O abandono na escola e a osmose
A taxa do abandono escolar diminuiu em
1,4 pontos percentuais no último ano, fixando-se nos 12,6%. Segundo
o Ministério da Educação, este é o valor mais baixo desde 1992.
Esta taxa é um indicador "apurado por amostragem, no âmbito do
Inquérito ao Emprego (em articulação com o Eurostat), através de
entrevistas telefónicas a jovens entre os 18 e 24 anos, que não
tendo concluído o ensino secundário, se encontravam nas quatro
semanas anteriores à realização do inquérito sem frequentar
qualquer ação formal ou informal de educação e formação", como
explica a tutela.
Ainda assim, há um número considerável de jovens que não concluem
a sua escolaridade, o que nos obriga a refletir, mas acima de tudo
a criar condições para que essa taxa se aproxime de um número
residual, garantindo assim que o país seja mais qualificado e
competitivo. Mas criar condições não pode, em qualquer
circunstância, ser sinónimo de facilitismo.
A escola não pode ser um espaço de defesa dos medíocres, não deve
ser padronizada na mediania, deve isso sim ser uma escola
inclusiva, em que se lute por todos os alunos, pelos que têm mais
dificuldade, pelos excelentes, pelos bons e pelos que têm notas qb.
Neste percurso ninguém se deve sentir injustiçado, quer na
aprendizagem, quer nos resultados apresentados em pauta e aprovados
nos conselhos de turma.
Todos os alunos são poucos para tornar o país mais qualificado e
competitivo. Ninguém deve ficar de fora. O Ministério anunciou, em
nota enviada ao Ensino Magazine, um conjunto de medidas que
pretendem combater o abandono precoce da escola. Essas medidas
passam por seis vetores, a saber:
- A criação de tutorias para alunos em risco de abandono e com
historial de insucesso;
-A implementação e desenvolvimento do Programa Nacional de
Promoção de Sucesso Escolar, apostado na intervenção precoce e não
remediativa;
- A construção de planos municipais e intermunicipais de promoção
do sucesso escolar, convidando à convergência entre estratégias
autárquicas e das escolas;
- O alargamento da autonomia das escolas, conferindo-lhes maior
flexibilidade na gestão e desenvolvimento curricular, enquanto
instrumento potenciador de inclusão;
- O reforço e valorização do Ensino Profissional, sublinhando a
importância desta via de ensino em termos de perceção pública,
mediante a disponibilização de indicadores, a expansão da rede e
uma maior adequação das ofertas formativas às necessidades dos
contextos e territórios;
- A dinamização e o reforço do Sistema de Aprendizagem, no quadro
de uma aposta na formação de dupla certificação para jovens, com
uma forte articulação com o mercado de trabalho.
São medidas que reconhecemos como importantes. Mas mais importante
do que o seu anúncio é a sua implementação. É fundamental criar
condições e garantir recursos humanos (mais docentes, mais técnicos
superiores como psicólogos, etc.) adequados dentro das escolas para
sua concretização. Há uns anos atrás criticavam-se, no ensino
superior, os turbo professores que davam aulas em tudo quanto era
sítio. Agora a própria escola exige que os seus docentes sejam
turbo professores.
A educação é uma matéria séria. Envolver as autarquias é um
caminho que, podendo ser benéfico pela sua proximidade e pela
capacidade de que muitas têm em solucionar problemas, também é
perigoso se não houver critérios e se a escola for vista como
apenas mais uma área municipal dirigida por osmose.
A autonomia das escolas é outra medida importante, que pode
resultar em melhores resultados. Mas se essa autonomia ficar
limitada pela falta de recursos (aqui também financeiros) e por
questões burocráticas, de pouco servirá. Depois há uma questão que
a escola pública portuguesa está a sentir e que, caso nada seja
feito, se irá agudizar: o envelhecimento do corpo docente. São
poucos os novos professores que entram no sistema. E muitos do que
lá estão, parecem considerar-se desrespeitados na sua profissão
pelo próprio Estado e pela comunidade. O rejuvenescimento do corpo
docente, em vez de ser feito de uma forma natural, ocorrerá de um
modo mais abrupto. Não haverá transferência de saberes entre os
mais experientes e aqueles que estão a começar. Mas isso são outras
contas, que podem ou não contribuir para a redução da taxa de
abandono escolar, mas que efetivamente mexem muito com as dinâmicas
da escola. Importa agora que todos contribuamos para que o abandono
escolar diminua, sem injustiças, nem facilitismos…