Opinião

Crónica
Habemus Popeye

João de Sousa TeixeiraAproveito alguns momentos do fim-de-semana de S. João - demasiado comprido para a crise que nos venderam - para escrever esta crónica e saltar as fogueiras dos meus receios. Nas festas a coisa dói um pouco menos. Escrevo enquanto vou. Como há dias dizia o Presidente da Câmara Municipal de Évora, "devem ser um suplemento de alma da população". É a importância de se chamar Ernesto e sabe-a toda… Quando regressar sobre os destroços das sardinhas assadas e as cinzas do rosmaninho ardido, as brasas vão ficar pretas e não haverá santo que nos valha, sobretudo se tiver em conta que o actor de serviço, mais papista que o papa, ensaia beber a água toda e mais se houver, capaz do sapo se tornar boi, e rebentar de tão inchado, que a estulta gula a tanto leva.

De mal a pior é a expressão popular que melhor caracteriza a situação política que o nosso país vive nos dias que correm. Os actores, travestidos por enquanto, não tardarão a mostrar a sua verdadeira face, às ordens do mandante estrangeiro, também ele mascarado de lobo bom, numa estória que é a do capuchinho vermelho e onde tal figura, com excepção de preceitos de novíssimas pedagogias, é na realidade quem quer sentar-se à mesa para o banquete e, duma assentada, comer o capuchinho, a avó e o caçador.

Por cá, esbracejam pinóquios e gepetos, príncipes e princesas de contos antigos, garantindo já casamentos eternos e por verdadeiro amor, ainda que à primeira vista.

Os bonecos da primeira fila ensaiam trejeitos de bons rapazes e, por enquanto, querem apenas ficar bem na fotografia. Demagógicos ao ponto de recusarem férias; mentirosos ao ponto de se assumirem como únicos salvadores da pátria; gabarolas corajosos que de façanhas se abonam sem nunca saírem do palco onde encenam a própria farsa.

Não obstante, vão dizendo que vêm aí dias maus e sorriem como arlequins que não sabem sequer do que se riem ou riem mesmo perante a desgraça, apatetados.

Certamente, guardarão as férias que não têm para dar cabo delas a quem as merece. É uma estória antiga…

Não tarda que se transformem todos em pungentes calimeros, lamentando a insensatez do povo em não aplaudir a mãos ambas ou pelo menos acompanhar os seus actos em cena. Então, tornar-se-ão monstros horríveis ou, a exemplo de outro cromo, que hoje brilha nas alturas, darão às vilas de Diogo, que a sua vida não é esta nem os seus corpinhos não foram feitos para cacete de fantoche.

E assim, de um só fôlego, contei a estória toda. Toda a história conhecida e quem conta um conto…

A vida política portuguesa está cheia de figuras de ficção. Umas têm nome próprio, outras são apenas bonecos. A prova disso, é que o defunto primeiro-ministro ganhou o epíteto de Pinóquio, justamente pela sua cadência fácil à efabulação.

Sucedeu-lhe o putativo salvador da pátria, destemido e musculado, senhor capaz de lutar até ao fim, não por uma Olívia Palitos qualquer, mas pela pátria e pelos cidadãos do nobre povo que somos. É o Popeye. Só não sabemos se haverá espinafres que cheguem.

 
 
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