Crónica
Peixes, Pintos e Coelhos
Sem querer falar de outros
mais antigos, os governantes das últimas três fornadas de
salvadores da pátria deveriam ser julgados por um sistema judicial
que também ele (filho de maiorias maiorais) não padecesse da doença
dos seus progenitores. Digo daquele que quis ser cherne e não
passou de carapau de corrida; digo do outro que era pinto
(calimero), apesar de sousa e deste agora, coelho de aviário à
caçador…
Todos eles, entre muitas, muitas
aldrabices, prometeram baixar os impostos, um deles até falou em
choque fiscal que, em linguagem de contribuinte, teria o
significado de um abaixamento substancial dos impostos. Puro
engano: todos aumentaram as contribuições dos cidadãos para o
erário público, sem vergonha nem remorso.
E que argumento de peso utilizaram,
que desculpa usaram para português ouvir? Simplesmente desconheciam
o estado das finanças públicas e, ali chegados, não tiveram outro
remédio se não incumprir o prometido em campanha eleitoral.
Dito de outra maneira: o eleitorado
elege os ignorantes, que depois de eleitos ficam espertos, à custa
do eleitorado esperto, que se revelou ignorante no acto de
votar…
Deveriam ser julgados, já o disse.
Pela mentira oportunista e também pela aplicação dos euros cobrados
a mais em impostos e que deles não sabemos nem nos apresentaram
contas.
Parecem indignados uns com os outros
(e às vezes nem tanto) mas tudo não passa do folclore cúmplice de
uma igual orientação política e ideológica de gestão capitalista,
cujos objectivos não servem, como provado está, os anseios
legítimos da maioria do povo português.
Deveriam ser julgados pelos
tribunais, repito, mas como tarda esse julgamento, é tempo de o
serem por toda a população que diariamente se vê a braços com a
carestia de vida, com o desemprego e mais um vasto rol de
malfeitorias sociais que todos os dias são anunciadas.
Hoje, mais do que há um punhado de
anos, a mentira política funciona como marketing operacional de
quem governa; sem a mentira não atingem os objectivos a que se
propõem.
Passeiam-se por aí, dizem que as
medidas de austeridade são absolutamente necessárias e prometem-nos
um ano dos infernos. Desta feita para cumprir a sério porque o mal
é sempre para cumprir, salvo se, ao contrário do que eleitoralmente
se votou, agora tenha não só a expressão do desabafo ou da
indignação, mas da luta firme e colectiva contra a mentira
recorrente que nos esmaga, nos ofende, nos explora e, em última
análise, nos quer de Portugal para fora.