Estudo de Coimbra comprova
Há deltas falsos em Marte
Um estudo liderado por
David Vaz, da Universidade de Coimbra (UC), e Gaetano Di Achille,
do Instituto Nacional de Astrofísica de Itália (INAF), apresenta
novos dados para o debate sobre as implicações climáticas,
hidrogeológicas e astrobiológicas dos depósitos sedimentares
deltaicos em Marte. Nas duas últimas décadas, dezenas
de possíveis depósitos sedimentares deltaicos foram identificados
na superfície de Marte, tendo a sua formação sido atribuída à
existência de antigos lagos e rios marcianos. Esse tipo de depósito
sedimentar é considerado uma das principais evidências para
sustentar a ideia de que, no passado, Marte apresentava condições
climáticas mais favoráveis que permitiram a presença de água
líquida no planeta. No entanto, o estudo agora publicado na
revista científica Earth and Planetary Science Letters conclui que
uma grande parte dos depósitos anteriormente identificados no
planeta vermelho não é de origem deltaica (os deltas formam-se pela
acumulação de sedimentos transportados pelos rios), ao contrário do
que a comunidade científica defendia. A partir de topografia
de alta resolução fornecida por imagens de missões espaciais
europeias e americanas, os investigadores analisaram 60 depósitos
sedimentares de diferentes zonas de Marte e, com surpresa,
verificaram que apenas "30 por cento são realmente deltas, ou seja,
depósitos associados a ambientes subaquáticos e que
consequentemente indicam de facto a existência de lagos e de uma
maior quantidade de água. A maioria deles terá uma origem
diferente, tendo-se depositado em ambientes principalmente
subaéreos, ou seja, existiram menos lagos do que se pensava em
Marte", afirma David Vaz. Segundo o investigador, as
conclusões deste trabalho são um contributo importante para futuras
missões espaciais, pois "são indicadores geomorfológicos
importantes para a escolha de locais ideais para missões com
objetivos astrobiológicos, sugerindo que muitos dos possíveis lagos
anteriormente identificados como tal deveriam ser cuidadosamente
reanalisados para excluir a ocorrência de mecanismos locais que
geraram atividade hidrogeológica efémera, não necessariamente
associada a um clima global favorável à presença estável de água
líquida durante longos períodos de tempo".