Politécnico de Setúbal
Souta lanca novo livro
Integrado no 9º Encontro com Professores Escritores,
Luís Souta, docente da ESE de Setúbal, lançou, no espaço desse
Instituto Politécnico, a sua nova obra, Fa(r)do Escolar, numa
cuidada edição das Edições ExLibris.
A apresentação do livro esteve a
cargo de João Ruivo (que também o prefaciou) e de Agostinho Reis
Monteiro, que relevaram o trabalho académico de Luís Souta e a
importância da publicação no domínio das Ciências da
Educação.
Luís Souta, migrante geográfico
(natural de Belmonte) e académico, professor e investigador de
primeira água, é homem da geração do Maio de 68, com tudo o que
isso representa. No prefácio, João Ruivo realça que os seus textos,
plasmados neste livro, pretensamente evocativos da memória da sua
infância e juventude durante a ditadura de Salazar e Caetano, são
muito mais do que isso. São textos com um profundo contexto e
sentido ideológico, de crítica a um país e a uma escola elitistas,
onde os retratos da pobreza, da seletividade, do autoritarismo
arbitrário e do medo afloram em cada uma das suas narrativas,
sempre com uma linguagem desprendida, simples, acessível, e
fortemente motivadora da leitura e do leitor.
Há quem talvez lhes chamasse
relatos de "Histórias de Vida", que os investigadores da sociologia
e da história da educação por vezes privilegiam através da
utilização do "método biográfico". E, aqui, nesse restrito sentido
académico, o livro de Luís Souta trespassa as portas do
memorialismo e apresenta-se-nos como uma obra difícil de contornar
pelos investigadores da educação.
Ali está retratada toda a
sociedade e a escola de um tempo em que as liberdades e a cidadania
pouco valiam, onde o peso de uma guerra colonial esmagava as jovens
gerações, onde o currículo formal transmitia a ideologia dominante
e o poder discricionário das pequenas autoridades e do Estado, onde
a escola perpetuava as desigualdades sociais e onde o grupo de
pares e o currículo oculto mantinham um papel determinante na
formação do carácter dos jovens que haveriam de ajudar a fazer uma
revolução.
Luís Souta dirige-se, claramente,
à escola pública, onde trabalha a maioria dos nossos professores. A
escola em que também é preciso que os docentes tenham tempo para
ensinar e os alunos encontrem momentos para aprender.
Por tudo isso, as páginas que o
autor nos revela na obra Fa(r)do Escolar, enquanto experiência
única, porque pessoal e intransmissível, são também uma enorme
lição de esperança e de educação para o futuro: porque relevam a
capacidade e a possibilidade de sobrevivência e de resistência às
adversidades que muitas vezes a vida coloca no caminho dos
docentes, para que as vejam como um desafio, a superar.