primeira coluna
Para que lado sopra o vento
Portugal está a
participar ativamente na elaboração do Novo Atlas Europeu do Vento,
num projeto de investigação internacional que envolve outros países
como a Dinamarca, Bélgica, Suécia, Espanha, Alemanha, Letónia,
Turquia, Estados Unidos da América e Portugal.
Serra do Perdigão e das Talhadas, no concelho de Vila Velha de
Ródão, acolhe alguns dos 300 investigadores que na Europa estudam
os ventos. Manuel Heitor, Ministro da Ciência e do Ensino Superior,
já classificou este projeto "único, pelas suas várias dimensões". É
este estudo que permitirá criar e melhorar modelos de circulação
dos ventos, úteis para fazer face a diferentes situações como o
combate a incêndios florestais, a produção de energia eólica ou
para os serviços de aviação. Em 2019 deverão conhecer-se os
resultados e o Atlas Europeu do Vento será conhecido.
Este é um bom exemplo de como a investigação académica pode
envolver a comunidade, as autarquias (o Município de Vila Velha de
Ródão disponibilizou os meios logísticos à sua concretização), os
proprietários dos terrenos que os cederam para o estudo, e a
indústria nas suas diferentes formas. A transferência recíproca de
conhecimento determina o sucesso ou o insucesso de um projeto com
esta envergadura. Por isso, a população também foi ouvida e
esclarecida numa reunião com os cientistas que ali
investigam.
Manuel Heitor considera aquela serra portuguesa como "um
verdadeiro laboratório vivo". Um laboratório onde a componente
teórica se aplica à prática, à análise de resultados e dos dados
que ali são recolhidos, cruzando-os com a história. E é assim que
também se faz ciência, numa clara comunhão entre as instituições
académicas e a comunidade, desmistificando a ideia de que essa
coisa da investigação é lá para os cientistas.
Mais do que saber para que lado sopra o vento, importa saber qual
o seu modelo de comportamento no tempo, com a certeza de que o
vento soprará sempre com muita ou pouca força, para Norte ou para
Sul, para Este ou Oeste. Mas soprará. E as instituições de ensino e
de investigação devem ter a abertura de se juntar à comunidade, de
a envolver. E a comunidade deve também ter a capacidade de perceber
a sua importância. Felizmente, os exemplos desta ligação começam a
aparecer mais frequentemente. Não só no vento, mas também nas
pedras, como o comprova Idanha-a-Velha, uma aldeia histórica que
foi uma das cidades do império romano mais importantes, e que está
a juntar num mesmo projeto de investigação em arqueologia a
Universidade de Coimbra e a Universidade Nova de Lisboa, numa
iniciativa que tem como madrinha a cantora brasileira Adriana
Calcanhoto. Poderia ainda falar de outros projetos, na área dos
moldes, da comunicação, da neurociência que estão a envolver as
comunidades e as empresas. Exemplos que demonstram que afinal a
ciência é divertida, e mais divertida se torna quando os ventos, os
ventos da investigação e da colaboração, sopram de feição…