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O realizador (não só) de épicos bíblicos

heston_moses_ten_commandments.jpgA recente exibição, com assinalável êxito de "Exodus: Deuses e Reis", de Ridley Scott, um épico sobre a epopeia da libertação dos escravos hebreus e a monumental caminhada para longe do Egipto comandados por Moisés, uma história bíblica que se baseia na descrição do "Livro do Êxodo" do Antigo Testamento, traz-nos logo à memória as adaptações da narrativa do Êxodo levadas a cabo em 1923 e 1956, por Cecil B. DeMille, um nome incontornável do cinema americano e que associamos a um grande homem do espectáculo.

Cecil B. DeMille, nascido a 12 de Agosto de 1881, no Estado do Massachusetts, filho de dois autores dramáticos, Henry C. DeMille e Beatrice DeMille, ficou para sempre ligado aos grandiosos épicos bíblicos que realizou. Contudo os seus filmes cobriram uma área maior dos anos dourados do cinema americano. Depois de alguns westerns, incluído "O Exilado", de 1915, um dos primeiros grandes filmes produzidos em Hollywood, na sequência da união de Lasky com Adolph Zukor, dando origem à Paramount, DeMille realizará todas as suas películas para esta companhia, com excepção dos compreendidos entre 1925 e 1932, período em que o realizador se deixou tentar pela produção independente.

Com a soprano da Metropolitan Opera de Nova Iorque, Geraldine Farrar, como protagonista faz "Carmen", em 1915, e um ano depois, a mesma será "Joan, The Woman". Em 1918 dirige uma série de pouco convincentes luxuosas comédias domésticas, donde se destacam "Old Wives for New" (1918), "Don't Change Your Husband" (1919), "Something to Think About" (1920) ou "The Affairs of Anatol (1921), a maioria com Gloria Swanson. A estes seguiu-se a primeira versão de "Os dez mandamentos", em 1923, onde aborda a saída dos hebreus do Egipto e confronta a história bíblica com a moderna. A segunda, de 1956, a sua última realização, que serviu de trampolim a Charlton Heston e Yul Brynner para o estrelato, e, apesar do seu conhecido conservadorismo, DeMille não se coibiu de explorar o sexo e a luxúria, a par da religião ou do ódio, bem patente na relação de Moisés com Ramsés, irmãos à força quando o primeiro escapou à matança dos inocentes e passou a favorito do Faraó, até decidir que deveria conduzir o seu povo à libertação. Mas, sexo e a religião já andam a par em "King of Kings" (1927), "O sinal da Cruz" (1932), que contou com a extraordinária actuação de Charles Laugthon, como Nero, ou "As Cruzadas" (1935), para não falar do banho em leite de burra em "Cleópatra" (1934), com Claudette Colbert, que realçou a sua obsessão por cenas em banheiras, foram outras incursões deste multifacetado director pela História ou pela Bíblia, num estilo que ficou marcado pela grandiosidade e eloquência no tratamento visual. No seu único musical, "Madam Satan" (1930), havia uma bizarra sequência numa festa num Zepplin.

Mas não podemos reduzir DeMille à exploração religiosa. Filmes como "Uma Aventura de Buffalo Bill" (1935), com Gary Cooper, como vedeta do filme e Jean Arthur a viver outra figura mitológica do Oeste, Calamity Jane, ficando James Ellison, actor pouco conhecido a interpretrar Buffalo Bill, ou "Aliança de Aço" (1939), onde evoca a construção do primeiro caminho de ferro transcontinental, no tempo da guerra da secessão, onde estavam Joel Mchrea e Barbara Stanwick vivendo uma aventura sentimental, ficando o papel do vilão para Brian Doulevy, obra que tinha como quase todos os seus filmes, respiração épica, passando por "Os sete cavaleiros da vitória" (1940) e "Inconquistáveis" (1947), mais dois filmes com Gary Cooper, neste último aparece o célebre "Rei do Terror", Boris Karloff, são celebrações dos pioneiros da América, um género que tratou desde o início da sua carreira, no qual terá conseguido as suas melhores realizações, talvez porque DeMille via-se também como pioneiro que marcaria muitos dos seus filmes de forma eloquente. Neste período ainda regressou à Bíblia com "Sansão e Dalila", de 1949, com Victor Mature, Hedy Lamarr e George Sanders.

Outra das suas paixões, o circo, foi magistralmente mostrado em "O maior espectáculo do mundo" (1952), com Charlton Heston e James Stewart, entre outros grandes estrelas, uma das imagens de marca dos seus filmes, a par da exuberância visual e cenográfica.

Antes da sua morte, a 1 de Janeiro de 1959, ainda produziu o "remake" de um êxito seu de 1938, "O corsário Lafitte", com realização de Anthony Quinn, contando com Yul Brynner e Claire Bloom nos protagonistas, mas onde aparecem Charlton Heston e Charles Boyer.

Não é por acaso que Cecil B. DeMille é considerado, de pleno direito, um dos fundadores do que se convencionou chamar Hollywood.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa com Joaquim Cabeças
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico
 
 
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