Primeira Coluna
O tutor, a dualidade e o número de alunos por turma
O Ministério da Educação acaba de anunciar que os
alunos a partir dos 12 anos de idade, com duas ou mais retenções,
vão passar a ser acompanhados por um tutor. A medida, divulgada
pelo próprio ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, deverá
entrar em funcionamento no próximo ano letivo. No entender da
tutela o objetivo é que esses jovens possam ter a segunda ajuda
"que necessitam e a integração que merecem".
Mas o aparecimento da figura de
tutor vai mais além do que a própria tutoria pressupõe. Este modelo
pretende, segundo o Ministério, ser alternativa "ao do Ensino
Vocacional, que, promovia uma dualização e discriminação precoce,
fazendo com que a Escola desistisse de algumas crianças muito
cedo".
Nesta matéria, que não é fácil,
Tiago Brandão Rodrigues revela que "Portugal tem, neste momento,
alunos que, aos 12 anos e como aparente punição do seu insucesso
escolar, não foram expulsos porque seria ilegal. Mas foram
arredados do sistema, arrumando-os desde essa idade num ensino do
qual não era esperado que voltassem".
A filosofia da tutela é a de que o
chamado ensino vocacional não ajudava os alunos a superar as suas
dificuldades de aprendizagem, e que pretendia "remover dos
indicadores estes alunos e as dificuldades que carregam. Nem era de
facto ensino, e muito menos respondia a qualquer vocação,
impossível aliás de diagnosticar em crianças com esta idade",
sustentou o ministro.
Não será fácil a implementação deste
modelo. Quer pela escola e pelo modo como está apetrechada em
termos humanos, quer pelos próprios alunos e famílias. Mas também
não me parece correto que se desista de crianças e jovens. Cada
caso é um caso. E a tutoria poderá ser uma solução, embora
constitua uma tarefa árdua por parte do professor tutor, que
segundo o ministério terá a si associados grupos de 10 alunos, os
quais acompanhará quatro horas por semana. "Um professor que não
será um mero explicador, mas sim um adulto de referência com quem
estas crianças poderão contar para ultrapassar necessidades
académicas mas também sociais e familiares", justifica a
tutela.
Concordo que as crianças e jovens
nessa situação devam ter a possibilidade de poderem construir o seu
destino em vez seguirem o destino que lhes foi traçado. Resta saber
se esta oportunidade é aproveitada pelos jovens alunos, que assim
poderão optar livremente sobre o percurso que melhor lhes sirva,
seja o regular ou o profissional. Porque muito do que a escola
poder fazer por eles também deve partir deles, e das suas
famílias.
Os professores tutores também não
terão tarefa fácil. Nos últimos anos, aos professores além da
docência impôs-se-lhes um conjunto enorme de burocracias, de
preenchimento de papéis e documentos. Se as tutorias forem também
isso, com burocracia e muitos quilogramas de papel associados,
então o sucesso da medida será mais difícil.
Também a redução do número de
alunos por turma poderia ser um caminho a seguir, não só para a
melhoria escolas dessas crianças e jovens, mas de todos. 30 alunos
dentro de uma sala de aula convenhamos que é muito. Mas essa é
outra questão de uma medida que foi tomada no passado e que agora
ninguém quer mexer pelos custos económicos associados. Também aqui
deveria haver coragem política para o fazer, pois certamente que
essa redução traria mais sucesso escolar para o país, mas sobretudo
para os alunos.