Reportagem
Alunos gostam de Macau
Alunos portugueses e
macaenses de um curso de tradução ministrado em Leiria, Pequim e
Macau veem o antigo território português como mais tolerante face à
China continental e repleto de referências à administração
portuguesa cessada em 1999.
Iniciado há oito anos, em 2006, o
curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês e
Chinês/Português, ministrado em parceria pelos institutos
politécnicos de Leiria, centro de Portugal, e Macau proporciona aos
portugueses dois anos de aulas, um em Pequim, outro em Macau.
Flávia Coelho, 21 anos, aluna do
quarto ano, loira de olhos claros, esteve em Pequim há dois anos e
em Macau o ano passado: habituada a Leiria, "sitio muito calmo",
sede de um município com cerca de 130 mil habitantes, Flávia viu-se
na capital chinesa - uma das mais populosas do mundo, com cerca de
20 milhões de habitantes, duas vezes a população portuguesa - e não
resiste a lembrar o "choque cultural".
"Andar na rua ou apanhar o metro é
uma confusão. E na rua, ficavam muito espantados com os meus olhos
e cabelo", disse.
"Aconteceram algumas situações
engraçadas, houve uma senhora que me agarrou pelo braço, queria
tirar fotografia, e perguntou se o cabelo e os olhos eram
verdadeiros. E foi só uma de muitas", afirmou Flávia Coelho.
Já Macau, mais cosmopolita, possui
um povo e uma cultura, "com uma maneira de estar completamente
diferente, também pela influência portuguesa", assinalou.
Opinião idêntica tem Lenisa Semedo,
21 anos, também no último ano do curso do Politécnico de Leiria.
Natural de Cabo Verde, sentiu dificuldades em se adaptar à cultura,
à comida e, principalmente, às pessoas que lhe deitavam "olhares
curiosos" na rua, devido à cor de pele.
Assume que, ao início, se sentia
"chocada" e "um bocadinho ofendida" por lhe ser perguntado se já
tinha "nascido assim", pele negra e cabelo afro, mas depois
realizou que as perguntas se deviam à "curiosidade" natural dos
chineses.
"É normal estar na rua e ouvir um
macaense a falar português muito bem, vais ao supermercado e
encontras produtos portugueses, coisa que na China [continental]
não se via, esse era um dos principais problemas. Por exemplo, o
pão era o básico mas em Macau havia de tudo. E em Macau também há
africanos, muitos cabo-verdianos e angolanos, toda a cultura
lusófona", sustentou, referindo que ali a curiosidade pela sua
origem se desvanece.
O macaense Noel Francisco, filho de
um português e de uma tailandesa, estudava em Macau na escola
luso-chinesa, esteve há três anos em Portugal, na universidade de
Coimbra num curso de férias e voltou agora, para Leiria, "para
melhorar o português".
"Há muitas pessoas que também falam
português em Macau, agora menos do que antigamente. Antigamente,
era uma cidade muito calma, agora as ruas estão cheias de gente,
turistas estrangeiros e muitos chineses".
Apesar de aquando da cessação da
administração portuguesa, há 15 anos, só ter seis anos de idade,
Noel refere que a vida diária da região autónoma não mudou com a
passagem para administração chinesa, embora a "liberdade" em Macau
seja "melhor" do que na China continental.