Primeira Coluna
Táctica da vitimização
A polémica em torno da greve dos
professores fez com que, mais uma vez, a escola pública fosse
utilizada para fins partidários, com a corda da razoabilidade a ser
esticada, sobretudo por quem tem responsabilidades
governativas.
Não sou, nem nunca fui apologista
das greves e nunca participei em nenhuma. Mas respeito-as, tal como
respeito a democracia, e o direito daqueles que pretendem por,
neste caso, lutar pelos seus postos de trabalho. O que está em
causa não são aumentos de ordenado, nem de subsídios. É importante
que se perceba isso. Como também é importante que se perceba que
todas estas questões vieram para a mesa das negociações no final do
ano letivo, não restando aos professores outra alternativa que não
fosse lutarem pelo seu emprego, pelo seu posto de trabalho nesta
altura do campeonato. É que terminado este ano letivo, há muitos
docentes (e como se diz na gíria futebolística) que já não calçam
mais.
A táctica da vitimização não foi a
mais adequada. Havia alternativas. Há sempre alternativas. Só a
morte não tem solução. Mas quem tem o poder de decidir, não o fez,
deixando arrastar a situação ao extremo, argumentando que os
docentes foram insensíveis, que estão a prejudicar os jovens
portugueses na questão dos exames. Bastava alterar-se a data das
provas. Simples.
É triste que para se obterem
dividendos políticos se tenha adoptado essa estratégia que mais não
faz do que baralhar a opinião pública. A escola pública fervilha de
ansiedade e de receios. Uma ansiedade que consome toda a comunidade
educativa. Receios que teimam em manter-se relativamente ao futuro.
Não só dos professores, dos funcionários, mas, e sobretudo, dos
alunos.
A história da democracia portuguesa
leva já muitas maratonas negociais entre o Ministério da Educação e
os sindicatos/associações de professores. Os problemas não foram
sempre os mesmos. Umas vezes houve bom senso de um lado, noutras
houve abertura do outro. Mas também se registaram situações em que
não houve entendimento possível. A escola pública vive um momento
crucial e decisivo. Espera-se que haja capacidade para o
ultrapassar, pois esta é o pilar de desenvolvimento do país e tenho
dúvidas que resista a muitos mais ataques…