Primeira coluna
Ano após ano o ranking das escolas abre
telejornais, faz manchetes de jornais, desinformando a opinião
pública sobre uma área sensível da nossa sociedade, a educação, e o
espaço onde todos os dias úteis da semana deixamos os nossos filhos
para aprender. De uma forma simples, elaboram-se tabelas, tendo em
conta resultados nos exames e as notas dos alunos, esquecendo-se
tudo o resto.
Mas afinal qual é a melhor escola? É esta a pergunta que surge
anualmente quando são divulgados os resultados dos exames nacionais
e, por conseguinte, são elaborados os rankings amplamente
reproduzidos na comunicação social.
Será a melhor escola aquela que, num contexto escolar, social e
económico adverso, localizada numa região deprimida ou num bairro
problemático de uma qualquer cidade, consegue obter resultados
escolares e sociais positivos, recuperando muitas vezes situações
que pareciam impossíveis de ter solução? Ou será a escola inserida
num cenário sócio económico positivo, em que os pais dos alunos até
têm possibilidade de pagar explicações aos seus filhos?
Os rankings das escolas, já o referi e volto a fazê-lo,
apresentados da forma como o são, constituem um instrumento
enganador para a opinião pública, influenciando-a na escolha do
futuro dos jovens, denegrindo muitas vezes trabalho sério e eficaz,
vangloriando resultados que por vezes não se sabe se resultam
apenas do que é feito nas escolas, ou se vai para além disso,
através de reforço externo aos alunos (vulgo explicações).
Os rankings (e é bom que as escolas conheçam a sua realidade) devem
constituir, isso sim, um instrumento de trabalho para as próprias
escolas, agrupamentos e, porque não dizê-lo, para os mega
agrupamentos, que cada vez mais são um conjunto de mega problemas,
que não conseguem dar resposta às exigências das instituições de
ensino. Devem ser um instrumento de reflexão e de análise que deve
ser visto à realidade de cada estabelecimento de ensino, do meio em
que está inserido e da comunidade que serve.
Acontece que, ano após ano, a questão é tratada com a ligeireza de
quem faz a soma de 1+1. É fácil ir aos resultados dos exames e
escalonar as escolas cujos alunos obtêm melhores resultados nos
exames. É uma análise simplista que esquece tudo aquilo que a
escola representa, o espaço em que ela está inserida, a sua
comunidade, os projetos educativos etc. Como se fosse justo,
comparar os resultados de uma escola com uma comunidade educativa
sem problemas de maior, com uma outra que no seu seio até tem
alunos oriundos de meios problemáticos, tendo por isso mais
dificuldade em ter tanto sucesso nos exames como outros alunos. Uma
escola que, ainda assim, conseguiu criar condições para que esses
alunos tivessem aproveitamento escolar.
A conversa continua a ser a mesma. Todos os anos, mais ou menos por
esta altura, os telejornais abrem o noticiário dizendo que a melhor
escola é… O pior de tudo isto é que a informação acaba por
condicionar o pensamento de um povo já de si gasto com a
desinformação política a que tem sido sujeito. A escola, os
professores, os alunos, a comunidade educativa e todos nós
merecíamos mais. Partilho a ideia de João Ruivo: a escola continua
a ser a única instituição onde diariamente confiamos os nossos
filhos. Mas afinal qual será a melhor escola?