Primeira Coluna
Cortes e cortes, Lda
As instituições de ensino superior
portuguesas deverão ser confrontadas com mais um corte no seu
orçamento para o próximo ano, de 2,3 por cento. Uma redução que se
vem juntar a todas as outras que foram sendo feitas nos últimos
anos às universidades e politécnicos do país, e que criará
dificuldades acrescidas às instituições, colocando algumas à beira
do desespero.
Neste momento há mesmo instituições
que já tiveram que se socorrer de empréstimos bancários para fazer
a face a compromissos, com tudo o que isso acarreta. A crise
económica e a falta de dinheiro das famílias e das empresas
agravará ainda mais esses cortes orçamentais.
A lógica, acertada, de que as
instituições de ensino superior público devem diversificar a sua
fonte de receita torna-se difícil de implementar. Primeiro porque a
comunidade, sobretudo as empresas e entidades, a quem politécnicos
e universidades poderiam prestar serviços também estão em crise.
Sectores como a construção civil, agricultura, têxteis ou saúde já
viveram melhores tempos. Segundo porque as famílias começam a ter
dificuldades em cumprir o pagamento da educação aos seus filhos. Em
todas as instituições são muitos os alunos que ao longo do ano
passam por dificuldades e ficam com as propinas em atraso.
A conjuntura obrigará a que as
instituições, já depois da gordura cortada, passem a fazer
ajustamentos na massa muscular. As universidades e politécnicos
saudáveis, sem dívidas e com gestões rigorosas provavelmente
manterão a sua capacidade instalada, através de reajustamentos nas
suas unidades. Os outros vão ter muitas dificuldades em assumir os
compromissos mais básicos de uma instituição de ensino.
E é nestas alturas de crise que
volta ao debate a questão das fusões das instituições. Uma questão
perigosa, na minha perspectiva, e que não deve ser misturada com a
crise económica do país. É sabido, que em tempos difíceis qualquer
medida que venha a ser tomada pela tutela com o anúncio que vai
poupar mais dinheiro ao Estado é bem vista pela população. Mas
atenção: importa reflectir. Por exemplo 53% do total das vagas
disponibilizadas para os candidatos ao ensino superior encontram-se
em apenas três cidades (Lisboa, Porto e Coimbra). Só cerca de 10%
das vagas estão no interior do país.
Se tivermos em conta os custos que
o ensino superior tem para o país, verifica-se que a percentagem
também não andará muito longe dos 10%. Regra geral, quando se fala
em cortar ou fundir, olha-se normalmente para esses 10%, os quais
são quase insignificantes no todo nacional, mas constituem a força
motriz de desenvolvimento de regiões deprimidas, as quais sem o
ensino superior, a saúde e a justiça, se tornarão numa ilha de que
o país não se deve orgulhar. Convém, nesta matéria não esquecer que
há litoral e litoral, e que há instituições, sobretudo
politécnicos, fora dos grandes centros urbanos, que são referência
nacional e que pela sua capacidade atingiram um patamar que importa
preservar e potenciar.
Já a partilha de recursos e a
promoção de parcerias entre instituições de ensino superior deve
ser promovida, ao nível da racionalidade dos recursos humanos e
materiais existentes, da distribuição da oferta formativa, da
investigação, da promoção de candidaturas conjuntas a diferentes
fontes de financiamento, ou da mobilidade, por exemplo. A
Politécnica (que reúne os institutos politécnicos do Centro e que é
presidida pelo presidente do Instituto Politécnico de Leiria, Nuno
Mangas) está a ser um bom exemplo de como será possível
trabalhar-se em rede, partilhando recursos e meios.
Acima de tudo tem que haver
reflexão, serenidade e objectividade na promoção de medidas que
permitam às instituições resistir à crise. Porque como diz o velho
ditado, o macaco tanto se aprumou que até o dito cortou...