Quatro rodas
Do “safety car” à “troika”
Uma das "personagens" mais desejadas e
ao mesmo tempo mais odiadas pelos pilotos nos circuitos de
velocidade é o conhecido "pace car" ou também apelidado de "safety
car".
Para compreender a função deste
veículo nada melhor que socorrermo-nos da definição que consta no
ponto 2.9 do Código Desportivo Internacional da Federação
Internacional do Automóvel, que refere:
O "safety car" poderá entrar em
atividade, por decisão do Diretor de Prova, para:
-
Neutralizar a corrida, se os
concorrentes ou oficiais se encontrarem em perigo físico imediato,
em circunstâncias, que ainda assim, não justifiquem a paragem da
corrida;
-
Dar a partida da corrida em
circunstâncias excecionais (por ex.: mau tempo);
-
Orientar uma partida
lançada;
-
Retomar uma corrida
interrompida.
Daquilo que frequentemente nos é
dado ver, o "safety car" entra para a pista quando há acidentes ou
problemas de segurança, que dada a sua dimensão não justificam a
paragem da corrida. Nestes casos, quando da sua entrada, o "safety
car" deve posicionar-se logo à frente do veículo que comanda a
corrida, marcando a partir daí um andamento lento, que todos os
veículos devem adotar, até que fique resolvida a situação que
originou a sua entrada.
Claro que esta situação agrada aos
que vão mais atrasados, pois permite um reagrupamento em pelotão
compacto, mas não agrada aos comandantes da corrida, que veem assim
desvanecer a vantagem que foram conquistando.
Nas corridas americanas, onde a
entrada do "safety car" é muito frequente, as equipas têm
verdadeiros algoritmos sobre procedimentos a adotar, quando entra o
"safety car", de modo a verificar se é vantajoso que nesse período
os competidores entrem na box para reabastecer ou trocar de
pneus.
Na fórmula 1 nem sempre existiu
este instrumento de regulação da corrida, e a sua introdução, foi
mesmo patética, muito longe dos procedimentos científicos, que
vemos nas corridas de hoje.
A introdução do "safety car" foi
decidida em 1973, depois dos acidentes de Clay Regazzoni em
Kayalami e Roger Williamson en Zandvoort, ambos muito mal atendidos
pelos serviços de emergência dos circuitos, culminando o último com
a morte do piloto, devido à falta de assistência.
Foi então que o ainda patrão da
formula1, Bernie Ecclestone, decidiu comprar um Porsche 914 para
esta função. Em setembro desse mesmo ano, na volta 33 do Grande
Premio do Canadá, disputada no circuito de Mosport Park, aconteceu
o que alguns apelidam de inesperada e inqualificável estreia deste
veículo.
O asfalto tinha secado depois de
uma chuva persistente nas primeiras voltas, começando então os
pilotos a parar nas boxes, situação que coincidiu com o acidente
entre Jody Scheckter e Françoise Cevert. Foi nessa altura que o
"safety car" entrou em pista usando duas bandeiras amarelas presas
na traseira. O carro era conduzido por Eppie Wietzes, piloto
canadense acompanhado de Peter Macintosh da FOCA. Sem qualquer
experiência nestas situações por parte dos seus ocupantes e por
incapacidade do diretor de prova, não conseguiram colocar-se à
frente do comandante da corrida, situação que piorou com as várias
idas à box dos pilotos para trocar os pneus de chuva por seco. A
confusão foi tal que a vitória foi atribuída a quem não devia. Reza
a história que quem deveria ter vencido era o britânico Jackie
Olivier, mas quem levou o troféu foi o norte-americano Peter
Revson.
Esta má experiência levou a novo
interregno na utilização do "safety car" que reapareceu em
1993.
Desde 1996, a fabricante alemã Mercedes
tornou-se oficialmente responsável por fornecer este veículo.
Não posso terminar este texto, sem
referir as semelhanças que encontro entre a função do "safety car",
com aquilo que nos está a fazer a chamada "troika" . Tal como numa
pista, parece que o nosso país teve um acidente, entrando no nosso
percurso uma "troika" para abrandar o nosso andamento (leia-se
economia), até que o acidente esteja resolvido. Espero, no entanto,
que a "troika" não cause a confusão, que o "safety car" originou na
sua estreia. Se as semelhanças forem tidas em conta, talvez nos
safemos, pois desde que os alemães (leia-se a Mercedes), ficaram
responsáveis pelo "safety car", tudo tem corrido pelo melhor.