IPCB
Primeiras vacas japonesas nasceram na Escola Agrária
A Escola Superior Agrária de Castelo Branco (ESA) e
o empresário albicastrense Hugo Patrício entraram para a história
da produção animal no nosso país, ao tornarem possível, este mês, o
nascimento dos primeiros três exemplares em Portugal da raça bovina
japonesa Red Wagyu (uma das quatro raças japonesas de gado de carne
de origem Wagyu, onde se inclui a mais conhecida Kobe). Numa união
de esforços a ciência deu as mãos à economia e desta forma foram
dados passos importantes para que futuramente se possa aumentar o
efetivo daquela raça, considerada património no Japão. O anúncio do
nascimento dos três vitelos foi feito ao nosso jornal pelo
Instituto Politécnico de Castelo Branco, através de uma nota
escrita. O sucesso desta iniciativa teve início com a compra, por
parte da empresa Wagyuworld, criada em 2017 em Castelo Branco, e
com exploração no Alentejo, de 12 embriões congelados. "Mobilizada
a equipa de reprodução animal, constituída pelos docentes da Escola
Superior Agrária, Manuel Vicente de Freitas Martins e João Pedro
Várzea Rodrigues, pelos engenheiros Joaquim Carvalho e Sandra Dias,
e os operacionais Manuel Fernandes e José Martins, a implantação
dos primeiros oito embriões contou com a colaboração de Moreira da
Silva, professor da Universidade dos Açores, e de Gerry Estrela,
técnico da Unicol, na Ilha Terceira", revela o IPCB. 40 dias
depois, uma ecografia "às vacas recetoras confirmou quatro
gestações das oito transferências embrionárias realizadas, tendo os
primeiros três vitelos nascido no mês de fevereiro", explica o
Politécnico. Na mesma nota, é recordado que "meses antes, a
inseminação artificial permitiu gerar os primeiros seis exemplares
F1 Akaushi, atualmente com um ano, e fruto de cruzamentos com a
raça leiteira Holstein Frísia, valorizando-se em simultâneo o
efetivo da Quinta da Senhora de Mércules, cada vez mais interessada
em variedades aptas à produção de carne". Na mesma nota, o
Politécnico adianta que apenas duas das variantes desta família se
registam fora do Japão. "Da Black Wagyu, a mais comum, já existirão
em solo português três dezenas de efetivos. Quanto à Red Wagyu, e
não sendo possível importar animais vivos nem tão pouco
aconselhável por motivos sanitários, a solução passou por recorrer
a vacas importadas há alguns anos para os Estados Unidos da
América". Os especialistas envolvidos neste processo não têm
dúvidas de que a "implantação de embriões de Red Wagyu irá
facilitar a propagação de gado puro, assegurando-se o aumento do
efetivo e uma descendência com fraca consanguinidade. Tudo para que
futuros produtores possam apostar numa raça com elevada
fertilidade, resistência a doenças e adaptabilidade climática".
Para a Escola Superior Agrária esta experiência bem sucedida vem
reforçar a própria instituição, numa lógica de "transferência de
conhecimento e do reforço da vertente prática no ensino ligado à
reprodução assistida". A escola albicastrense utilizou neste
processo tecnologia inovadora. Exemplo disso, "é o dispositivo
eletrónico que alerta os técnicos, via telemóvel, da aproximação do
parto, tendo em conta o movimento crescente da cauda do animal,
associado às contrações". Deste modo, acrescenta, "reduz-se os
riscos no maneio destes ruminantes de alto valor genético". A
Escola Superior Agrária de Castelo Branco tem uma grande tradição
associada à produção animal. O nascimento dos três vitelos, os
primeiros em solo português daquela raça japonesa, é um bom exemplo
do trabalho ali desenvolvido. Um trabalho que se faz també em
parceria, como aconteceu neste caso, e como sucede noutros. Com a
empresa de Idanha-a-Nova Nature Fields, a ESA vai fazer parte da
Associação Portuguesa de Criadores de Bovinos Wagyu. O Politécnico
explica que essa associação pretende "desenvolver estas raças cujas
carcaças proporcionam maior rentabilidade, mas também obter carnes
de melhor qualidade e com alto valor comercial, ainda que o
respetivo maneio implique custos acrescidos". Estima-se que seja
"necessário um a dois anos para que a comercialização de Red Wagyu
exclusivamente nacional se torne uma realidade. Entretanto será
preciso estudar o mercado e testar um painel de consumidores de
modo a comprovar a opinião destes sobre a carne com origem nas
linhas pura e cruzada", diz a mesma nota. A qualidade da carne
desta "raça distingue-se pelo aspeto marmoreado e pela quantidade
de gordura intramuscular, o que a torna não só mais tenra e
saborosa, mas também saudável devido à presença dos ácidos oleicos
Omega 3 e Omega 6", conclui o IPCB. K