1ª Coluna

Primeira coluna
As crises ganham-se pelo saber
João CarregaA qualificação dos portugueses é o maior trunfo que o país pode ter para ultrapassar momentos difíceis como o que estamos a viver, devido à pandemia do novo coronavírus. Só com conhecimento, inovação, investigação e ciência é possível ultrapassar realidades que mais parecem ter saído de um argumento de ficção científica, como acontece com a Covid-19 e tudo aquilo que ela representa nas suas diferentes dimensões.
É na ciência e na investigação que o mundo tem os olhos postos na esperança de que uma cura ou uma vacina, ou ambos, possam ser anunciados. É um dos maiores desafios de sempre que a humanidade está a pedir à comunidade científica. Este é o momento em que todos conseguimos perceber o quanto a qualificação das pessoas e a sua formação são importantes. É também o momento em que a sociedade percebe a importância da escola nos seus diferentes níveis de ensino.
No pré-escolar, no básico, secundário e profissional assistimos a um esforço nacional no sentido de minimizar a falta de aulas presenciais. Houve excessos e ausências, mas na avaliação final teremos que dar nota positiva a todos: aos professores, aos alunos, às famílias. Mas acima de tudo ao país que não desistiu nem se resignou em encerrar apenas as escolas. Que criou condições, as possíveis, para que os alunos do ensino secundário regressassem às aulas presenciais nas disciplinas para as quais iriam fazer exames de acesso ao ensino superior.
Importa agora criar condições para que seja possível o ensino presencial nas escolas a partir de setembro. Em circunstância alguma devemos fazer aquilo que na gíria jornalística se diz de show off, ou seja lançar foguetes sobre uma mão cheia de nada (os políticos são muito eficazes nessa comunicação).
É preciso garantir distanciamento entre os alunos nas salas de aula e entre estes e os professores? Sim. É preciso dotar as escolas de sistemas de higienização e limpeza adequados? Sim. São necessários circuitos de entrada e de saída? Sim. É preciso desdobrar as turmas? Sim! numa sala preparada para 25 alunos que, anualmente, a escola já ocupa com 30 alunos, não é possível ter esses mesmos estudantes com 1,5 ou 2 metros de distância entre si. Não cabem lá. São precisos mais professores e mais auxiliares? Sim. E não basta dizer que se vai fazer isto ou aquilo, não basta um professor por escola. A resposta tem que ser musculada e rápida.
No ensino superior, universidades e politécnicos mostraram-se robustos e eficazes na resposta, não só com as aulas a distância, no apoio aos estudantes e à sociedade, na produção de equipamentos, na investigação com a criação de rede de testes à Covid-19, no regresso às aulas presenciais. Foram ímpares e mostraram a todos quanto são importantes. Quanto a rede de ensino superior portuguesa é importante. Olha-se agora para o próximo ano letivo, com o desejo de que seja possível regressar com aulas presenciais. Será, certamente, possível nalgumas unidades curriculares, não será noutras em que o elevado número de alunos em sala de aula não é adequado.
O ensino misto poderá ser a melhor solução. Não tenho dúvidas que todas as universidades e politécnicos têm diferentes cenários para implementar tendo em conta a evolução da pandemia. Todos estão determinados em fazer funcionar as academias e os seus centros de investigação, em qualificar não só os jovens que entram e já estão no ensino superior, mas também aqueles, que já diplomados, querem requalificar-se. Todas as instituições de ensino superior estão empenhadas num esforço que deve ser mais coletivo que individual. Todas têm a consciência que as crises se ganham pelo saber, mas mais importante que isso, que o futuro se conquista com o conhecimento. E é nisso que todos devem estar empenhados, a começar pela sociedade civil que muitas olha para estas instituições como espaços fechados em que apenas se formam doutores e engenheiros. Se só assim fosse, o que seria do país e do mundo…



 
 
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