Crónica
Habemus Popeye
Aproveito
alguns momentos do fim-de-semana de S. João - demasiado comprido
para a crise que nos venderam - para escrever esta crónica e saltar
as fogueiras dos meus receios. Nas festas a coisa dói um pouco
menos. Escrevo enquanto vou. Como há dias dizia o Presidente da
Câmara Municipal de Évora, "devem ser um suplemento de alma da
população". É a importância de se chamar Ernesto e sabe-a toda…
Quando regressar sobre os destroços das sardinhas assadas e as
cinzas do rosmaninho ardido, as brasas vão ficar pretas e não
haverá santo que nos valha, sobretudo se tiver em conta que o actor
de serviço, mais papista que o papa, ensaia beber a água toda e
mais se houver, capaz do sapo se tornar boi, e rebentar de tão
inchado, que a estulta gula a tanto leva.
De mal a pior é a expressão popular
que melhor caracteriza a situação política que o nosso país vive
nos dias que correm. Os actores, travestidos por enquanto, não
tardarão a mostrar a sua verdadeira face, às ordens do mandante
estrangeiro, também ele mascarado de lobo bom, numa estória que é a
do capuchinho vermelho e onde tal figura, com excepção de preceitos
de novíssimas pedagogias, é na realidade quem quer sentar-se à mesa
para o banquete e, duma assentada, comer o capuchinho, a avó e o
caçador.
Por cá, esbracejam pinóquios e
gepetos, príncipes e princesas de contos antigos, garantindo já
casamentos eternos e por verdadeiro amor, ainda que à primeira
vista.
Os bonecos da primeira fila ensaiam
trejeitos de bons rapazes e, por enquanto, querem apenas ficar bem
na fotografia. Demagógicos ao ponto de recusarem férias; mentirosos
ao ponto de se assumirem como únicos salvadores da pátria;
gabarolas corajosos que de façanhas se abonam sem nunca saírem do
palco onde encenam a própria farsa.
Não obstante, vão dizendo que vêm
aí dias maus e sorriem como arlequins que não sabem sequer do que
se riem ou riem mesmo perante a desgraça, apatetados.
Certamente, guardarão as férias que
não têm para dar cabo delas a quem as merece. É uma estória
antiga…
Não tarda que se transformem todos
em pungentes calimeros, lamentando a insensatez do povo em não
aplaudir a mãos ambas ou pelo menos acompanhar os seus actos em
cena. Então, tornar-se-ão monstros horríveis ou, a exemplo de outro
cromo, que hoje brilha nas alturas, darão às vilas de Diogo, que a
sua vida não é esta nem os seus corpinhos não foram feitos para
cacete de fantoche.
E assim, de um só fôlego, contei a
estória toda. Toda a história conhecida e quem conta um conto…
A vida política portuguesa está
cheia de figuras de ficção. Umas têm nome próprio, outras são
apenas bonecos. A prova disso, é que o defunto primeiro-ministro
ganhou o epíteto de Pinóquio, justamente pela sua cadência fácil à
efabulação.
Sucedeu-lhe o putativo salvador da
pátria, destemido e musculado, senhor capaz de lutar até ao fim,
não por uma Olívia Palitos qualquer, mas pela pátria e pelos
cidadãos do nobre povo que somos. É o Popeye. Só não sabemos se
haverá espinafres que cheguem.