionam como uma espécie de auto biografia de quem as representa?

Sim, claro que para além da nossa interpretação, colocamos nesses textos, algo que tem a ver com a nossa perspetiva sobre esta década, dentro das tão diferentes vivências de cada uma de nós.

A reedição desta peça em Lisboa surge depois de uma digressão que fez pelo país, o que revela o sucesso alcançado. Sente que os portugueses estão cada vez mais recetivos à cultura?

Sinto. Aliás, sentimos. Em cada cidade que passamos, sentimos um público sempre ávido de receber espectáculos, intervenção e diversão. O público português é e sempre será o melhor público do Mundo.

Como atriz tem no seu currículo participações no teatro, no cinema e em telenovelas. Sente-se mais à vontade no palco ou perante as câmaras de televisão?

Em todas estas áreas. Todas têm registos absolutamente diferentes entre si e são desafios diferentes para um ator/atriz. Gosto muito de fazer cinema, adoro a adrenalina do teatro e da resposta imediata do público e estou como peixe na água no registo da televisão, para a qual estou formatadíssima para a rapidez e efemeridade. São áreas todas elas confortáveis para mim, mas feitas alternadamente. Ao mesmo tempo, torna-se um desgaste brutal e quanto a mim desnecessário, pois o usufruto nunca será o mesmo, pela parte do ator.

A ficção portuguesa deu um salto extraordinário em especial com a aposta na TVI, gerando grandes audiências e dando emprego a muitos atores, jovens e menos jovens. A crise tem prejudicado essa aposta?

A crise tem prejudicado esta aposta, o país e o Mundo, sobretudo a Europa. São ciclos. Que têm um princípio e um fim. O durante é a parte dura. Eu no entanto, fui-me readaptando como qualquer português, na minha vida e na minha profissão. Temos de ser constantemente bons críticos, atores, gestores e estrategas. E ter uma capacidade de auto-crítica e alguma dose de coragem interventiva inerente em cada desafio, cada passo, cada trabalho.

A indústria de novelas portuguesas pode equiparar-se, não em dimensão, mas em qualidade, à fábrica de novelas que há décadas existe na TV Globo brasileira?

Embora nos faltem, ainda, muitos dos elementos já existentes naquela indústria colossal que é a máquina da Globo, creio que temos tido um percurso mais rápido que eles. Mas em termos de produção, decors, figurino e argumento, ainda nos falta calcorrear algum caminho. Eles têm 30 anos de avanço, mas nós encurtámos cerca de metade deste tempo. Gostaria que resgatássemos o romance, a nossa história e cultura de forma mais vincada. Temos tanto ainda para fazer. Tenho tantas ideias por concretizar, falta-me tempo para tal.

A maternidade dos seus três filhos, o Pedro, a Laura e a Maria, fê-la interromper por algum tempo a sua atividade profissional. Como consegue conciliar a assistência familiar com a exigente vida profissional, com muitas horas de filmagens?

Tendo desde sempre presente que a minha família está e estará sempre em primeiro lugar. Para poder ser uma atriz feliz, tenho antes de ser uma mãe feliz. E conciliando os horários rigorosos e tão extensos de trabalho, com uma excelente organização e ajudas familiares. Sem isto seria impraticável trabalhar ao ritmo imposto e que eu gosto.

CAMILA_Fernanda Serrano[2].jpgAo nível educativo, que valores procura incutir-lhes no dia a dia?

Que têm de ser indivíduos trabalhadores, conscientes das suas tarefas, da partilha, do respeito, da harmonia familiar, sem nunca esquecerem que têm e devem divertir-se em todas as facetas do seu dia-a-dia. Que façam o que estiver ao alcance de cada um deles, que torne a vida de cada um e a nossa mais feliz. Faço sempre sentir a minha presença em quase todos os momentos e que estarei sempre cá para tudo o que precisarem. Quero sempre sentir que sou uma mãe muito presente e atenta. Foi o que sempre tive na minha infância, adolescência e continuo a ter. É fundamental para o nosso equilíbrio.

Se algum deles seguir a carreira da mãe vai ter os seus conselhos e estímulo?

Claro que sim. Quero sobretudo que façam o que gostam, como eu tive essa oportunidade. É maravilhoso poder trabalhar no que nos faz feliz.

A sua luta contra um cancro de mama emocionou a sociedade portuguesa. No seguimento dos tratamentos a que se submeteu, soube-se que tinha uma gravidez de elevado risco. No livro «Também há finais felizes» revela ter sido vítima de negligência médica. Quis com o seu testemunho, devido à sua exposição mediática, dizer que é possível vencer as adversidades?

Quis antes de qualquer outra coisa, alertar a sociedade, para os possíveis (que os há infelizmente), erros médicos, negligências, graves, que nos podem custar a vida. E que se tivermos dúvidas, devemos fazer de tudo, para as substituir por certezas. Estas sim, são para resolver. As anteriores, não nos levam a lado nenhum. Penso que temos de ter discernimento, confiança, coragem, aliados a uma boa dose de sorte. E isto, para tudo na vida. Com tudo isto, é possível vencer as adversidades. Algumas.

Nuno Dias da Silva
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