Dentro de uma década
Manuel Heitor diz que propinas no superior podem acabar
O ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, Manuel Heitor, considerou durante a Convenção
Nacional do Ensino Superior 2030, que decorreu no ISCTE-IUL, em
Lisboa, no dia 7 de janeiro, que o fim das propinas no ensino
superior, no prazo de uma década, "deve ser um cenário
favorável".
Após estas declarações, o Presidente da República, Marcelo Rebelo
de Sousa, também no mesmo encontro, considerou que a ideia
defendida pelo ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, "da
extinção das propinas, a concretizar-se, a ser possível
concretizar-se, é um passo decisivo". Aos jornalistas afirmou que
"isso significa o dar um passo para terminar o que é um drama, que
é o número elevadíssimo de alunos que terminam o ensino secundário
e não têm dinheiro para o ensino superior, porque as famílias não
têm condições, portanto, têm de trabalhar, não podem permitir-se
aceder ao ensino superior".
Manuel Heitor, em declarações à imprensa, à margem daquele encontro
nacional, considerou que esse cenário, a acontecer só será possível
através de "um esforço coletivo de todos os portugueses". Na sua
perspetiva, na Europa existe um sistema muito diversificado. No
entanto, "a tendência normal é reduzir, no prazo de uma década, os
custos das famílias sem reforçar a carga fiscal, mas equilibrando
os rendimentos, para que sejam os beneficiários individualmente e
os empregadores a ter maiores contribuições no ensino superior",
esclareceu.
Já no debate, Pedro Teixeira, do Centro de Investigação de
Políticas do Ensino Superior, anotou a questão das propinas como
negativa para Portugal, em relação à Europa. "Temos propinas acima
da OCDE", disse.
O Ministro do Ensino Superior sublinhou ainda o facto de "hoje
termos a certeza de que aprender no ensino superior garante acesso
a melhores empregos". Manuel Heitor diz que é importante "alargar
essa possibilidade a mais jovens". Defendeu ainda "a ideia de uma
sociedade mais equitativa, com um ensino superior "menos elitista,
massificado e mais aberto a todos".
No mesmo encontro, o titular da pasta da Ciência e do Ensino
Superior no Governo, referiu-se ao esforço efetuado para aumentar o
número de bolsas da ação social. Manuel Heitor disse que esse
aumento foi de 24%, que passaram de 64 mil alunos apoiados em 2015
para os atuais 80 mil, destacando ainda as bolsas de mobilidade
para o interior do país, que triplicaram.
O Ministro aproveitou a Convenção para reforçar uma ideia que já
tinha também sido divulgada no Ensino Magazine, e que passa pela
necessidade de captar mais jovens para o ensino superior. Manuel
Heitor lembrou que Portugal tem "120 mil jovens com 18 anos e só
formamos metade deles. (…) Se hoje temos quatro em cada dez jovens
de 20 anos no ensino superior, temos de chegar a seis a cada dez
jovens com 20 anos participando no ensino superior", disse.
Mas a captação de alunos para as instituições de ensino superior
portuguesas deve ter em conta o mercado global. A ideia foi
partilhada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos
Silva. "Nós podemos ser a Austrália da Europa", referiu o
governante. As palavras do tutelar dos Negócios Estrangeiros
surgiram depois do próprio Ministro do Ensino Superior ter revelado
que os dados da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico) mostram que os estudantes em todo o
mundo vão triplicar, pelo que a aposta das universidades e
politécnicos deve passar por cursos ministrados em diferentes
línguas.
Também aos jornalistas, Fontainhas Fernandes, presidente do
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP),
considerou que a internacionalização das instituições não se resume
apenas a trazer alunos estrangeiros para as instituições. Na sua
opinião é necessário "modernizar", mas também rejuvenescer as
instituições. Este é um percurso que se faz, mas que é preciso ser
visto a longo prazo e não pode ser feito com medidas avulsas",
disse.
A Convenção pretende ser um forte contributo para a "Nova Agenda
Estratégica para o Ensino Superior em Portugal".