Universidade

Problema afeta 30% dos portugueses
Ex-UBI revoluciona na cirurgia

David Angelo.JPGDavid Ângelo, antigo aluno de Medicina da UBI, está a desenvolver um projeto de investigação que tem como objetivo criar condições para resolver um problema que afeta 30% dos portugueses, a disfunção da articulação temporomandibular, ou seja, a dificuldade em abrir a boca adequadamente. Após a investigação com ovelhas, o investigador e médico, Estomatologista no Centro Hospitalar de Setúbal, pretende começar a aplicar esta técnica em humanos em 2018.

O interesse pela área começou em 2012, quando se apercebeu da existência de muitos casos graves, que ficavam sem resolução por falta de uma solução duradoura. "Foi aí que coloquei a seguinte hipótese: se conseguíssemos recuperar o disco da articulação temporomandibular talvez conseguíssemos solucionar grande parte dos problemas desses doentes com patologia severa", refere.

O primeiro paciente tinha 15 anos e apenas conseguia abrir a boca cerca de dois milímetros. "Após a cirurgia ele ficou bem durante quatro ou cinco meses e a primeira coisa que ele disse foi: 'doutor, já consigo ir ao McDonalds comer um hambúrguer', porque ele nunca tinha conseguido sequer trincar um hambúrguer. Mas passado esse tempo voltou à estaca zero e foi aí que fiquei mesmo com a consciência que era necessário fazer algo de novo nesta área".

Esta foi a base para este projeto de investigação TEMPOJIMS. Com a ajuda de veterinários e de outros colegas, chegou à conclusão de que a ovelha seria o animal indicado, por ter a mandíbula mais semelhante à do humano, quer ao nível da anatomia, quer da biomecânica. "Isto foi um grande passo porque, até à época, era usado o porco em quase todas as investigações, ou seja, eu aqui mudei o conceito que existia relacionado aos estudos pré-clínicos".

A equipa de David Ângelo começou, então, por retirar os dois discos da articulação temporomandibular, para perceber a reação do animal, tendo verificado um processo degenerativo severo. Foram então desenvolvidos biomateriais com as mesmas características dos discos e que os pudessem substituir. Depois de operadas nove ovelhas no final do passado mês de janeiro, a equipa aguarda agora que os animais reajam positivamente. "O que nós esperamos é que daqui a seis meses, quando abrirmos a articulação, já não haja material nenhum. Vai haver então um disco que, esperamos, seja com o mesmo tipo de células do disco nativo", sustenta o clínico. O passo seguinte é operar doentes humanos que sofram deste e de outros problemas como ao nível do joelho ou da coluna".

Rafael Mangana
 
 
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