Curta de Carlos Matos e Paulo Vinhas Moreira selecionada
Último moleiro vai ao Brasil
O filme "O último moleiro do Rio
Ocreza", uma curta metragem documental da autoria de Carlos Matos e
Paulo Vinhas Moreira, professores em Castelo Branco, numa produção
da M42, foi selecionada para representar Portugal no Fórum Mundial
da Água que decorre na capital do Brasil (Brasília) de 18 a 24 de
março.
O filme, de cinco minutos, conta a
história de «Ti» Diogo que em 2008 era o único moleiro vivo e no
ativo no concelho de Castelo Branco e será projetado no Pavilhão de
Portugal. Esta curta foi realizada no âmbito do projeto "Portugal
Rumo a Brasília 2018" e do Festival CineEco, promovido pelo
Município de Seia.
A curta metragem recupera as
entrevistas feitas em 2008 por Carlos Matos, no âmbito de uma
formação na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo
Branco.
O «Ti» Diogo era na época o último
dos moleiros do Rio Ocreza, onde nos bons velhos tempos chegaram a
existir 200.
As 25 horas de gravação e de
imagens recolhidas na altura, deram lugar a um documentário de
cerca de 20 minutos, onde é contada toda a história de um espaço
mítico, onde num percurso de mil metros havia cinco ou seis
moinhos. Esse foi o ponto de partida para a realização da curta
metragem, com apenas cinco minutos.
"Quando surgiu a possibilidade de
participar neste desafio, a nossa ideia foi compactar esse trabalho
em cinco minutos.
Sabendo que o tema era a água,
tentámos ligar a sua ausência com a ausência (atual) do moleiro.
Tivemos o cuidado de ir novamente aos locais, revisitá-los e
recolher novas imagens.
Deste modo conseguimos ter planos
em que aparece o «Ti» Diogo e outros, idênticos, já sem ele. O
resultado destes cinco minutos de documentário é a passagem do
tempo na ausência das pessoas", explica Paulo Vinhas Moreira.
A água é um elemento sempre
presente, como som de fundo, ou através de imagens.
As gravações foram efetuadas dentro
do moinho e junto ao rio, com muitas horas e muitos dias de
entrevistas com aquele, que aos 88 anos era o único moleiro do Rio
Ocreza. Era no seu moinho, situado junto à ponte sobre o Ocreza
(estrada que liga Castelo Branco ao Salgueiro do Campo), que vivia
por opção própria e de uma forma muito simples.
"Rapidamente o documentário passou
a ser sobre alguém que sabia que era o último na sua arte", explica
Carlos Matos, para recordar que o "Ti Diogo vivia num dilema. Por
um lado não queria sair dali, pois tinha consciência de que não se
adaptava à vida urbana. Por outro, tinha receio de que tudo aquilo
desaparecesse. Facto que não aconteceu, pois o seu filho preservou
o espaço".
A seleção da curta metragem para o
Fórum Mundial da Água é para Carlos Matos e Paulo Vinhas Moreira
motivo de satisfação.
"Esta é também uma forma de
promovermos a nossa região. Apesar do território não ter gente, os
locais onde estão os moinhos são de uma beleza extraordinária",
referem.
Mas para Paulo Vinhas Moreira e
para Carlos Matos "o maior prémio é podermos levar o «Ti» Diogo,
que se fosse vivo tinha 98 anos, a esse evento e ao pavilhão de
Portugal".