Opinião

Crónica
Peixes, Pintos e Coelhos

João de Sousa TeixeiraSem querer falar de outros mais antigos, os governantes das últimas três fornadas de salvadores da pátria deveriam ser julgados por um sistema judicial que também ele (filho de maiorias maiorais) não padecesse da doença dos seus progenitores. Digo daquele que quis ser cherne e não passou de carapau de corrida; digo do outro que era pinto (calimero), apesar de sousa e deste agora, coelho de aviário à caçador…

Todos eles, entre muitas, muitas aldrabices, prometeram baixar os impostos, um deles até falou em choque fiscal que, em linguagem de contribuinte, teria o significado de um abaixamento substancial dos impostos. Puro engano: todos aumentaram as contribuições dos cidadãos para o erário público, sem vergonha nem remorso.

E que argumento de peso utilizaram, que desculpa usaram para português ouvir? Simplesmente desconheciam o estado das finanças públicas e, ali chegados, não tiveram outro remédio se não incumprir o prometido em campanha eleitoral.

Dito de outra maneira: o eleitorado elege os ignorantes, que depois de eleitos ficam espertos, à custa do eleitorado esperto, que se revelou ignorante no acto de votar…

Deveriam ser julgados, já o disse. Pela mentira oportunista e também pela aplicação dos euros cobrados a mais em impostos e que deles não sabemos nem nos apresentaram contas.

Parecem indignados uns com os outros (e às vezes nem tanto) mas tudo não passa do folclore cúmplice de uma igual orientação política e ideológica de gestão capitalista, cujos objectivos não servem, como provado está, os anseios legítimos da maioria do povo português.

Deveriam ser julgados pelos tribunais, repito, mas como tarda esse julgamento, é tempo de o serem por toda a população que diariamente se vê a braços com a carestia de vida, com o desemprego e mais um vasto rol de malfeitorias sociais que todos os dias são anunciadas.

Hoje, mais do que há um punhado de anos, a mentira política funciona como marketing operacional de quem governa; sem a mentira não atingem os objectivos a que se propõem.

Passeiam-se por aí, dizem que as medidas de austeridade são absolutamente necessárias e prometem-nos um ano dos infernos. Desta feita para cumprir a sério porque o mal é sempre para cumprir, salvo se, ao contrário do que eleitoralmente se votou, agora tenha não só a expressão do desabafo ou da indignação, mas da luta firme e colectiva contra a mentira recorrente que nos esmaga, nos ofende, nos explora e, em última análise, nos quer de Portugal para fora.

 
 
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