primeira coluna
Notas: uma questão de justiça
A justiça com
que se atribui uma classificação, com que se passa ou chumba um
aluno, com que se sobe ou não uma nota em conselho de turma, é uma
matéria que exige reflexão e que não deve ser escudada na célebre
frase que é assim que o governo (este ou outro qualquer) quer. A
diminuição da retenção (chumbos) no ensino é uma meta que todos
devemos perseguir, mas isso não deve ser sinónimo de facilidade e
de prémio aos medíocres, aos mal comportados, ou àqueles que pelas
suas limitações não conseguem fazer mais.
Vem este tema a propósito do final do ano letivo e do que muitos
dos bons alunos dizem ser um ato de injustiça para com eles
próprios. Regra geral, a discussão sobre a subida de uma nota para
um aluno que tem três negativas, com o objetivo de permitir a sua
transição para o ano letivo seguinte, é mais frequente do que a
subida de nota de um aluno que está, por exemplo, entre o 4 e o 5,
mas que com mais esse 5 poderia entrar no quadro de mérito da
escola. Depois há ainda a outra face da moeda, em que entram os
alunos que não querem saber e apenas prejudicam quem quer, mas que
por ironia muitas vezes acabam, imerecidamente (pelo seu percurso
académico e pelo seu comportamento) por ser premiados com uma
positiva mínima, a mesma que muitos dos seus colegas que se
esforçaram também obtiveram, levando ao gozo dos primeiros perante
os outros, e à angústia dos segundos perante eles próprios.
A questão sobre a justiça desta medida leva a que os bons alunos
olhem para a escola com alguma revolta. Orgulhosos do seu percurso
académico, não deixam de afirmar que a escola não pode ser uma
escola de coitadinhos e de proteção dos mesmos. Não pode ser uma
escola em que aqueles que constantemente perturbam a sala de aula,
nas mais variadas disciplinas, que não obtém resultados positivos
nas provas, que apresentam comportamentos desviantes, sejam
«beneficiados» numa lógica de pontapé para a frente. E ao invés, os
que são alunos cumpridores quer social, quer academicamente, não
sejam tidos nem achados nas ditas reuniões de notas. É como se, por
esse simples e importante facto, de serem cumpridores e de muitas
vezes até representarem a escola em competições nacionais, não
houvesse lugar à discussão da sua situação final, com o argumento
de que o aluno já transitou de ano.
É bem verdade que cada vez mais os critérios de avaliação estão
bem definidos pelas escolas e agrupamentos, que até existe a
componente do bom comportamento e atitudes (com um peso relevante),
mas a questão no conselho de turma que atribui as notas aos alunos
deveria merecer reflexão. Todos desejamos que a escola seja justa.
Justa para os alunos, para aqueles que com esforço cumprem os
objetivos, mas também para aqueles que não querendo saber do que se
passa numa sala de aula, apenas a prejudicam. A estes últimos, em
vez de lhes passar uma carta verde de transição, deveriam criar-se
condições reais e objetivas para que essa aprovação seja verdadeira
e não virtual como acontece em muitos casos. Mas acima de tudo, o
bom senso que é aplicado numas situações deve ser aplicado em
todas. Porque o pior que pode acontecer a um aluno é ser
injustiçado perante os pares e pelos seus professores.