Editorial
Mais vale uma escola na mão que duas a pavonear
Temos vindo, repetidamente, a zurzir
contra a elaboração dos rankings das escolas portuguesas. Não
porque discordemos de procedimentos fiáveis de avaliação interna e
externa das instituições escolares, mas porque esses supostos
rankings se têm vindo a basear apenas em variáveis de (alguns…)
resultados escolares dos estudantes, escondendo a pluridimensão dos
actos educativos que se operam dentro das paredes da escola.
Por isso, e pela última vez, porque nos sentimos esgotados perante
a desinformação massiva que nos chega, ano após ano, através da
generalidade dos órgãos de comunicação social, transcrevemos um
texto, aqui publicado no Ensino Magazine, no ido ano de 2009. A
ver:
"Há escolas boas e escolas más? Lá haver, há! Como há bons e maus
governos, ministérios, hospitais, tribunais, oficinas, e sei lá
mais o quê…
Porém a questão não é essa.
O problema está no critério da medida. Ou seja, no rigor dos
indicadores objectivos que me levam a classificar os
comportamentos, as atitudes e os desempenhos. Sem um critério
universalmente válido e, por isso mesmo aceite, o resultado da
medida não passa de uma apreciação subjectiva e, como tal, sujeita
à divergência.
Vem isto a propósito de mais uma publicação de um suposto ranking
das escolas portuguesas que, apressada e incorrectamente, uma boa
parte da comunicação social tem vindo a designar por "lista das
melhores e das piores escolas".
Concretamente o que se mediu nestas escolas? Respondemos:
mediram-se resultados de aproveitamento escolar (académico) e,
nunca, resultados de aproveitamento educativo. E mediram-se todos
os resultados escolares? Não! Mediram-se os resultados obtidos
nalgumas provas que os alunos do ensino secundário efectuaram nos
exames nacionais.
O que quer isto dizer?
Vejamos um exemplo. A escola A tem alunos de
classe média alta. São jovens com todas as condições de estudo, com
excelente apoio e ambiente familiar. Os professores sentem que
esses alunos aprendem a bom ritmo, e que com muita facilidade
correspondem aos objectivos que lhes são solicitados. É uma das
escolas que, habitualmente, obtém um bom posto no ranking
nacional.
A escola B está situada num bairro muito
problemático. As famílias são disfuncionais, há desemprego, muita
miséria e o recurso a negócios menos claros. Os alunos não têm
qualquer acompanhamento familiar, são nulas as condições de
trabalho em casa, alguns têm mesmo carência de alimentos e de
vestuário. Mesmo assim, os professores empenharam-se na motivação
desses alunos para a frequência da escola, através de múltiplas
actividades educativas de carácter interdisciplinar e, muitas
delas, desenvolvidas extra curricularmente. Essa escola obteve um
resultado educativo notável. Reduziu, significativamente, o
abandono escolar, o absentismo às aulas, o insucesso académico e
realizaram-se mesmo programas de apoio comunitário. Quanto aos
resultados escolares nos exames nacionais… Bem, houve grandes
progressos, mas não os suficientes para impedirem que a
escola B ficasse no fim da lista do ranking
nacional.
A escola A é boa e a escola B é
má?
A diferença é que a escola A desenvolveu um
esforço no sentido das aprendizagens do currículo formal e, aí,
obteve resultados académicos muito satisfatórios. Já quanto há
escola B, esta centrou as suas energias no alcance
de objectivos educativos por parte dos seus alunos, apostou na
transmissão de valores e na educação para a cidadania e, aí, obteve
resultados considerados excelentes. Em que ficamos?
Quando olhamos para o ranking das escolas e, sobretudo, quando
comparamos os resultados académicos dos alunos das escolas
públicas, com os resultados académicos dos alunos das escolas
privadas, temos que ter em atenção quais foram os indicadores de
medida. Um indicador de medida vale o que vale. O metro padrão não
pode medir um litro de leite, assim como se pode morrer afogado num
rio que, em média, tenha apenas quarenta centímetros de
profundidade…
Perverte-se a avaliação das escolas no momento em que se
privilegiam apenas indicadores de medida e de progressão inerentes
aos actos de aprendizagem do currículo formal. O que tem estado em
causa para se alcançar uma valoração das escolas, tem sido o
recurso à divulgação de rankings cuja elaboração se baseia apenas
nos resultados académicos dos alunos. Para estes rankings pouco
importam os resultados educativos globais da instituição
escolar.
Há e sempre houve boas e más escolas. Há e sempre houve bons e
maus exemplos de práticas educativas. Mas temos que saber
relativizar os resultados em função dos indicadores de
medida.
Termos em todas as nossas instituições escolares excelentes
profissionais da educação que gostariam de ver reconhecido o seu
esforço. Os professores estão habituados a fazer muito e bem. Mas
não podem fazer tudo. Melhor diríamos: face às condições de
trabalho em muitas das escolas portuguesas, é injusto e
desmotivador que se lhes peça que façam mais."