Fado é Património Mundial e Imaterial da Cultura
Dulce Pontes: A fusão impossível entre Barbra Streisand e Amália Rodrigues!
Dulce, quando criança, aprendeu a tocar piano,
estudando música no Conservatório de Lisboa. Estudou Dança
Contemporânea entre os 7 e os 17 anos de idade. Em 1988, no
decorrer de um Casting onde foi seleccionada entre várias
candidatas, inicia a sua actividade profissional na Comédia Musical
"Enfim sós" prosseguindo com "Quem tramou o Comendador", no Teatro
Maria Matos, como actriz, cantora e bailarina. Em 1990 é convidada
a integrar o espectáculo "Licença para jogar" no Casino Estoril.
Torna-se popular junto do público português através do programa de
televisão "Regresso ao passado". Em 1991 vence o Festival RTP da
Canção tendo ido representar Portugal no Festival Eurovisão da
Canção, onde cantou "Lusitana Paixão". Alcança o oitavo lugar entre
22 países participantes, uma das melhores prestações de Portugal no
Eurofestival.
Em 1992 Dulce gravou o seu primeiro álbum, chamado
Lusitana. Continha principalmente canções pop, que
certamente eram ainda muito abaixo das ambições, capacidades e
imaginação artística da Dulce.
Todavia, já
naquela altura sabia-se que Dulce era uma excelente fadista. As
primeiras provas disso apareceram um ano depois, em 1993, quando
foi lançado o seu segundo disco, chamado Lágrimas. Dulce
abordou o fado duma forma muito pouco ortodoxa. Misturava fado
tradicional com ritmos e instrumentos modernos, procurando novas
formas de expressão musical. Enriquecia os ritmos ibéricos com sons
e motivos inspirados pela tradição da música árabe e balcânica,
principalmente búlgara. A sua versão do clássico "Povo Que Lavas No
Rio" era tudo menos clássica. Mas Lágrimas tinha também
faixas bem tradicionais, fados clássicos gravados ao vivo em
estúdio e cantados em rigor com todas as exigências do fado
ortodoxo. Foram estes os temas ("Lágrima" e "Estranha Forma de
Vida", ambos escritos por Amália Rodrigues) que lhe ganharam a
denominação da "sucessora e herdeira de Amália Rodrigues". Mas o
maior êxito do Lágrimas foi um outro clássico, "A Canção
do Mar", que, no Brasil, foi usado como tema de abertura de uma
adaptação do romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio
Dinis, em telenovela. Interpretado por Dulce, este tema tornou-se
um dos maiores êxitos da canção portuguesa de sempre
(paradoxalmente nesta versão da "Canção do Mar" ouvem-se muito bem
influências árabes), sendo provavelmente a canção portuguesa mais
conhecida fora de Portugal, interpretada até hoje pelo mundo fora
por vários artistas (mais recentemente pela Sarah Brightman, que
fez da "Canção do Mar" o principal motivo musical do seu disco
intitulado Harem). "A Canção do Mar" interpretada pela
Dulce faz também parte da banda sonora do filme americano "As Duas
Faces de um Crime" (título inglês - "Primal Fear"), no qual Richard
Gere contracena com Edward Norton.
Em 1995 Dulce
lançou o álbum Brisa do Coração, que é um álbum gravado ao
vivo durante um concerto que teve lugar no Porto a 6 de Maio de
1995. O disco seguinte, Caminhos, foi lançado em 1996.
Caminhos continha temas clássicos como "Fado Português",
"Gaivota" e "Mãe Preta", interpretados com grande proeza, bem como
composições originais. A crítica considerou o disco mais maduro e
melhor que Lágrimas. Os arranjos eram mais harmoniosos e
menos radicais. Este disco consolidou a posição da Dulce Pontes
como uma grande fadista, mas também deu bem a entender que nunca ia
ser apenas uma fadista. Dulce estava interessada em ser uma artista
versátil, heterogénea, que não hesita em ultrapassar as fronteiras
de vários géneros musicais.
O disco O Primeiro Canto foi lançado em 1999. A crítica
considerou-o o melhor, e também o mais ambicioso e difícil na
carreira da Dulce. Neste disco Dulce confirma que está seriamente
interessada em ser uma artista da World Music. Em O Primeiro
Canto Dulce introduz elementos do jazz (o álbum contou com a
colaboração da Maria João) e opta pela sonoridade acústica. Dá nova
vida a antigas tradições musicais da Península Ibérica (canta não
só em português, mas também em galego e mirandês), redescobre
melodias e instrumentos há muito
esquecidos.
Foi lançada uma
edição especial deste disco com três faixas adicionais: uma versão
em espanhol de "Pátio dos Amores", o célebre tango do inesquecível
Astor Piazzolla "Balada para un Loco" e uma música composta por
Dulce, "A minha barquinha".
Em 2002 foi
lançado o disco The Best Of (O melhor de ... Dulce
Pontes). 2003 Trouxe uma grande novidade e reviravolta na vida
artística da Dulce Pontes. Foi lançado o Focus, que é
fruto da colaboração da Dulce com Maestro Ennio Morricone. Dulce
cantou alguns dos clássicos do compositor, mas o disco contém
também composições originais, compostas pelo Maestro especialmente
para a voz da Dulce. O principal objectivo deste disco foi
consagrar uma grande Voz. Gravado em Itália e destinado tanto ao
público português como internacional, o Focus contém temas
cantados em português, inglês, espanhol e
italiano.
O disco O
Coração Tem Três Portas foi editado em 2006. Produzido na
íntegra por Dulce é composto por 2 CD's e um DVD. 145mn de música
onde a Verdade o Amor e o Sonho dão as mãos ao que Dulce considera
ser o âmago da música Portuguesa: O Fado, o Folclore/Música Popular
Portuguesa e a Música de inspiração medieval galécio-portuguesa
versus Fado de Coimbra. Totalmente acústico, foi gravado ao vivo
por 5 Continentes, na Igreja de Santa Maria em Óbidos e no Convento
de Cristo em Tomar. O DVD inclui um concerto gravado em Istambul e
o making of das gravações efectuadas nos
monumentos.
Dulce Pontes em
parceria com José Carreras, protagonizou a abertura oficial da
eleição das Novas 7 Maravilhas do Mundo com o tema "One World"
(Todos somos um) de sua autoria, para a maior emissão televisiva da
história.
Hoje, Dulce
Pontes continua a ser uma das maiores vozes portuguesas que tem
difundido por todo o mundo a nossa cultura/identidade. Actualmente
uma artista mais radicada no estrangeiro continua a encantar
plateias completamente lotadas com aquela música no coração que lhe
é tão característica. Não esquecendo nunca as suas origens
transporta em si todo o destino do povo luso traduzindo-o assim sob
a forma de um Fado que lhe é tão próprio e
inato.
Dulce Pontes pode
ser considerada independentemente de uma cidadão do mundo, uma
cantora universal de todos os géneros
musicais.
Rui Manuel Ferreira
Texto e imagem extraídos do livro Fadistas do Séc. XXI
J. Vasco